(Cfr. Lc 8, 49-56)
Sem Se deter mais,
Jesus retoma o caminho e o braço de Jairo.
Este não consegue
articular palavra. Assistiu a tudo, ouviu tudo. Estava mesmo ali, ao lado do
Mestre, e entendeu perfeitamente o que este tinha feito.
A fé e confiança
que o levaram a procurar Jesus para que curasse a sua querida filha, redobram e
confirmam-se:
Ele é capaz de
tudo! Pode tudo!
Jesus respeita o
silêncio comovido de Jairo e, por momentos, cessa a conversa.
Lá atrás, a
multidão, está agora, também, em silêncio. Alguns batem no peito, no gesto
tradicional dos orientais que significa recolhimento interior.
Ocorrem-lhe os
próprios problemas, as doenças, as dificuldades, as desavenças familiares, a
falta de meios, as limitações.
Também se encontram
na multidão algumas pessoas que destoam, um pouco, do povo anónimo. São
escribas, sacerdotes, membros do Sinédrio.
Enquanto uns seguem
a multidão de perto, procurando não se misturar com ela, mas suficientemente
próximos para ouvirem e verem quanto Jesus disser e fizer, á espreita de
encontrar algo que, no seu entender estreito e
preconceituoso, seja contrário á lei e que, portanto, lhes permita intervir com
a sua autoridade, outros pensam numa forma de contactar Jesus, talvez não em
público, mas na tranquilidade de um encontro a sós. Têm algum pudor em expor a
sua vida, assim, a nu em frente dos demais.
Talvez um ou outro
se tenha decidido a procurar o Mestre de noite, fora dos olhares e da presença
de outras pessoas.
As suas dúvidas são
sérias, a pregação de Jesus, que vêm ouvindo há algum tempo, não só nos grandes
ajuntamentos, como agora, mas também, aos Sábados, nas sinagogas, trazem-nos
inquietos e algo perplexos.
Reconhecem no
Mestre uma doutrina muito simples se comparada com a tradicional complexidade
dos preceitos rabínicos. E, no entanto, ouviram-nos afirmar que não vinha
revogar a lei ([1]),
mas dar-lhe um novo enfoque, uma nova luz.
As suas respostas
têm sempre um sentido claro e objectivo, não obstante as questões capciosas que
muitas vezes lhe colocam.
Reconhecem que tem
um carisma que arrasta multidões, que atrai como íman poderoso pessoas de todas
as classes e condições sociais.
Ao contrário de
muitos chefes do povo, não faz acepção de pessoas e parece à-vontade com todos,
publicanos e pecadores, homens de cultura e responsabilidade, judeus,
samaritanos e de outras nacionalidades. Não foge ao contacto pessoal, directo, seja com quem for. Compadece-se dos desgraçados
miseráveis, enternece-se com as crianças e os humildes.
Talvez, depois de
tudo isto, o que mais os impressiona é saberem que não tem bens pessoais,
dependendo da generosidade dos Seus discípulos e seguidores.
Não aceita ofertas
de valor, nem procura benefícios próprios, nem para Si nem para os Seus. Não é
um ser solitário, triste. Aprecia o convívio e não enjeita convites para se
hospedar em casa de alguém ou participar numa refeição.
Embora, por vezes,
apresente um ar fatigado das intermináveis caminhadas e longas horas de
pregação, nunca se nega a ouvir, atender, acolher quem O procura.
É, não têm dúvida, um personagem
apaixonante que os intriga e faz pensar.
Um destes há-de
chegar, de facto, à fala com Jesus e dizer-lhe com veemência:
Outros tomam uma
decisão pessoal importante:
Têm se de
esclarecer, tirar dúvidas, saber mais.
Compreendem que o
Mestre fala em parábolas para que todos entendam a Sua mensagem, mas, no seu
caso, desejam ouvir em concreto a doutrina de Jesus a qual se lhes afigura
muito digna de estudo detalhado. Como homens de saber, habituados a interpretar
a lei, mais que a curiosidade move-os o desejo de aprofundar, de ir mais longe.
Talvez, um destes
se chame Nicodemos…
(AMA, reflexões).
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