16/02/2020

THALITA KUM 103


THALITA KUM 103

(Cfr. Lc 8, 49-56)


Sem Se deter mais, Jesus retoma o caminho e o braço de Jairo.
Este não consegue articular palavra. Assistiu a tudo, ouviu tudo. Estava mesmo ali, ao lado do Mestre, e entendeu perfeitamente o que este tinha feito.
A fé e confiança que o levaram a procurar Jesus para que curasse a sua querida filha, redobram e confirmam-se:

Ele é capaz de tudo! Pode tudo!

Jesus respeita o silêncio comovido de Jairo e, por momentos, cessa a conversa.
Lá atrás, a multidão, está agora, também, em silêncio. Alguns batem no peito, no gesto tradicional dos orientais que significa recolhimento interior.
Ocorrem-lhe os próprios problemas, as doenças, as dificuldades, as desavenças familiares, a falta de meios, as limitações.

Também se encontram na multidão algumas pessoas que destoam, um pouco, do povo anónimo. São escribas, sacerdotes, membros do Sinédrio.
Enquanto uns seguem a multidão de perto, procurando não se misturar com ela, mas suficientemente próximos para ouvirem e verem quanto Jesus disser e fizer, á espreita de encontrar algo que, no seu entender estreito e preconceituoso, seja contrário á lei e que, portanto, lhes permita intervir com a sua autoridade, outros pensam numa forma de contactar Jesus, talvez não em público, mas na tranquilidade de um encontro a sós. Têm algum pudor em expor a sua vida, assim, a nu em frente dos demais.

Talvez um ou outro se tenha decidido a procurar o Mestre de noite, fora dos olhares e da presença de outras pessoas.
As suas dúvidas são sérias, a pregação de Jesus, que vêm ouvindo há algum tempo, não só nos grandes ajuntamentos, como agora, mas também, aos Sábados, nas sinagogas, trazem-nos inquietos e algo perplexos.
Reconhecem no Mestre uma doutrina muito simples se comparada com a tradicional complexidade dos preceitos rabínicos. E, no entanto, ouviram-nos afirmar que não vinha revogar a lei ([1]), mas dar-lhe um novo enfoque, uma nova luz.
Têm constatado que fala em nome próprio como “uma autoridade” bem expressa. [2]

As suas respostas têm sempre um sentido claro e objectivo, não obstante as questões capciosas que muitas vezes lhe colocam.
Reconhecem que tem um carisma que arrasta multidões, que atrai como íman poderoso pessoas de todas as classes e condições sociais.
Ao contrário de muitos chefes do povo, não faz acepção de pessoas e parece à-vontade com todos, publicanos e pecadores, homens de cultura e responsabilidade, judeus, samaritanos e de outras nacionalidades. Não foge ao contacto pessoal, directo, seja com quem for. Compadece-se dos desgraçados miseráveis, enternece-se com as crianças e os humildes.

Talvez, depois de tudo isto, o que mais os impressiona é saberem que não tem bens pessoais, dependendo da generosidade dos Seus discípulos e seguidores.
Não aceita ofertas de valor, nem procura benefícios próprios, nem para Si nem para os Seus. Não é um ser solitário, triste. Aprecia o convívio e não enjeita convites para se hospedar em casa de alguém ou participar numa refeição.

Embora, por vezes, apresente um ar fatigado das intermináveis caminhadas e longas horas de pregação, nunca se nega a ouvir, atender, acolher quem O procura.

É, não têm dúvida, um personagem apaixonante que os intriga e faz pensar.

Um destes há-de chegar, de facto, à fala com Jesus e dizer-lhe com veemência:

«Seguir-te-ei para onde quer que fores.» [3]

Outros tomam uma decisão pessoal importante:
Têm se de esclarecer, tirar dúvidas, saber mais.
Compreendem que o Mestre fala em parábolas para que todos entendam a Sua mensagem, mas, no seu caso, desejam ouvir em concreto a doutrina de Jesus a qual se lhes afigura muito digna de estudo detalhado. Como homens de saber, habituados a interpretar a lei, mais que a curiosidade move-os o desejo de aprofundar, de ir mais longe.

Talvez, um destes se chame Nicodemos…




(AMA, reflexões).



[1] Cfr. Mt 5, 17-19.
[2] Cfr. Mt 5, 43-48.
[3] Lc 9, 55, 57.

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