(Cfr. Lc 8, 49-56)
Tomando
as palavras do profeta Zacarias, São João diz:
Lá
se manifesta a plenitude do amor: o Pai, que dá o próprio Filho, e este, que
obedece à vontade do Pai, em mútua doação amorosa, derramada sobre a
humanidade: o dom do Espírito Santo.
O
Coração não é apenas um símbolo; é epifania da infinita misericórdia de Deus,
gesto profético que se cumpre, irrompendo na realidade humana. Esse Coração foi
despedaçado, para colocar tudo o que possuía à nossa disposição. Dele brotou a
nossa Salvação. Temos que olhar para Ele. O amor verdadeiro - essa sede que não
conseguimos estancar, a não ser ao contacto do próprio Coração de Cristo - foi,
certamente, a experiência que viveram os mártires e os grandes santos: morreram
de amor, num martírio de amor, como tanto o desejava Santa Teresinha de
Lisieux.
Lembro-me,
ainda hoje, do sermão que o Arcebispo de Aparecida, D. Geraldo Morais Penido,
fez quando a minha mãe foi sepultada. Ele convidou-me a olhar para aquele corpo
sofrido da Mãezinha, que chegara à idade de 90 anos, apesar de décadas de
sofrimento, devido, particularmente, a um cancro. E disse-me: ‘Olhe para a sua
mãe e veja o Coração de Cristo, pois este é o único gesto que irá consolá-lo’.
Tenho procurado honrar esse Coração, através da doação da minha vida, e
reconheço que somente o faço pelas graças especiais de que tenho sido cumulado.
Vendo em minha mãe o Cristo crucificado, compreendi que seu sofrimento se
transformara em abertura, em fonte inesgotável de felicidade eterna.
No
Coração de Cristo, e a Ele associado o Coração Imaculado de Maria, revela-se o
mistério de toda a obra da Salvação [2]: A
Eucaristia e os demais Sacramentos, o Sacerdócio e a própria Igreja nascem desse
gesto de doação do seu supremo amor. [3]
As
palavras do profeta Isaías, «tirareis
água com alegria das fontes da salvação» [4],
que dão início à encíclica com a qual Pio XII recordava o primeiro centenário
da extensão a toda a Igreja da festa do Sagrado Coração de Jesus, não perderam
nada do seu significado hoje, cinquenta anos depois.
Ao
promover o culto ao Coração de Jesus, a encíclica «Haurietis aquas» exortava aos crentes a abrir-se ao mistério de
Deus e de seu amor, deixando-se transformar por ele. Cinquenta anos depois, continua
em pé a tarefa sempre actual dos cristãos de continuar aprofundando em sua
relação com o Coração de Jesus para reavivar em si mesmos a fé no amor
salvífico de Deus, acolhendo-o cada vez melhor em sua própria vida.
O
Lado Trespassado do Redentor é o manancial ao qual nos convida a acudir a
encíclica «Haurietis aquas»: devemos
recorrer a este manancial para alcançar o verdadeiro conhecimento de Jesus
Cristo e experimentar mais profundamente o Seu amor. Deste modo, poderemos
compreender melhor o que significa conhecer em Jesus Cristo o Amor de Deus, experimentá-Lo,
mantendo o olhar N’ele, até viver completamente da experiência do Seu Amor,
para poder testemunhá-lo depois aos outros.
De
facto, retomando uma expressão de meu venerado predecessor, João Paulo II,
«junto ao Coração de Cristo, o coração humano aprende a conhecer o autêntico e
único sentido da vida e do seu próprio destino, a compreender o valor de uma
vida autenticamente cristã, a permanecer afastado de certas perversões do
coração, a unir o amor filial a Deus ao amor ao próximo.
Deste
modo – e esta é a verdadeira reparação exigida pelo Coração do Salvador – sobre
as ruínas acumuladas pelo ódio e a violência poderá edificar-se a civilização
do Coração de Cristo» [5]
(AMA, reflexões).
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