17/08/2020

Leitura espiritual 17 Agosto

Cartas de São Paulo

1ª Coríntios - 10

Perigo da idolatria –
1 Não quero que ignoreis, irmãos, que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, todos passaram através do mar 2 e todos foram baptizados em Moisés, na nuvem e no mar. 3 Todos comeram do mesmo alimento espiritual 4 e todos beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam de um rochedo espiritual que os seguia, e esse rochedo era Cristo. 5 Apesar disso, a maior parte deles não agradou a Deus, pois foram exterminados no deserto. 6 Ora isto aconteceu para nos servir de exemplo, a fim de não cobiçarmos coisas más, como eles cobiçaram. 7 Não vos torneis idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo sentou-se para comer e beber; depois, levantaram-se para se divertir. 8 Não nos entreguemos à imoralidade, como fizeram alguns deles e, num só dia, caíram mortos vinte e três mil. 9 Nem tentemos o Senhor, como alguns deles tentaram e pereceram, mordidos pelas serpentes. 10 Não murmureis, como murmuraram alguns deles, e pereceram às mãos do Exterminador. 11 Estas coisas aconteceram-lhes para nosso exemplo e foram escritas para nos servir de aviso, a nós que chegámos ao fim dos tempos. 12 Assim, pois, quem pensa estar de pé, tome cuidado para não cair. 13 Não vos surpreendeu nenhuma tentação que tivesse ultrapassado a medida humana. Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar.

Decisões práticas –
14 Por isso, meus caros, fugi da idolatria. 15 Falo-vos como a pessoas sensatas; julgai vós mesmos o que digo. 16 O cálice de bênção, que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? 17 Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque todos participamos desse único pão. 18 Vede o Israel segundo a carne: os que comem as vítimas não estão em comunhão com o altar? 19 Que vos hei-de dizer, pois? Que a carne imolada aos ídolos tem algum valor, ou que o próprio ídolo é alguma coisa? 20 Não! Mas aquilo que os pagãos sacrificam, sacrificam-no aos demónios e não a Deus. E eu não quero que estejais em comunhão com os demónios. 21 Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demónios; não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa dos demónios. 22 Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes do que Ele?

Respeito pelos outros –
23 «Tudo é permitido» mas nem tudo é conveniente. «Tudo é permitido», mas nem tudo edifica. 24 Ninguém procure o seu próprio interesse mas o dos outros. 25 Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada indagar por motivo de consciência; 26 porque do Senhor é a terra e tudo o que ela contém. 27 Se algum pagão vos convidar e vós quiserdes ir, comei de tudo o que vos for servido, sem nada indagar por motivo de consciência. 28 Mas se alguém vos disser: «Esta é carne imolada aos ídolos», não comais, por causa de quem vos avisou e por motivo de consciência. 29 Refiro-me, não à vossa consciência, mas à dele. Por que motivo, de facto, a minha liberdade havia de ser julgada pela consciência alheia? 30 Se eu tomo alimento, dando graças, porque hei-de ser censurado por aquilo de que dou graças? 31 Portanto, quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus. 32 Não vos torneis ocasião de escândalo, nem para os judeus, nem para os gregos, nem para a Igreja de Deus. 33 Fazei como eu, que me esforço por agradar a todos em tudo, não procurando o meu próprio interesse mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos.


Amigos de Deus

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Fortaleza, Serenidade, Paciência, Magnanimidade

Vamos considerar algumas destas virtudes humanas. Enquanto eu falar, cada um pela sua parte, dialogue com Nosso Senhor: peça-lhe que nos ajude a todos, que nos estimule a aprofundar hoje no mistério da sua Encarnação, para que também nós, na nossa carne, saibamos ser entre os homens testemunhos vivos de Quem veio para nos salvar.

O caminho do cristão, o de qualquer homem, não é fácil. Certo é que em determinadas épocas parece que tudo se cumpre segundo as nossas previsões; mas isto habitualmente dura pouco. Viver é defrontar dificuldades, sentir no coração alegrias e pesares; e é nesta forja que o homem pode adquirir a fortaleza, a paciência, a magnanimidade e a serenidade.

É forte quem persevera no cumprimento do que entende dever fazer, segundo a sua consciência; quem não mede o valor de uma tarefa exclusivamente pelos benefícios que recebe, mas pelo serviço que presta aos outros. O homem forte às vezes sofre, mas resiste; talvez chore, mas traga as lágrimas. Quando a contradição aumenta, não se curva. Recordemo-nos do exemplo que nos narra o livro dos Macabeus: daquele ancião, Eleazar, que prefere morrer a violar a lei de Deus. Morrendo valorosamente,mostrar-me-ei digno da minha velhice e deixarei aos jovens um exemplo de fortaleza, se sofrer com ânimo pronto e constante uma honrosa morte em defesa de leis tão veneráveis e tão santas.

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Quem sabe ser forte não se deixa invadir pela pressa de conquistar logo o fruto da sua virtude; é paciente. A fortaleza leva-nos realmente a saborear a virtude humana e divina da paciência. Mediante a vossa paciência, possuireis as vossas almas (Lc XXI, 19). A posse da alma exprime-se na paciência, que, na verdade, é raiz e custódia de todas as virtudes. Nós possuímos a alma com a paciência, porque, aprendendo a dominar-nos a nós mesmos, começamos a possuir aquilo que somos. E é esta paciência que nos leva também a ser compreensivos com os outros, persuadidos de que as almas, como o bom vinho, melhoram com o tempo.

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Fortes e pacientes: serenos. Mas não com a serenidade daquele que compra a tranquilidade pessoal à custa de se desinteressar dos seus irmãos ou da grande tarefa, que corresponde a todos, de difundir ilimitadamente o bem por todo o mundo. Serenos, porque há sempre perdão, porque tudo tem remédio, menos a morte, e, para os filhos de Deus, a morte é vida. Serenos, ainda que seja só para poder actuar com inteligência: quem conserva a calma está em condições de reflectir, de estudar os prós e os contras de cada problema, de examinar judiciosamente os resultados das acções previstas. E depois, sossegadamente, pode intervir com decisão.

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Estamos a enumerar com rapidez algumas virtudes humanas. Sei que, na vossa oração ao Senhor, aflorarão muitas outras. Eu gostaria de me demorar agora uns momentos numa qualidade maravilhosa: a magnanimidade.

Magnanimidade: ânimo grande, alma grande onde cabem muitos. É a força que nos dispõe a sairmos de nós próprios, a fim de nos prepararmos para empreender obras valiosas, em benefício de todos. No homem magnânimo não tem lugar a mesquinhez; não entra a medida estreita, o cálculo egoísta ou a deslealdade interesseira. O magnânimo dedica sem reservas as suas forças ao que vale a pena; por isso é capaz de se entregar a si próprio. Não se conforma apenas com dar: dá-se. E então consegue compreender a maior prova de magnanimidade: dar-se a Deus.

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Laboriosidade, diligência

Há duas virtudes humanas - a laboriosidade e a diligência - que se confundem numa só: no empenho em tirar partido dos talentos que cada um de nós recebeu de Deus. São virtudes, porque induzem a acabar bem as coisas. O trabalho - prego isto desde 1928 - não é uma maldição, nem um castigo do pecado. O Génesis fala dessa realidade antes de Adão se ter revoltado contra Deus. Nos planos de Nosso Senhor, o homem teria sempre de trabalhar, cooperando assim na imensa tarefa da criação.

Quem é laborioso aproveita o tempo, que não é apenas ouro, é glória de Deus! Faz o que deve e está no que faz, não por rotina nem para ocupar as horas, mas como fruto de uma reflexão atenta e ponderada. Por isso é diligente. O uso normal desta palavra - diligente - evoca-nos a sua origem latina. Diligente vem do verbo diligo, que significa amar, apreciar, escolher algo depois de uma atenção esmerada e cuidadosa. Não é diligente quem se precipita, mas quem trabalha com amor, primorosamente.

Nosso Senhor, perfeito homem, escolheu um trabalho manual que realizou delicada e amorosamente durante quase todo o tempo que permaneceu na terra. Exercitou a sua ocupação de artesão entre os outros habitantes da sua aldeia, e aquele trabalho humano e divino demonstrou-nos claramente que a actividade habitual não é um pormenor de pouca importância, mas é o fulcro da nossa santificação, oportunidade contínua de nos encontrarmos com Deus e de louvá-lo e glorificá-lo com o trabalho da nossa inteligência ou das nossas mãos.

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Veracidade e justiça

As virtudes humanas exigem de nós um esforço contínuo, porque não é fácil manter durante muito tempo uma têmpera de honradez perante as situações que parecem comprometer a nossa segurança. Reparemos na limpidez da veracidade: mas será certo que caiu em desuso? Terá triunfado definitivamente a conduta de compromisso, o dourar a pílula e o pintar a fachada? Teme-se a verdade. Por isso se lança mão de um expediente mesquinho: afirmar que ninguém vive nem diz a verdade e que todos recorrem à simulação e à mentira.

Felizmente não é assim. Existem muitas pessoas - cristãos e não cristãos - decididas a sacrificar a sua honra e a sua fama pela verdade, que não andam a saltitar constantemente de um lado para o outro para procurar o sol que mais aquece. São os mesmos que, por amor à sinceridade, sabem rectificar quando descobrem que se enganaram. Só não rectifica quem começa por mentir, quem reduz a verdade a uma palavra sonora para encobrir as suas claudicações.

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Se formos verazes, seremos justos. Nunca me cansaria de falar da justiça, mas aqui só podemos apontar alguns aspectos, sem perder de vista qual é a finalidade de todas estas reflexões: edificar uma vida interior real e autêntica sobre os alicerces profundos das virtudes humanas. Justiça é dar a cada um o que é seu. Mas acrescentaria que isso não basta. Por muito que cada um mereça, é preciso dar-lhe mais, porque cada alma é uma obra-prima de Deus.

A melhor caridade consiste em exceder-se generosamente na justiça. Esta caridade costuma passar despercebida, mas a sua fecundidade estende-se ao Céu e à terra. É um erro pensar que as expressões meio termo ou justo meio, na medida em que são característica das virtudes morais, significam mediocridade: algo como a metade do que é possível realizar. Esse meio entre o excesso e o defeito é um cume, um ponto álgido: o melhor que a prudência indica. Além disso, em relação às virtudes teologais não se admitem equilíbrios: não se pode crer, esperar ou amar de mais. E esse amor sem limites a Deus reverte a favor dos que nos rodeiam, em abundância de generosidade, de compreensão, de caridade.


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