02/01/2020

THALITA KUM 58

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THALITA KUM 58

(Cfr. Lc 8, 49-56)


Com Jesus é diferente.

Não fala de vitórias, nem de batalhas, nem de guerras e, muito menos de vinganças, de desforra.

A Sua voz serena e grave, tem um tom de suave reconvenção, de apaziguamento. Não faz acepção de pessoas, não nega a atenção a ninguém. Move-o o sofrimento, a dor, a angústia dos que d’Ele se acercam. Emociona-Se quando contempla as praças das cidades pejadas de estropiados, coxos, cegos, destroços humanos na mais gritante miséria.

Fala em Seu nome. Diz sempre: «Eu digo-vos»! [1]

E, não obstante a serenidade da Sua voz, este «Eu digo-vos»! tem uma força, um poder que convence, arrasta, entusiasma.

Muitos têm assistido a coisas extraordinárias: cura de doentes graves, leprosos que ficam limpos, cegos que passam a ver, possessos tranquilizados e em paz, tempestades que se convertem em bonança, vagas alterosas que se abatem em ligeira ondulação e uns milhares de pessoas saciadas com uns poucos de peixes e de pães. E, não menos estranho, é que todos O ouvem quando fala, não importa a distância a que esteja e, mais estranho ainda, todos O entendem como se falasse nas suas próprias línguas.

Os Evangelhos nunca o referem expressamente, mas é evidente, numa multidão de uns milhares de pessoas alguns ficarão a uma distância considerável do orador, ou quando vêm gentes de tantos lugares e países, é mais que provável que muitos não falem ou entendam aramaico. [i]
Quando penso nisto, considero que, de facto, hoje se passa exactamente a mesma coisa. E, tal, não se deve às tecnologias modernas.

Não!

Jesus fala comigo, sempre, particularmente, esteja eu onde estiver e, ao mesmo tempo, fala com quem está do outro lado do mundo. Entende a minha língua, entende todas as línguas. Penso que isto acontece, porque este Jesus não é meu, é de toda a humanidade.

(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)



[1] Cfr. Mc 12, 1-8.




[i] Durante o século I, na terra onde Jesus viveu, sabe-se que eram usadas quatro línguas: aramaico, hebraico, grego e latim.
De todas elas, a oficial e ao mesmo tempo a menos empregue era o latim. Usavam-na quase exclusivamente os funcionários romanos ao conversar entre si, e conheciam-na algumas pessoas cultas. Não é certo que Jesus tivesse estudado latim, nem que o empregasse na sua conversação habitual nem na sua pregação.
No que diz respeito ao grego, não seria surpreendente que Jesus se servisse alguma vez dele, já que muitos dos camponeses e artesãos da Galileia conheciam esta língua; pelo menos os rudimentos necessários para uma actividade comercial simples ou para comunicar com os habitantes das cidades, que na sua maioria gentes de cultura helénica. Também se empregava na Judeia. Calcula-se que falariam grego entre oito e quinze por cento dos habitantes de Jerusalém. Apesar de tudo, não se sabe se Jesus empregou alguma vez o Grego, nem é possível deduzi-lo com certeza de nenhum texto, ainda que também não seja possível negar essa hipótese. È possível, por exemplo, que Jesus tivesse falado com Pilatos nessa língua.
Pelo contrário, as repetidas alusões dos Evangelhos à pregação de Jesus nas sinagogas e às suas conversas com fariseus sobre os textos da Escritura, tornam mais que provável que conhecesse e empregasse a língua hebraica nalgumas ocasiões.
No entanto, embora Jesus pudesse conhecer e usar algumas vezes o hebraico, é provável que na conversação corrente e na pregação, Jesus falasse habitualmente em aramaico, que era a língua de uso diário entre os judeus da Galileia. De facto, em algumas ocasiões o texto grego dos evangelhos deixa em aramaico algumas palavras ou frases soltas postas na boca de Jesus; talitha kum (Mc5,41), qorban (Mc 7,11), effathá (Mc 7,34), geena (Mc 9,43), abba (Mc 14,36), Eli, Eli lemá sabachtani? (Mc 15,34), ou dos seus interlocutores: rabboni (Mc 10,51).
Os estudos acerca do suporte linguístico dos evangelhos apontam para que as palavras recolhidas neles tivessem sido pronunciadas originalmente numa língua semítica: hebraico ou, mais provavelmente, aramaico.
Na estrutura peculiar do grego usado nos evangelhos, transparece uma matriz sintáctica aramaica. O mesmo se pode também deduzir pelo facto de os evangelhos colocarem na boca de Jesus umas palavras que adquirem uma força especialmente expressiva quando traduzidas ao aramaico, e de que há palavras que são utilizadas com uma carga semântica diferente do habitual no grego, e que resultam de um uso de tipo semítico. Inclusivamente, em algumas ocasiões, ao traduzir os evangelhos para uma linguagem semítica observam-se no texto algumas palavras, que estão ocultas no original grego. (Cfr. ww.opusdei.org, Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo).
(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)

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