(Cfr. Lc 8, 49-56)
Às vezes – quantas
vezes! – parece que estamos sozinhos no mundo.
Rodeados de
pessoas, no afã da vida diária, no corre-corre de todos os dias, mesmo assim,
estamos sozinhos.
Sentimo-nos
“individuais” como se, no mundo, não existisse mais ninguém senão nós. Rezamos
e, a oração sai insípida, árida. Sentimo-nos desconfortáveis, achamos que “não
vale a pena” e… deixamo-nos ir. Logo entra o desânimo, o descoroçoamento e, a
tempo, a tristeza.
«Clamei bem alto e
não me ouvias! No denso nevoeiro da doença, mergulhado num mar povoado de
estranhos seres, sem saber se estava acordado ou adormecido, sem ter a noção
onde começava e acabava o meu corpo: a cabeça... os pés... as mãos...;
“aparafusado” numa cama que fazia parte de mim... os calcanhares...? (como é
possível doerem tanto, os calcanhares?!...), clamei por Ti e não me ouvias! E,
eu, mergulhava outra vez naquele oceano de perdição e voltava à superfície e de
novo me perdia. Havia uma espécie de estratificação dos pensamentos, tinha tudo
ordenado, muito bem organizado na minha cabeça: azuis, encarnados, verdes...
dois azuis, três verdes... não... agora é um verde e depois... três ou quatro
doutra cor qualquer. (decidi que as cores não eram importantes)[i]. Nada fazia
sentido, estava vivo...?; morto...?; moribundo...? calado...?; aos gritos...? e
o ar? Sim o ar: era solene, composto, digno ou, pelo contrário tinha a boca
retorcida num esgar, os olhos vítreos esbugalhados, o gesto descontrolado?
‘Ne timeas!’ Ouvi-te, finalmente!
Percebi,
então, só então, que estava tão preocupado com a minha doença, o meu
sofrimento, que ficara incapacitado para Te ouvir...
Tranquilo, fui
repetindo até adormecer: Ofereço..., ofereço..., ofereço!
(AMA,
reflexões sobre o Evangelho, 2006)
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