09/12/2019

THALITA KUM 33


THALITA KUM 33 

(Cfr. Lc 8, 49-56)


Chamá-los-á também para testemunhar a Sua Transfiguração, para verem com os seus olhos tão humanos a glória do Filho de Deus. Ainda aqui, não entendiam nada.
Com os olhos carregados de sono, a Pedro só lhe ocorre dizer que se sente bem, que não quer afastar-se daquela visão, daquele local.
Depois, nos momentos derradeiros, convidá-los-á, aos mesmos três, para O acompanharem no Horto das Oliveiras para testemunharem a Sua Agonia.

Mais uma vez, o sono vence-os.
Este sono é a figura do desânimo, da preocupação, da incerteza, do medo.

«A oração do Senhor prolongava-se entre lágrimas e eles não penetraram no seu mistério. A tristeza ia afundando-os num sopor paralisante. E adormeceram. O sono foi para eles a saída psicológica da tristeza, enquanto Jesus a superava permanecendo em vigília, orando com perseverança, clamando ao Pai de joelhos, sem Se dispensar do esforço». [1]

Tristeza e sono… como andam juntas estas “fraquezas” do homem!

Consentir na tristeza é caminho certo para adormecer. Ficamos absortos no problema ou na situação que nos aflige e nos entristece.
Tudo parece cinzento à nossa volta, não vemos nem saída nem escapatória e, se nos deixarmos ir por aí, o mais certo é os nossos olhos deixarem de ver o que realmente se passa à nossa volta e cerrarem-se com sono.

‘Eu…? Não!’ Dizemos, espantados com tal possibilidade, ‘comigo isso não acontece, nunca estou triste!’

Será verdade?

Todas as vezes que nos detemos a pensar no que não temos e desejaríamos ter, porque pensamos que nos faz falta, no que faríamos se as circunstâncias fossem as que consideramos ideais; quando deixamos insinuar-se a suspeita, a pequena inveja, a nossa vontade de sobressair, de sermos notados, talvez mais “queridos” que os outros; quando nos revemos com prazer e gosto no que fizemos, como falámos, como fomos “certeiros” na nossa avaliação, como nos olharam com admiração… aí, não estamos tristes, bem pelo contrário, sentimo-nos contentes, felizes até, talvez, eufóricos.
E, a tristeza, que tem a ver com isto, que, afinal, são coisas pequenas que procuramos reprimir de imediato?

Tem, e muito, a ver.
Porque essa alegria e esse contentamento depressa se desvanecem quando nos damos conta da nossa fraqueza, do pouco que somos, da nossa tendência para considerar detidamente tudo aquilo que é agradável aos nossos sentidos e, em contrapartida, a fuga ao sacrifício, à entrega, à renúncia, à simples contenção de pensamentos, atitudes e palavras.

«Se vês que adormeço; se descobres que me assusta a dor; se notas que me detenho ao ver mais de perto a Cruz, não me deixes! Diz-me como a Pedro, como a Tiago, como a João, que necessitas da minha correspondência, do meu amor. Diz-me para seguir-te, para não voltar a deixar-te abandonado com os que tramam a Tua morte, tenho que passar por cima do sono, das minhas paixões, da comodidade.» [2]

(AMA, reflexões sobre o Evangelho, 2006)



[1] Cfr. d. javier echevarría, Getsemani, cap. V, 4.
[2] M. Montenegro, Via Crucis, Palabra, 6ª Ed., Madrid, 1971, nr. 48.

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