09/01/2020

THALITA KUM 65


THALITA KUM 65 

(Cfr. Lc 8, 49-56)

  

Depois, é a vergonha que o condiciona.

Vergonha pelas faltas, erros e fraquezas que não quer ver conhecidas e identificadas.
Os outros... sempre os outros… não podem tomar conhecimento desse cortejo enorme de misérias pessoais.
O conceito que fazem dele – que pensa que fazem dele – ficaria afectado e comprometido.

Em terceiro lugar é a falta de arrependimento pessoal que o mantém nas trevas.
O seu deficiente critério não identifica as faltas como o que elas realmente são – ofensas a Deus e aos outros -, sentindo uma espécie de indulgência para o que considera apenas “facetas de carácter”, não vê grande necessidade de arrependimento. Isto, sobretudo, quando esse arrependimento, para o ser de facto, teria de ser do conhecimento alheio, como será o caso das ofensas feitas a outros.

Reconhecer o erro é um desprestígio até porque, no fim e ao cabo, ele, tem as suas razões para proceder como procede.
Às vezes guarda uma lista de ofensas e agravos que lhe terão sido feitos por outros. Traz à memória coisas passadas, às vezes há muito tempo, para encontrar uma justificação para muitas coisas que faz. Aplica, sem muitas vezes ter consciência disso, uma espécie de “Lei de Talião” pessoal.

Talvez, depois, seja o orgulho que o impede de emergir para a claridade.
O seu “Eu”, na escuridão, ganha vulto, dimensão.
À luz, exposto à claridade, fica reduzido a uma figura ridícula de uma pessoa cheia de si mesma, tornando insuportável o convívio com os outros.

De resto, os outros não lhe interessam muito, sobretudo se têm problemas, dificuldades.
Ele já tem os seus próprios problemas, as suas inúmeras dificuldades com que se preocupar, o que, traduz a sua atitude egoísta que também o amarra com laço bem robusto à escuridão.

«Tinha todo o aspecto de um perfeito cavalheiro e consideravam-no “um homem de talento”. Assim chamam, em certos círculos, ao tipo especial de homens, engordados à custa de outros, que nada fazem ou querem fazer e que, pela sua eterna vadiagem, trazem no peito, em vez de coração, um pedaço de toucinho.» [1]


(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)



[1] Cfr. dostoievski, O pequeno herói, Europa América, p. 26.

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