(Cfr. Lc 8, 49-56)
Com Jesus é diferente.
Não fala de vitórias, nem de batalhas, nem de guerras e, muito menos de
vinganças, de desforra.
A Sua voz serena e grave, tem um tom de suave reconvenção, de
apaziguamento. Não faz acepção de pessoas, não nega a atenção a ninguém. Move-o
o sofrimento, a dor, a angústia dos que d’Ele se acercam. Emociona-Se quando
contempla as praças das cidades pejadas de estropiados, coxos, cegos, destroços
humanos na mais gritante miséria.
E, não obstante a serenidade da Sua voz, este «Eu digo-vos»! tem uma força, um poder que convence, arrasta,
entusiasma.
Muitos têm assistido a coisas extraordinárias: cura de doentes graves,
leprosos que ficam limpos, cegos que passam a ver, possessos tranquilizados e
em paz, tempestades que se convertem em bonança, vagas alterosas que se abatem
em ligeira ondulação e uns milhares de pessoas saciadas com uns poucos de
peixes e de pães. E, não menos estranho, é que todos O ouvem quando fala, não
importa a distância a que esteja e, mais estranho ainda, todos O entendem como
se falasse nas suas próprias línguas.
Os Evangelhos nunca o referem expressamente, mas é evidente, numa multidão
de uns milhares de pessoas alguns ficarão a uma distância considerável do
orador, ou quando vêm gentes de tantos lugares e países, é mais que provável
que muitos não falem ou entendam aramaico. [i]
Quando penso nisto, considero que, de facto, hoje se
passa exactamente a mesma coisa. E, tal, não se deve às tecnologias modernas.
Não!
Jesus fala comigo, sempre, particularmente, esteja eu
onde estiver e, ao mesmo tempo, fala com quem está do outro lado do mundo. Entende
a minha língua, entende todas as línguas. Penso que isto acontece, porque este
Jesus não é meu, é de toda a humanidade.
(AMA,
reflexões sobre o Evangelho, 2006)
[i] Durante o século I,
na terra onde Jesus viveu, sabe-se que eram usadas quatro línguas: aramaico,
hebraico, grego e latim.
De todas elas, a oficial e ao mesmo
tempo a menos empregue era o latim. Usavam-na quase exclusivamente os
funcionários romanos ao conversar entre si, e conheciam-na algumas pessoas
cultas. Não é certo que Jesus tivesse estudado latim, nem que o empregasse na
sua conversação habitual nem na sua pregação.
No que diz respeito ao grego, não
seria surpreendente que Jesus se servisse alguma vez dele, já que muitos dos
camponeses e artesãos da Galileia conheciam esta língua; pelo menos os
rudimentos necessários para uma actividade comercial simples ou para comunicar
com os habitantes das cidades, que na sua maioria gentes de cultura helénica. Também
se empregava na Judeia. Calcula-se que falariam grego entre oito e quinze por
cento dos habitantes de Jerusalém. Apesar de tudo, não se sabe
se Jesus empregou alguma vez o Grego, nem é possível deduzi-lo com certeza de
nenhum texto, ainda que também não seja possível negar essa hipótese. È
possível, por exemplo, que Jesus tivesse falado com Pilatos nessa língua.
Pelo
contrário, as repetidas alusões dos Evangelhos à pregação de Jesus nas
sinagogas e às suas conversas com fariseus sobre os textos da Escritura, tornam
mais que provável que conhecesse e empregasse a língua hebraica nalgumas
ocasiões.
No entanto,
embora Jesus pudesse conhecer e usar algumas vezes o hebraico, é provável que
na conversação corrente e na pregação, Jesus falasse habitualmente em aramaico,
que era a língua de uso diário entre os judeus da Galileia. De facto, em
algumas ocasiões o texto grego dos evangelhos deixa em aramaico algumas
palavras ou frases soltas postas na boca de Jesus; talitha kum (Mc5,41), qorban (Mc 7,11), effathá (Mc 7,34), geena
(Mc 9,43), abba (Mc
14,36), Eli, Eli lemá sabachtani?
(Mc 15,34), ou dos seus interlocutores: rabboni (Mc 10,51).
Os estudos
acerca do suporte linguístico dos evangelhos apontam para que as palavras recolhidas
neles tivessem sido pronunciadas originalmente numa língua semítica: hebraico
ou, mais provavelmente, aramaico.
Na
estrutura peculiar do grego usado nos evangelhos, transparece uma matriz
sintáctica aramaica. O mesmo se pode também deduzir pelo facto de os evangelhos
colocarem na boca de Jesus umas palavras que adquirem uma força especialmente
expressiva quando traduzidas ao aramaico, e de que há palavras que são
utilizadas com uma carga semântica diferente do habitual no grego, e que
resultam de um uso de tipo semítico. Inclusivamente, em algumas ocasiões, ao
traduzir os evangelhos para uma linguagem semítica observam-se no texto algumas
palavras, que estão ocultas no original grego. (Cfr. ww.opusdei.org,
Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de
Navarra, dirigida por Francisco Varo).
(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)
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