Ei-los
à mesa da Ceia que será a última; a grande, a inesquecível Ceia de Páscoa.
Jesus
- tal como fizera já com o pão - acaba de passar o cálice com o vinho, agora transubstanciado
no Seu Sangue Preciosíssimo.
Os
Apóstolos reconhecem a gravidade do momento e a solenidade que o peso das
palavras de Jesus deixa entrever. Não compreendem bem, ou melhor, não alcançam
toda a dimensão do que o Mestre acabara de fazer, mas instintivamente, o
coração que cada um há muito entregou, sem reservas, a Cristo, diz que é algo grande
e transcendente.
A
conversa esbate-se em murmúrios, sente-se a tristeza de Jesus. De súbito aquela
frase inopinada: «Um de vós há-de trair-Me».
Olham-se
uns aos outros, tão pouco seguros estão de si, do seu amor, da sua entrega:
serei eu?
Também
eu me interrogo: serei eu?… Serei eu, meu Deus, quem Te entrega aos Teus
algozes, com as minhas negações, esquecimentos e faltas de toda a ordem? Serei
eu? Eu, que como contigo à mesma mesa que preparasTe para mim, que recebo o Teu
Corpo e o Teu Sangue, diariamente, por uma graça infinita, serei eu?
Decerto
que fui, e sou e serei ainda muitas vezes…. Como me dói pensar nisto, vejo os
Teus olhos tristes fixarem-se em mim num mudo desgosto e espanto. Desgosto
pelas faltas de que sou capaz, espanto porque não esperarias que, depois de Ter
recebido tanto seja tão mal agradecido.
Tudo
isto é uma conversa humana, porque eu sei que Tu sabes muito bem quem eu sou,
desde o princípio de todas as coisas. E eu, pobre de mim, atrevo-me a pensar:
Então se Ele sabe quem sou e como sou e, mesmo assim, me quer, então é porque
de facto me ama e me quer junto dele.
E
esta alegria profunda que me causa esta revelação, afasta para longe a tristeza
solene desta Ultima Ceia e eu levanto-me pronto para cantar o hino da alegria e
da confiança, da esperança e da fé no meu Senhor e no Meu Deus que me salva, me
quer e me redime para sempre.
(AMA, reflexões, 2002)
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