(Cfr. Lc 8, 49-56)
«Acompanhava-o grande multidão, que o
apertava».
A multidão
segue, sem hesitar, Jesus que caminha.
Há à Sua
volta como que um ar de mistério, algo grande, extraordinário, fora do comum.
As pessoas estão ansiosas, não obtêm respostas para as suas preocupações, não
só o futuro, mas também o imediato é difícil, problemático.
A ocupação
romana é um peso insuportável e a cada momento surgem paladinos mais ou menos
exaltados que procuram nas multidões a força que lhes falta. Uns têm carisma e
conseguem arrastar durante algum tempo alguns seguidores, outros, nem isso, são
apenas uns ladinos em busca de apoios e sustento. Destes todos, nenhum se enfrenta
com os Fariseus ou os Príncipes dos Sacerdotes que, supostamente, estarão do
seu lado. Vituperam contra o povo que os domina e explora e, que, na sua
exaltada apreciação, representa todo o mal sobre a terra. E, a verdade é que o
conquistador romano os deixa bastante à vontade. Não se preocupa com as suas
disputas estéreis sobre problemas duma religião que, de resto, não entende. As
coisas parecem-lhe muito complicadas, com leis contraditórias que, numa grande
parte, apenas servem para sobrecarregar ainda mais o povo anónimo com regras e
mais regras muitas das quais tocam o ridículo e absurdo.
De vez em
quando, se a agitação for maior e houver sedição, atiram para os calabouços com
dois ou três dos mais notórios, castigam-nos para “dar exemplo” e, depois, devolvem-nos
às ruas.
Mas as
gentes continuam a seguir estas luminárias, sempre na esperança de algo melhor.
Há séculos que lhes dizem que há-de vir um Salvador, alguém que, empunhando um
facho de luz irresistível, guiará o povo rompendo as trevas do cativeiro,
devolvendo a honra, o orgulho, a alegria à população espezinhada.
Com o passar dos séculos, este personagem anunciado pelos profetas foi-se
transformando num ser fantástico, mítico, com poderes e capacidades
extraordinárias, um guerreiro imbatível capaz de levar de vencida o maior e
mais poderoso império da terra. Foram-se desvanecendo os sinais anunciados como
prenúncio da chegada deste salvador, esqueceram-se a maior parte das profecias
que falavam de morte, sacrifício, imolação.
O Salvador será um vencedor, um atleta, um líder de atracção irresistível.
(AMA,
reflexões sobre o Evangelho, 2006)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.