A coroação de Nossa Senhora como Rainha e Senhora do universo é a última pedra dos privilégios concedidos a Santa Maria. Era sobrenaturalmente lógico que a Mãe de Deus, uma vez subida, em corpo e alma, à glória do Céu, fosse glorificada pela Santíssima Trindade acima dos coros dos anjos e de toda a hierarquia dos santos. Mais do que Tu, só Deus, exclama o povo cristão.
Um salmo de especial relevo messiânico canta a glória do rei e, unida a Ele, a glória da Rainha. És o mais formoso dos filhos de Adão, nos teus lábios se derramou a graça, pois Deus abençoou-te para sempre (...). O teu trono, oh Deus! é para sempre, sem fim; ceptro de rectidão é o ceptro do teu reino (Sal 44 3-7). A seguir o salmista dirige-se à Rainha. Ouve filha, inclina o ouvido, esquece teu povo e a casa de teu pai, e o rei se alegrará com a tua beleza; ele é o teu Senhor, inclina-te para Ele (...). Entra com todo o esplendor a filha do rei, tecido de ouro é o seu vestido; é apresentada ao rei com preciosos bordados, com ela as damas de honor a ti são conduzidas; guiadas em alegria e exultação, entram juntas no palácio real (Ibid., 11-16).
A liturgia aplica este salmo a Cristo e a Maria na glória celestial. Esta interpretação tem o seu fundamento nalguns textos do Evangelho que se referem explicitamente a Nossa Senhora. Na Anunciação, São Gabriel revela-lhe que o seu Filho reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o Seu reino não terá fim (Lc 1, 33). Vai ser mãe de um filho que, no mesmo instante da sua concepção como homem, é Rei e Senhor de todas as coisas; Ela, que O dará à luz, participa da Sua realeza. O mesmo afirma Santa Isabel, que, iluminada pelo Espírito Santo, confessa em voz alta: «De onde me é dado tanto bem, que venha visitar-me a Mãe do meu Senhor»? (Lc 1, 43). Também São João evangelista, numa grande visão do Apocalipse, descreve "uma mulher vestida de sol, a lua a seus pés, e sobre a sua cabeça uma coroa de doze estrelas" (Ap 12, 1). De acordo com a liturgia e a tradição da Igreja, essa mulher é Maria, vencedora com Cristo sobre o dragão infernal e entronizada como Rainha do universo.
A REALEZA DE MARIA É UMA VERDADE CONSOLADORA PARA TODOS OS HOMENS, ESPECIALMENTE QUANDO NOS SENTIMOS MERECEDORES DO CASTIGO DIVINO, COMO JUSTA PENA DOS PECADOS
O povo cristão confessou sempre esta suprema glória de Maria, participante da realeza de Cristo. Como Ele, tem-na por nascimento (é a mãe do Rei) e por direito de conquista (é Sua fiel companheira na Redenção). Nas suas mãos o Senhor pôs os méritos sobre-abundantes que ganhou com a Sua morte na Cruz, para que os distribua conforme a Vontade de Deus.
A realeza de Maria é uma verdade consoladora para todos os homens, especialmente quando nos sentimos merecedores do castigo divino, como justa pena dos pecados. A Igreja convida a recorrer a Ela, nossa Mãe e nossa Rainha, em todas as nossas necessidades. Ser Mãe de Deus e Mãe dos homens é o fundamento sólido da filial confiança na sua intercessão poderosa, que nos conforta e nos impulsiona a levantar-nos das nossas quedas.
Ao terminar estas meditações, invocamo-la com as palavras de uma antiga oração: "Salve, Regina, Mater misericordiæ; vita, dulcedo, spes nostra, salve! Salvé Rainha, Mãe de misericórdia... Ad te clamamus, exsules filii Evæ. Ad te suspiramus, gementes et flentes..." Pomos nela toda a nossa confiança, porque uma mãe escuta sempre as súplicas dos seus filhos. "Recordare, Virgo Mater Dei — dizemos-lhe — dum steteris in conspectu Domini, ut loquaris pro nobis bona" (cfr. Jr 18, 20). Ela fala sempre bem de nós diante do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e consegue do Senhor as coisas boas de que necessitamos. Sobretudo, a graça da perseverança final, que nos abrirá as portas do Céu: "Rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen".
J. A. Loarte
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