(Cfr. Lc 8, 49-56)
O olhar de Jesus!
Um olhar humano e divino, o olhar humano de Deus. Um olhar que arrasta,
convence, atrai, chama.
Mas também é o olhar de tédio quando mira Herodes; de cólera quando expulsa
os vendilhões do Templo; de repreensão quando encara os acusadores da adúltera.
Um olhar que põe a nu os defeitos e erros, que acusa, que repudia, que
afasta.
Jesus fala com o olhar em todas as situações: rindo contentes com a alegria
do filho regressado à casa paterna, deixando correr as lágrimas pelo amigo
morto há já três dias, toldado com a névoa da tristeza na Última Ceia, olhar de
aflição e terror em Getsémani.
Os Seus seguidores mais próximos, não podem esquecer o olhar de Jesus.
Mais que as Suas palavras ou os Seus gestos – mesmo os de maior significado
– o Seu olhar ficou-lhes gravado no coração desde o primeiro momento em que os
encarou, um a um, chamando-os à Sua intimidade, ao Seu círculo mais próximo de
confidentes e amigos.
No nosso círculo de confidentes e amigos – onde levamos a cabo o nosso
“apostolado de amizade e confidência” – conhecem-nos pelo nosso olhar franco,
aberto, claro, bem-disposto?
O nosso olhar inspira confiança?
Transmite tranquilidade?
Perguntas que devemos colocar-nos cada dia.
Os olhos são o espelho da alma, costuma dizer-se, e, que preocupação
devemos ter que, de facto, o sejam!
Com os mesmos olhos com que contemplamos, embevecidos, a Hóstia Santa que o
Sacerdote nos mostra na hora de comungar, poderemos contemplar imagens impuras
ou impróprias?
Os olhos que se perdem na vastidão do infinito Amor de Deus poderão ser os
mesmos que se deixam absorver pela passageira e fugaz imagem do prazer do
momento?
Podem, sim, sabemos que podem!
Somos humanos, fracos, débeis, volúveis. Que remédio
teremos, senão pedir, constantemente, à nossa Mãe do Céu que proteja o nosso
olhar, que guie o nosso olhar?
Que poderemos mais senão implorar que nos ajude a
guardar a vista como um bem precioso e caríssimo que não queremos desperdiçar?
Que mais desejar que manter o olhar de crianças,
límpido, puro, franco e aberto?
«Olho para Ti, olhos nos olhos, e digo-te que Te amo e, não tenho medo que
não acredites, Sei que o vês nos meus olhos. Quero guardar para Ti, - só para
Ti – o meu olhar. Se possível fosse ter estes olhos com que agora Te contemplo,
bem guardados num cofre donde só os retiraria para Te contemplar. Outros olhos,
para o dia-a-dia, seriam “reforçados” com lentes especiais que só me permitissem
ver o que pode ser visto. Ou, se preferires, Senhor, ser cego para tudo quanto
não sejas Tu. A Tua Face que quero contemplar ([1])
tão cedo quanto Tu mo permitires, há-de iluminar os meus olhos com a mesma luz
do Céu, aquela luz onde se movem os anjos e os santos que Te contemplam. Olhos
só para Ti, Senhor, só para Ti, para mais nada os quero a não ser… a não ser…,
para ver as maravilhas que Tu criaste e, por elas, dar-te graças
continuamente». [2]
(AMA,
reflexões sobre o Evangelho, 2006)
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