Humildade no
trabalho
O Papa assinala na
sua encíclica Laudato Si, que, qualquer forma de trabalho pressupõe
uma concepção sobre a relação que o ser humano pode ou deve estabelecer (Papa Francisco,
Encíclica Laudato si (24-V-2015), 125) com o que o rodeia e com os que o rodeiam. O trabalho oferece não poucas
ocasiões de crescer na humildade.
Se, por exemplo, um
dirigente se mostra demasiado autoritário, pode-se encontrar uma desculpa,
pensando que tem muita responsabilidade sobre os seus ombros, ou simplesmente
que dormiu mal. Quando um colaborador se engana, é possível corrigi-lo sem o
ferir. Entristecer-se pelo sucesso dos outros denotaria falta de humildade e
também de fé: todas as coisas são vossas (…) mas vós sois de Cristo, e
Cristo é de Deus (1 Cor 3, 22-23). A quem é humilde, nada lhe é alheio: se, por exemplo, se esforça por
melhorar a sua formação profissional para além do interesse natural pela sua
especialidade, fá-lo para servir melhor os outros. Isso pressupõe rectificar a
intenção, voltar ao ponto de vista sobrenatural, não se deixar arrastar por um
ambiente superficial ou até corrompido, sem olhar, por isso, os outros por cima
do ombro. Quem é humilde foge do perfeccionismo, reconhece as próprias
limitações e conta que outros poderão melhorar aquilo que ele fez. Quem é
humilde sabe rectificar e pedir desculpa. Quando dirige, o que lhe dá
capacidade de liderança é o reconhecimento da sua autoridade, mais do que um
certo poder estabelecido.
Deus chamou-nos à
existência com um amor gratuito. Todavia, às vezes parece que precisamos de
justificar a nossa própria vida. O desejo de distinção, de fazer as coisas de
outra maneira, de chamar a atenção, a excessiva preocupação por sentir-se útil
e destacar no serviço aos outros, podem ser sintomas de uma doença da alma, que
convidam a pedir ajuda e a aceitá-la, sendo dóceis à graça. Com um olhar
ofuscado para o bem e outro mais penetrante para o que adula o próprio ego, a
vontade tíbia acumula na alma sarro e podridão de egoísmo e de soberba (...), a
conversa insubstancial ou centrada em si mesmo, (...) o non cogitare
nisi de se que se exterioriza no non loqui nisi de se (...), arrefece a
caridade e perde-se a vibração apostólica (Beato Álvaro del
Portillo, Carta pastoral, 9-I-1980, 31 (citado em Álvaro del Portillo, Orar. Como
sal y como luz, Barcelona: Planeta, 2013, p. 207). Pensar muito em
si mesmo, falar apenas de si mesmo... A pessoa humilde evita encaminhar as
conversas para a sua história pessoal, para a sua experiência, para o que fez:
evita procurar desmedidamente que reconheçam os seus méritos. Bem diferente é,
por outro lado, recordar as misericórdias de Deus e integrar a própria vida no
desígnio da Providência. Se uma pessoa fala do que fez, é para que o outro
possa desenvolver a sua própria história. Portanto, o testemunho de um encontro
pessoal com Cristo, com o recato natural da alma, pode ajudar o outro a
descobrir que também Jesus o ama, o perdoa e o diviniza. Que alegria, nesse
caso! Sou amado, logo existo (Papa Francisco, Carta ap. Misericordia et misera (30-XI-2016), 16).
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