13/07/2020

LEITURA ESPIRITUAL


ACTOS DOS APÓSTOLOS 

III. MISSÕES DE PAULO

1.ª Viagem Missionária -

13 Barnabé e Saulo em missão –
1 Havia na igreja, estabelecida em Antioquia, profetas e doutores: Barnabé, Simeão, chamado 'Níger', Lúcio de Cirene, Manaen, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. 2 Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.» 3 Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir.

Evangelização de Chipre –
4      Enviados, pois, pelo Espírito Santo, Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e ali meteram-se num barco, rumo à ilha de Chipre. 5 Chegados que foram a Salamina, começaram a anunciar a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham também João como auxiliar. 6 Percorreram toda a ilha até Pafos e encontraram lá um mago, falso profeta, judeu, chamado Barjesus, 7 que estava ao serviço do procônsul Sérgio Paulo, homem ponderado. Este mandou chamar Barnabé e Saulo, desejoso de ouvir a palavra de Deus. 8 Mas o mago Elimas - assim se traduz o seu nome - opôs-se-lhe, procurando desviar da fé o procônsul. 9 Então Saulo - também chamado Paulo - cheio do Espírito Santo, fitou nele os olhos 10 e disse-lhe: «Ó criatura, cheia de todas as astúcias e de toda a iniquidade, filho do diabo, inimigo de toda a justiça, quando é que cessarás de perverter os rectos caminhos do Senhor? 11 Mas agora a mão do Senhor está sobre ti: vais ficar cego e, durante algum tempo, não hás-de ver o sol.» No mesmo instante, caíram sobre ele o nevoeiro e as trevas e, voltando-se para todos os lados, procurava alguém que o guiasse pela mão. 12 Vendo, então, o que se tinha passado, o procônsul abraçou a fé, vivamente impressionado com a doutrina do Senhor.

O Evangelho na Ásia Menor –
13 De Pafos, onde embarcaram Paulo e os companheiros, dirigiram-se a Perga da Panfília. João, porém, separando-se deles, voltou para Jerusalém. 14 Quanto àqueles, deixaram Perga e, caminhando sempre, chegaram a Antioquia da Pisídia. A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se. 15 Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes da sinagoga mandaram-lhes dizer: «Irmãos, se tiverdes alguma exortação a dirigir ao povo, falai.»

Discurso de Paulo em Antioquia da Pisídia –
16 Então, Paulo, levantando-se, fez sinal com a mão e disse: «Homens de Israel e vós os tementes a Deus, escutai: 17 O Deus deste povo, o Deus de Israel, escolheu os nossos pais e engrandeceu este povo durante a sua permanência no Egipto. Depois, com a força do seu braço, retirou-o de lá 18 e, durante uns quarenta anos, sustentou-o no deserto. 19 A seguir, exterminando sete nações na terra de Canaã, conferiu-lhes a posse do seu território, 20 por cerca de quatrocentos e cinquenta anos. Depois disso, deu-lhes juízes até ao profeta Samuel. 21 Em seguida, pediram um rei, e Deus concedeu-lhes, durante quarenta anos, Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim. 22 Pondo este de parte, Deus elevou David como rei, e a seu respeito deu este testemunho: 'Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.' 23 Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus. 24 João preparou a sua vinda, anunciando um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. 25 Quase a terminar a sua carreira, João dizia: 'Eu não sou quem julgais; mas vem, depois de mim, alguém cujas sandálias não sou digno de desatar.' 26 Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que de entre vós são tementes a Deus, a nós é que foi dirigida a palavra de salvação. 27 Sem dúvida, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-o, cumpriram, sem disso se aperceberem, as profecias que são lidas todos os sábados. 28 Embora não tivessem encontrado nele motivo algum de morte, exigiram a Pilatos que o mandasse matar. 29 Quando cumpriram tudo o que acerca dele estava escrito, desceram-no do madeiro e sepultaram-no. 30 Mas Deus ressuscitou-o dos mortos 31 e, durante muitos dias, apareceu aos que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém, os quais são agora suas testemunhas diante do povo. 32 E nós estamos aqui para vos anunciar a Boa-Nova de que a promessa feita a nossos pais, 33 Deus a cumpriu em nosso benefício, para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no Salmo segundo: Tu és meu filho, Eu hoje te gerei! 34 Que Deus o ressuscitou dos mortos para não mais voltar à corrupção, disse-o Ele deste modo: Dar-vos-ei as coisas santas de David, que são verdadeiras. 35 Por isso, diz noutra passagem: Não deixarás o teu Santo ver a corrupção. 36 Ora David, depois de servir em sua vida os desígnios de Deus, morreu; foi reunir-se a seus pais e viu a corrupção. 37 Mas aquele que Deus ressuscitou não viu a corrupção. 38 Ficai sabendo, irmãos, que por seu intermédio é que vos é anunciada a remissão dos pecados. A justificação completa que não pudestes obter pela Lei de Moisés, 39 obtê-la-á por meio dele todo aquele que crê. 40 Tende, pois, cautela, para que vos não aconteça o que se diz nos profetas: 41 Olhai, vós, os desdenhosos, admirai-vos e desaparecei! Porque Eu vou fazer uma obra em vossos dias, obra em que não acreditaríeis, se alguém vo-la contasse.» 42 À saída, pediram-lhe que falasse do mesmo assunto no sábado seguinte. 43 Depois da reunião, muitos judeus e prosélitos piedosos seguiam Paulo e Barnabé, os quais, nas suas conversas com eles, os exortavam a perseverar na graça de Deus.

Paulo e Barnabé dirigem-se aos pagãos –
44 No sábado seguinte, quase toda a cidade se reuniu para ouvir a palavra do Senhor. 45 A presença da multidão encheu os judeus de inveja, e responderam com blasfémias ao que Paulo dizia. 46 Então, desassombradamente, Paulo e Barnabé afirmaram: «Era primeiramente a vós que a palavra de Deus devia ser anunciada. Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos, 47 pois assim nos ordenou o Senhor: Estabeleci-te como luz dos povos, para levares a salvação até aos confins da Terra.» 48 Ao ouvirem isto, os pagãos encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé. 49 Assim, a palavra do Senhor divulgava-se por toda aquela região. 50 Mas os judeus incitaram as senhoras devotas mais distintas e os de maior categoria da cidade, desencadeando uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e expulsaram-nos do seu território. 51 Estes, sacudindo contra eles o pó dos pés, foram para Icónio. 52 Quanto aos discípulos, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.

"Christus vivit": Exortação Apostólica aos Jovens

Capítulo III

VÓS SOIS O AGORA DE DEUS

Os migrantes como paradigma do nosso tempo
91. Como não lembrar os inúmeros jovens directamente envolvidos nas migrações?
Os fenómenos migratórios não representam uma emergência transitória, mas são estruturais.
«As migrações podem verificar-se dentro do mesmo país ou entre países diferentes. A preocupação da Igreja visa, em particular, aqueles que fogem da guerra, da violência, da perseguição política ou religiosa, dos desastres naturais - devidos também às alterações climáticas - e da pobreza extrema: muitos deles são jovens. Em geral, andam à procura de oportunidades para si e para a sua família. Sonham com um futuro melhor, e desejam criar as condições para que se realize»[1].
Os migrantes lembram-nos «a condição primordial da fé, ou seja, a de sermos “estrangeiros e peregrinos sobre a terra” (Heb 11, 13)»[2].

92. Outros migrantes são «atraídos pela cultura ocidental, nutrindo por vezes expectativas irreais que os expõem a pesadas decepções.
Traficantes sem escrúpulos, frequentemente ligados a cartéis da droga e das armas, exploram a fragilidade dos migrantes, que, ao longo do seu percurso, muitas vezes encontram a violência, o tráfico de seres humanos, o abuso psicológico e mesmo físico, e tribulações indescritíveis.
Há que destacar a particular vulnerabilidade dos migrantes menores não acompanhados, e a situação daqueles que são forçados a passar muitos anos nos campos de refugiados ou que permanecem bloqueados muito tempo nos países de trânsito, sem poderem continuar os seus estudos nem expressar os seus talentos.
Em alguns países de chegada, os fenómenos migratórios suscitam alarme e temores, frequentemente fomentados e explorados para fins políticos.
Assim se difunde uma mentalidade xenófoba, de quem se fecha em si mesmo, a que é necessário reagir com decisão»[3].

93. «Os jovens que migram experimentam a separação do seu contexto de origem e, muitas vezes, também um desenraizamento cultural e religioso.
A fractura tem a ver também com as comunidades de origem, que perdem os elementos mais vigorosos e empreendedores, e as famílias, particularmente quando migra um ou ambos os progenitores, deixando os filhos no país de origem.
A Igreja tem um papel importante como referência para os jovens destas famílias divididas.
Mas as histórias dos migrantes são histórias também de encontro entre pessoas e entre culturas: para as comunidades e as sociedades de chegada são uma oportunidade de enriquecimento e desenvolvimento humano integral de todos.
As iniciativas de hospitalidade, que têm como ponto de referência a Igreja, desempenham um papel importante deste ponto de vista e podem revitalizar as comunidades capazes de praticá-las»[4].

94. «Graças à variada proveniência dos Padres [Sinodais], o Sínodo permitiu o encontro de muitas perspectivas relativamente ao tema dos migrantes, sobretudo entre países de partida e países de chegada.
Além disso, ressoou o grito de alarme das Igrejas cujos membros são forçados a fugir da guerra e da perseguição, vendo, nestas migrações forçadas, uma ameaça para a própria existência delas.
O próprio facto de englobar dentro de si mesma todas estas distintas perspectivas coloca a Igreja em condições de exercer, em relação à sociedade, um papel profético sobre o tema das migrações»[5].
Peço especialmente aos jovens que não caiam nas redes de quem os quer contrapor a outros jovens que chegam aos seus países, fazendo-os ver como sujeitos perigosos e como se não tivessem a mesma dignidade inalienável de todo o ser humano.

Acabar com todas as formas de abuso
95. Nos últimos tempos, temos sido fortemente instados a escutar o grito das vítimas dos vários tipos de abuso cometidos por alguns bispos, sacerdotes, religiosos e leigos.
Estes pecados provocam nas suas vítimas «sofrimentos que podem durar a vida inteira e aos quais nenhum arrependimento é capaz de pôr remédio. Este fenómeno, muito difundido na sociedade, toca também a Igreja e representa um sério obstáculo à sua missão»[6].

96. É verdade que o «flagelo dos abusos sexuais contra menores é um fenómeno historicamente difundido, infelizmente, em todas as culturas e sociedades», especialmente dentro das próprias famílias e em várias instituições, cuja extensão foi ressaltada sobretudo «graças à mudança de sensibilidade da opinião pública».
Mas, «a universalidade de tal flagelo, ao mesmo tempo que confirma a sua gravidade nas nossas sociedades, não diminui a sua monstruosidade dentro da Igreja» e, «na ira justificada das pessoas, a Igreja vê o reflexo da ira de Deus, traído e esbofeteado»[7].
97. «O Sínodo reitera o firme empenho na adopção de rigorosas medidas de prevenção que impeçam a sua repetição, começando pela selecção e formação daqueles a quem serão confiadas tarefas de responsabilidade e educativas»[8].
Ao mesmo tempo, não mais deve ser abandonada a decisão de aplicar as necessárias «medidas e sanções»[9].
Em tudo, contando com a graça de Cristo. Não se pode voltar atrás.

98. «Existem diferentes tipos de abuso: abusos de poder, económicos, de consciência, sexuais.
Torna-se evidente a tarefa de erradicar as formas de exercício da autoridade nas quais se entroncam aqueles, e de contrastar a falta de responsabilidade e transparência com que foram geridos muitos casos.
O desejo de domínio, a falta de diálogo e transparência, as formas de vida dupla, o vazio espiritual, bem como as fragilidades psicológicas constituem o terreno onde prospera a corrupção».[10]
O clericalismo é uma tentação permanente dos sacerdotes, que interpretam «o ministério recebido mais como um poder a ser exercido do que como um serviço gratuito e generoso a oferecer; e isto leva a julgar que se pertence a um grupo que possui todas as respostas e já não precisa escutar e aprender mais nada»[11].
Sem dúvida, o clericalismo expõe as pessoas consagradas ao risco de perderem o respeito pelo valor sagrado e inalienável de cada pessoa e da sua liberdade.
99. Quero, juntamente com os Padres Sinodais, expressar com afecto a minha «gratidão a quantos têm a coragem de denunciar o mal sofrido: ajudam a Igreja a tomar consciência do que aconteceu e da necessidade de reagir com decisão»[12].
Mas também merece um reconhecimento especial «o compromisso sincero de inumeráveis leigas e leigos, sacerdotes, consagrados, consagradas e bispos que diariamente se consomem, honesta e dedicadamente, ao serviço dos jovens.
O seu trabalho é como uma floresta que cresce sem fazer barulho.
Também muitos dos jovens presentes no Sínodo manifestaram gratidão àqueles que os têm acompanhado e reafirmaram a grande necessidade de modelos»[13].

100. Graças a Deus, os sacerdotes que caíram nestes crimes horríveis não constituem a maioria; esta mantém um ministério fiel e generoso. Peço aos jovens que se deixem estimular por esta maioria. Em todo o caso, quando virdes um sacerdote em risco, porque perdeu a alegria do seu ministério, porque busca compensações afectivas ou está tomando um rumo errado, tende a ousadia de lhe lembrar o seu compromisso para com Deus e o seu povo, anunciai-lhe vós mesmos o Evangelho e animai-o a permanecer no caminho certo. Assim, prestareis uma ajuda inestimável num ponto fundamental: a prevenção que permite evitar a repetição destas atrocidades. Esta nuvem negra torna-se também um desafio para os jovens que amam Jesus Cristo e a sua Igreja, porque podem contribuir muito para curar esta ferida, se puserem em campo a sua capacidade de renovar, reclamar, exigir coerência e testemunho, voltar a sonhar e reinventar.

101. Este não é o único pecado dos membros da Igreja, cuja história apresenta muitas sombras. Os nossos pecados estão à vista de todos; reflectem-se, impiedosamente, nas rugas do rosto milenário da nossa Mãe e Mestra. Com efeito, desde há dois mil anos que ela caminha compartilhando «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens»[14].
E caminha como é, sem cirurgias estéticas. Não tem medo de mostrar os pecados dos seus membros, que às vezes alguns deles procuram esconder, perante a luz ardente da Palavra do Evangelho que limpa e purifica. E não cessa de repetir cada dia, envergonhada: «tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade; (...) tenho sempre diante de mim os meus pecados» (Sal 51/50, 3.5). Lembremo-nos, porém, que não se abandona a Mãe quando está ferida, mas acompanhamo-la para que tire fora de si mesma toda a sua força e capacidade de começar sempre de novo.

102. No meio deste drama que justamente nos fere a alma, «o Senhor Jesus, que nunca abandona a sua Igreja, dá-lhe a força e os instrumentos para um caminho novo».[15]
Assim, este momento sombrio, com «a ajuda preciosa dos jovens, pode verdadeiramente ser uma oportunidade para uma reforma de alcance histórico»[16], para se abrir a um novo Pentecostes e começar um período de purificação e mudança que dê à Igreja uma renovada juventude. Entretanto os jovens poderão ajudar muito mais, se de coração se sentirem parte do «santo e paciente Povo fiel de Deus, sustentado e vivificado pelo Espírito Santo», porque «será precisamente este santo Povo de Deus que nos libertará do flagelo do clericalismo, que é o terreno fértil para todas estas abominações»[17].


Franciscus

Revisão da versão portuguesa por AMA

[1] DF 25.
[2] Ibid., 25.
[3] Ibid., 26.
[4] Ibid., 27.
[5] Ibid., 28.
[6] Ibid., 29;
[7] Francisco, Discurso no termo do Encontro sobre «A protecção na Igreja dos menores e adultos vulneráveis» (24 de Fevereiro de 2019): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 26/II/2019), 12
[8] DF 29.
[9] Francisco, Carta ao Povo de Deus (20 de Agosto de 2018), 2: L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 23/VIII/2018), 8.
[10] DF 30.
[11] Francisco, Discurso na I Congregação Geral da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (3 de Outubro de 2018): L’Osservatore Romano(ed. portuguesa de 4/X/2018), 11.
[12] DF 31.
[13] Ibid., 31.
[14] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 1.
[15] DF 31
[16] Ibid., 31.
[17] Francisco, Discurso no termo do Encontro sobre «A protecção na Igreja dos menores e adultos vulneráveis»(24 de Fevereiro de 2019): L’Osservatore Romano(ed. portuguesa de 26/II/2019), 13-14.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.