01/01/2020

THALITA KUM 57


THALITA KUM 57 

(Cfr. Lc 8, 49-56)



«Acompanhava-o grande multidão, que o apertava».

A multidão segue, sem hesitar, Jesus que caminha.
Há à Sua volta como que um ar de mistério, algo grande, extraordinário, fora do comum. As pessoas estão ansiosas, não obtêm respostas para as suas preocupações, não só o futuro, mas também o imediato é difícil, problemático.

A ocupação romana é um peso insuportável e a cada momento surgem paladinos mais ou menos exaltados que procuram nas multidões a força que lhes falta. Uns têm carisma e conseguem arrastar durante algum tempo alguns seguidores, outros, nem isso, são apenas uns ladinos em busca de apoios e sustento. Destes todos, nenhum se enfrenta com os Fariseus ou os Príncipes dos Sacerdotes que, supostamente, estarão do seu lado. Vituperam contra o povo que os domina e explora e, que, na sua exaltada apreciação, representa todo o mal sobre a terra. E, a verdade é que o conquistador romano os deixa bastante à vontade. Não se preocupa com as suas disputas estéreis sobre problemas duma religião que, de resto, não entende. As coisas parecem-lhe muito complicadas, com leis contraditórias que, numa grande parte, apenas servem para sobrecarregar ainda mais o povo anónimo com regras e mais regras muitas das quais tocam o ridículo e absurdo.

De vez em quando, se a agitação for maior e houver sedição, atiram para os calabouços com dois ou três dos mais notórios, castigam-nos para “dar exemplo” e, depois, devolvem-nos às ruas.

Mas as gentes continuam a seguir estas luminárias, sempre na esperança de algo melhor. Há séculos que lhes dizem que há-de vir um Salvador, alguém que, empunhando um facho de luz irresistível, guiará o povo rompendo as trevas do cativeiro, devolvendo a honra, o orgulho, a alegria à população espezinhada.
Com o passar dos séculos, este personagem anunciado pelos profetas foi-se transformando num ser fantástico, mítico, com poderes e capacidades extraordinárias, um guerreiro imbatível capaz de levar de vencida o maior e mais poderoso império da terra. Foram-se desvanecendo os sinais anunciados como prenúncio da chegada deste salvador, esqueceram-se a maior parte das profecias que falavam de morte, sacrifício, imolação.

O Salvador será um vencedor, um atleta, um líder de atracção irresistível.


(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)

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