Amigos
de Deus
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A importância da luta
Devo
prevenir-vos contra uma artimanha de que Satanás - ele nunca tira férias! - não
desdenha servir-se para nos arrancar a paz.
Talvez
em algum instante se insinue a dúvida, a tentação de pensar que se retrocede
lamentavelmente ou de que mal se avança; até ganha força a convicção de que,
apesar do empenho por melhorar, se piora.
Garanto-vos
que, em regra, esse juízo pessimista só reflecte uma falsa ilusão, um engano
que convém repelir.
Costuma
suceder, nesses casos, que a alma se torna mais atenta, a consciência mais
delicada, o amor mais exigente; ou, então, acontece que a acção da graça
ilumina com mais intensidade e saltam aos olhos muitos pormenores que passariam
inadvertidos na penumbra. Seja o que for, temos de examinar atentamente essas
inquietações, porque o Senhor, com a sua luz, pede-nos mais humildade ou mais
generosidade.
Lembrai-vos
de que a Providência de Deus nos conduz sem pausas e não regateia o seu auxílio
- com milagres portentosos e com milagres pequenos - para fazer progredir os
seus filhos.
Militia est vita hominis
super terram, et sicut dies mercenarii, dies eius, a vida do homem sobre a terra é milícia e os seus dias
decorrem com o peso do trabalho.
Ninguém
escapa a este imperativo; nem os comodistas que põem resistência em aceitá-lo:
desertam das fileiras de Cristo e afadigam-se noutras contendas para
satisfazerem a sua preguiça, a sua vaidade, as suas ambições mesquinhas; são
escravos dos seus caprichos.
Se
a situação de luta é conatural à criatura humana, procuremos cumprir as nossas
obrigações com tenacidade, rezando e trabalhando com boa vontade, com rectidão
de intenção, com o olhar posto no que Deus quer.
Assim
ficarão saciadas as nossas ânsias de Amor e progrediremos no caminho para a
santidade, embora, ao terminar a jornada, comprovemos que ainda falta percorrer
muita distância.
Renovai
todas as manhãs com um serviam
decidido - servir-te-ei, Senhor! - o propósito de não ceder, de não cair na
preguiça ou na apatia, de enfrentar as tarefas com mais esperança, com mais
optimismo, persuadidos de que, se sairmos vencidos em alguma escaramuça,
poderemos superar esse desaire com um acto de amor sincero.
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A
virtude da esperança - certeza de que Deus nos governa com a sua providente
omnipotência, de que nos dá os meios necessários - fala-nos da contínua bondade
do Senhor para com os homens, para contigo, para comigo, sempre disposto a
ouvir-nos, porque jamais se cansa de escutar.
Interessam-lhe
as tuas alegrias, os teus êxitos, o teu amor e também as tuas dificuldades, a
tua dor, os teus fracassos.
Por
isso, não esperes n'Ele somente quando tropeçares por causa da tua debilidade;
dirige-te ao teu Pai do Céu nas circunstâncias favoráveis e nas adversas,
acolhendo-te à sua misericordiosa protecção.
E
a certeza da nossa nulidade pessoal - não é necessária grande humildade para
reconhecer esta realidade, pois somos uma autêntica multidão de zeros -
converter-se-á em fortaleza irresistível, porque à esquerda do nosso eu estará
Cristo, e que cifra incomensurável assim resulta!
O
Senhor é a minha fortaleza e o meu refúgio, quem temerei?
Acostumai-vos
a ver Deus por trás de tudo, a saber que Ele nos aguarda sempre, que nos
contempla e nos pede justamente que o sigamos com lealdade, sem abandonarmos o
lugar que nos corresponde neste mundo.
Temos
de caminhar com afectuosa vigilância, com uma sincera preocupação de lutar,
para não perder a sua divina companhia.
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Esta
luta de um filho de Deus não implica tristes renúncias, obscuras resignações,
privações de alegria; é a reacção do enamorado que, enquanto trabalha e
enquanto descansa, enquanto se alegra e enquanto padece, põe o seu pensamento
na pessoa amada e por ela enfrenta gostosamente os diferentes problemas.
No
nosso caso, além disso, como Deus - insisto - não perde batalhas, nós, com Ele,
seremos vencedores.
Tenho
a experiência de que, se me ajusto fielmente ao que quer de mim, Ele me faz
descansar em verdes prados e me conduz a águas refrescantes. Reconforta a minha
alma e guia-me pelo amor do seu nome.
Mesmo
que atravesse um vale tenebroso, não temo nenhum mal, porque Tu estás comigo.
A
tua clava e o teu cajado são o meu consolo.
Nas
batalhas da alma, a estratégia muitas vezes é questão de tempo, de aplicar o
remédio conveniente, com paciência, com pertinácia. Aumentai os actos de
esperança.
Recordo-vos
que sofrereis derrotas, ou que passareis por altos e baixos - Deus permita que
sejam imperceptíveis - na vossa vida interior, porque ninguém está livre desses
percalços.
Mas
o Senhor, que é omnipotente e misericordioso, concedeu-nos os meios idóneos
para vencer.
Basta
que os empreguemos, como comentava antes, com a resolução de começar e
recomeçar em cada momento, se for preciso.
Recorrei
semanalmente - e sempre que o necessiteis, sem dar lugar aos escrúpulos - ao
santo Sacramento da Penitência, ao sacramento do perdão divino.
Revestidos
da graça, caminharemos por entre os montes e subiremos a encosta do cumprimento
do dever cristão, sem nos determos.
Utilizando
estes recursos com boa vontade e rogando ao Senhor que nos conceda uma
esperança cada dia maior, possuiremos a alegria contagiosa dos que se sabem
filhos de Deus: Se Deus está connosco, quem nos poderá derrotar?
Optimismo,
portanto.
Incitados
pela força da esperança, lutaremos para apagar a mancha viscosa que espalham os
semeadores do ódio e redescobriremos o mundo com uma perspectiva jubilosa,
porque saiu formoso e limpo das mãos de Deus, e restituir-lho-emos assim belo,
se aprendermos a arrepender-nos.
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Com o olhar no Céu
Cresçamos
na esperança, que deste modo nos consolidaremos na fé, verdadeiro fundamento
das coisas que se esperam e prova das que não se vêem.
Cresçamos
nesta virtude, que é suplicar ao Senhor que aumente a sua caridade em nós,
porque só se confia verdadeiramente no que se ama com todas as forças.
E
vale a pena amar o Senhor.
Vós
haveis experimentado, como eu, que a pessoa enamorada se entrega confiante, com
uma sintonia maravilhosa, em que os corações batem num mesmo querer.
E
que será o Amor de Deus?
Não
sabeis que Cristo morreu por cada um de nós?
Sim,
por este nosso coração pobre, pequeno, se consumou o sacrifício redentor de
Jesus.
Frequentemente,
o Senhor fala-nos do prémio que nos ganhou com a sua Morte e Ressurreição.
Vou
preparar um lugar para vós.
Depois
que eu tiver ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e tomar-vos-ei
comigo para que, onde eu estou, estejais Vós também.
O
Céu é a meta do nosso caminho terreno. Jesus Cristo precedeu-nos e ali, na
companhia da Virgem e de S. José - a quem tanto venero - dos Anjos e dos
Santos, aguarda a nossa chegada.
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Nunca
faltaram os hereges - mesmo na época apostólica - que pretenderam arrancar a
esperança aos cristãos.
Se
se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns de entre vós que
não há ressurreição dos mortos?
Pois,
se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou.
E,
se Cristo não ressuscitou, é pois vã a nossa pregação, e é também vã a nossa
fé....
A
divindade do nosso caminho - Jesus, caminho, verdade e vida - é penhor seguro
de que leva à felicidade eterna, se não nos afastarmos d'Ele.
Como
será maravilhoso quando o nosso Pai nos disser: servo bom e fiel, porque foste
fiel nas coisas pequenas, eu te confiarei as grandes: entra no gozo do teu
Senhor!
Esperançados!
Esse
é o prodígio da alma contemplativa.
Vivemos
de Fé, de Esperança e de Amor; e a Esperança torna-nos poderosos.
Recordais-vos
de S. João?
Eu
vos escrevo, jovens, porque sois valentes e a palavra de Deus permanece em vós
e vencestes o maligno.
Deus
urge-nos, para a juventude eterna da Igreja e de toda a humanidade.
Podeis
transformar em divino todo o humano, como o rei Midas convertia em ouro tudo o
que tocava!
Nunca
esqueçais que depois da morte vos receberá o Amor.
E
no amor de Deus encontrareis, além do mais, todos os amores limpos que tenhais
tido na terra.
O
Senhor dispôs que passemos esta breve jornada da nossa existência, trabalhando
e, como o seu Unigénito, fazendo o bem.
Entretanto,
temos de estar alerta, à escuta daquelas chamadas que Santo Inácio de Antioquia
notava na sua alma, ao aproximar-se a hora do martírio: vem para junto do Pai,
vem para o teu Pai que te espera ansioso.
Peçamos
a Santa Maria, Spes nostra, que nos
inflame no santo empenho de habitarmos todos juntos na casa do Pai.
Nada
nos poderá preocupar, se decidirmos firmar o coração no desejo da verdadeira
Pátria: o Senhor nos conduzirá com a sua graça e impelirá a barca com bom vento
para tão claras margens.
(cont)
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