(Cfr. Lc 8, 49-56)
«Ora uma mulher que há doze anos vinha
padecendo dum fluxo de sangue e tinha sofrido muito de numerosos médicos e
gasto toda a sua fortuna, mas longe de melhorar tinha piorado, tendo ouvido
falar de Jesus, veio por detrás entre a multidão e tocou-lhe no manto, pois
dizia consigo: Se eu tocar ainda só que seja nos Seus vestidos, ficarei curada».
[1]
Aquela mulher
acredita que Jesus a pode curar e tudo faz para o conseguir.
Está impedida de
contactar, ou dirigir-se, directa e frontalmente a Jesus para solicitar a sua
cura. [2]
Por vezes, nós
próprios somos levados a considerar, ou até julgar com rigor, os defeitos ou
males que pensamos ver nos outros, esquecendo-nos que todos somos filhos de
Deus a Quem pertence, exclusivamente, o direito de julgar.
Julgar os outros é
muitas vezes, quase sempre, espelhar os nossos próprios defeitos, e ver o
argueiro no olho do vizinho sem reparar que o nosso está obstruído por uma
trave.
Não me refiro só ao julgamento
público, os comentários ou avaliações que fazemos dos outros, sobretudo quando
não estão presentes, mas também aquele julgamento que muitas vezes, permitimos
que exista no segredo do nosso coração.
Não poucas vezes é o nosso orgulho
ferido, ou a inveja, que nos atiça o rigor do julgamento, e damos voltas e mais
voltas, remoendo dentro de nós críticas, avaliações, etc.
Isto é sempre, pelo
menos, falta de caridade que devemos rectificar imediatamente, porque poderemos
estar consentindo numa injustiça.
A Fé da mulher é,
porém, tão grande que a move a arrostar com todas as dificuldades, - a
vergonha, o poder ser descoberta, etc. - e, aproveitando os apertos da
multidão, dissimuladamente, mas com confiança, toca o manto de Jesus.
No
seu coração, ela estava convencida que tanto bastaria para alcançar a graça que
pretendia.
Sem
dúvida que a sua Fé é grande, total, a isso fora levada por anos, - 12 anos! -
de procura incessante de cura para os seus males.
AMA,
reflexões sobre o Evangelho, 2006)
[2]
(Aquele tipo de doenças era rigorosamente descriminado na sociedade judaica. As
pessoas naquelas condições eram consideradas impuras e todo o contacto com outras
pessoas era estritamente proibido, assim como, por exemplo, os portadores de
lepra. A deturpação e o exagero das leis judaicas levava a considerar estas doenças
como castigos de Deus e não hesitavam em apelidar de "pecadores"
aqueles que, aos seus olhos, eram impuros).
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