2.ª
Tessalonicenses
A
autenticidade da SEGUNDA CARTA AOS TESSALONICENSES é problemática. Por um lado,
registam-se numerosas semelhanças literárias entre 1 Ts e 2 TS; há versículos
que quase se repetem: 1,2-3 e 1,3; 2,12 e 1,5; 3,13 e 1,7; 3,11-13 e 2,16-17;
2,9 e 3,8; 5,23 e 3,16; 5,28 e 3,18. Por outro lado, o tom da 2 TS é menos
apaixonado, mais solene e, sobre a vinda do Senhor (2,1-12), a perspectiva
parece oposta: em 1 Ts seria considerada iminente, enquanto a 2 TS se concentra
nos sinais que devem precedê-la. Como estes ainda não aconteceram, o Dia do
Senhor não estaria próximo. Estas diferenças, consideradas fundamentais por
alguns, são por outros explicadas como complementares. Tratar-se-ia de dois
aspectos coexistentes e não opostos na apocalíptica judaica.
ÉPOCA
E AUTOR
Para
os defensores da sua autenticidade paulina, a 2 TS teria sido escrita pouco
tempo depois da 1 Ts e propor-se-ia corrigir interpretações erradas que a 1 Ts
teria suscitado na comunidade. Para os que a consideram não autêntica, 2 TS
seria bem posterior (anos 70) e teria um autor desconhecido, o qual,
servindo-se da 1 Ts, procuraria afrontar e corrigir o clima de euforia e de
psicose apocalíptica, provocado talvez pela guerra judaico-romana de 66-70.
A
questão da autenticidade não retira, porém, importância a este escrito, que é
uma advertência à Igreja de todos os tempos contra a tentação de aguardar o
futuro sem se empenhar em construí-lo no presente.
DIVISÃO
E CONTEÚDO
A
Carta tem as partes seguintes:
Saudação
inicial: 1,1-2;
I.
Deus, conforto na tribulação: 1,3-12;
II.
A vinda do Senhor: 2,1-3,5;
III.
Vida desordenada e inactiva: 3,6-15;
Saudação
final: 3,16-18.
Amigos de Deus
210
O
Senhor não nos criou para construirmos aqui uma Cidade definitiva, porque este
mundo é o caminho para o outro, que é morada sem pesar.
No
entanto, nós, os filhos de Deus, não devemos desligar-nos das actividades
terrenas em que Deus nos coloca para as santificarmos, para as impregnarmos da
nossa bendita fé, a única que dá verdadeira paz, alegria autêntica às almas e
aos diversos ambientes.
Tem
sido esta a minha pregação constante desde 1928: Urge cristianizar a sociedade;
levar a todos os estratos desta nossa humanidade o sentido sobrenatural, de
modo que uns e outros nos empenhemos em elevar à ordem da graça a ocupação
diária, a profissão ou o ofício.
Desta
forma, todas as ocupações humanas se iluminam com uma esperança nova, que
transcende o tempo e a caducidade do mundano.
Pelo
Baptismo, somos portadores da palavra de Cristo, que serena, que inflama e
aquieta as consciências feridas.
E
para que o Senhor actue em nós e por nós, temos de Lhe dizer que estamos
dispostos a lutar em cada dia, ainda que nos vejamos frouxos e inúteis, ainda
que sintamos o peso imenso das misérias pessoais e da pobre debilidade pessoal.
Temos
de Lhe repetir que confiamos nEle, na Sua ajuda: Se for preciso, como Abraão,
contra toda a esperança.
Assim
trabalharemos com renovado empenho e ensinaremos as pessoas a reagirem com
serenidade, livres de ódios, de receios, de ignorância, de incompreensões, de
pessimismos, porque Deus tudo pode.
211
Onde
quer que nos encontremos, esta é a exortação dO Senhor: «vigiai»!
Em
face deste apelo de Deus, alimentemos nas nossas consciências os desejos
esperançosos de santidade, com obras.
Dá-me,
Meu filho, o teu coração, sugere-nos O Senhor ao ouvido. Deixa-te de construir
castelos com a fantasia, decide-te a abrir a tua alma a Deus, pois
exclusivamente nO Senhor acharás o fundamento real para a tua esperança e para
fazer o bem aos outros.
Quando
não lutamos connosco mesmos, quando não rechaçamos terminantemente os inimigos
que estão dentro da cidadela interior - o orgulho, a inveja, a concupiscência
da carne e dos olhos, a auto-suficiência, a tresloucada avidez da libertinagem
- quando não existe essa peleja interior, os mais nobres ideais definham como a
flor do feno; ao romper o sol ardente, a erva seca, a flor cai e acaba a sua
vistosa formosura.
Depois,
pela menor fenda brotarão o desalento e a tristeza, como plantas daninhas e
invasoras.
Jesus
não Se conforma com um assentimento titubeante.
Pretende,
tem direito a que caminhemos com inteireza, sem concessões às dificuldades.
Exige
passos firmes concretos; pois, de ordinário, os propósitos gerais servem para
pouco.
Os
propósitos pouco delineados parecem-me entusiasmos falazes que intentam calar
as chamadas divinas percebidas pelo coração; fogos fátuos, que não queimam nem
dão calor e que desaparecem com a mesma fugacidade com que surgiram.
Por
isso, convencer-me-ei de que as tuas intenções de alcançar a meta são sinceras,
se te vir caminhar com determinação.
Faz
o bem, revendo as tuas atitudes habituais quanto à ocupação de cada instante;
pratica a justiça, precisamente nos ambientes que frequentas, ainda que a
fadiga te vença; fomenta a felicidade dos que te rodeiam, servindo os outros
com alegria no lugar do teu trabalho, com esforço para o acabar com a maior
perfeição possível, com a tua compreensão, com o teu sorriso, com a tua atitude
cristã. E tudo por Deus, com o pensamento na sua glória, com o olhar no alto,
anelando a Pátria definitiva, pois só esse fim vale a pena.
212
Tudo posso
Se
não lutas, não me digas que procuras identificar-te mais com Cristo,
conhecê-lo, amá-lo.
Quando
empreendemos o caminho real de seguir a Cristo, de nos portarmos como filhos de
Deus, não se nos oculta o que nos aguarda: A Santa Cruz, que temos de
contemplar como o ponto central onde se apoia a nossa esperança de nos unirmos
ao Senhor.
Digo-vos
desde já que este programa não é uma empresa cómoda; viver da maneira que o
Senhor assinala pressupõe esforço. Leio-vos a enumeração do Apóstolo, quando
refere as suas peripécias e os seus sofrimentos para cumprir a vontade de
Jesus: “Dos judeus recebi cinco vezes quarenta açoites menos um. “Três vezes fui açoitado com varas; uma vez
apedrejado; três vezes naufraguei; uma noite e um dia estive no abismo do mar.
Muitas vezes, em viagens, perigos de rios, perigos de ladrões, perigos dos da
minha nação, perigos dos gentios, perigos na cidade, perigos no descampado,
perigos no mar, perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e misérias, em muitas
vigílias, com fome e com sede, com muitos jejuns, com frio e nudez. Além destas
coisas exteriores, pesam sobre mim as ocupações de cada dia pela solicitude de
todas as igrejas.”
Gosto,
nestas conversas com o Senhor, de me cingir à realidade em que se desenvolve a
nossa vida, sem inventar teorias, nem sonhar com grandes renúncias, com
heroicidades, que habitualmente não acontecem.
Importa
que aproveitemos o tempo, que se nos escapa das mãos e que, segundo o critério
cristão, é mais do que ouro, porque representa uma antecipação da glória que
depois nos será concedida.
Logicamente,
na nossa jornada, não toparemos com tais nem com tantas contradições como as
que ocorreram na vida de Saulo. Nós descobriremos a baixeza do nosso egoísmo,
os golpes da sensualidade, as investidas de um orgulho inútil e ridículo e
muitas outras claudicações: tantas, tantas fraquezas.
Descoroçoar?
Não.
Com
São Paulo, repitamos ao Senhor: “sinto
complacência nas minhas enfermidades, nos ultrajes, nas necessidades, nas
perseguições, nas angústias por amor de Cristo; pois quando estou fraco, então
sou mais forte.”
213
Às
vezes, quando tudo nos acontece ao contrário do que imaginávamos, vem-nos
espontaneamente à boca: Senhor, olha que se afunda tudo, tudo, tudo...!
Chegou
a hora de rectificar: ConTigo, avançarei seguro, porque Tu És a própria
fortaleza: quia tu es, Deus, fortitudo
mea.
Roguei-te
que, no meio das ocupações, procures levantar os teus olhos ao Céu
perseverantemente, porque a esperança nos impele a agarrar-nos a essa mão forte
que Deus nos estende sem cessar, com o fim de não perdermos o ponto de mira
sobrenatural; isto também quando as paixões se levantam e nos acometem para nos
aferrolharem no reduto mesquinho do nosso eu, ou quando - com pueril vaidade -
nos sentimos o centro do universo.
Eu
vivo persuadido de que, sem olhar para o alto, sem Jesus, jamais conseguirei
nada; e sei que a minha fortaleza, para me vencer e para vencer, nasce de
repetir aquele brado: “tudo posso
nAquele que me conforta”, que contém a segura promessa de Deus de não
abandonar os Seus filhos, se os Seus filhos não o abandonarem.
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