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Gens Sancta,
povo santo, composto por criaturas com misérias.
Esta
aparente contradição marca um aspecto do mistério da Igreja.
A
Igreja, que é divina, é também humana, porque está formada por homens e os
homens têm defeitos:
omnes homines terra et
Cinis, todos somos pó e cinza.
Nosso
Senhor Jesus Cristo, que funda a Santa Igreja, espera que os membros deste povo
se empenhem continuamente em adquirir a santidade.
Nem
todos respondem com lealdade à sua chamada.
Por
isso, na Esposa de Cristo pode encontrar-se, ao mesmo tempo, a maravilha do
caminho de salvação e as misérias daqueles que o percorrem.
O
Divino Redentor dispôs que a comunidade por Ele fundada, fosse uma sociedade
perfeita no seu género e dotada de todos os elementos jurídicos e sociais, para
perpetuar neste mundo a obra da Redenção...
Se
na Igreja se descobre alguma coisa que manifeste a debilidade da nossa condição
humana, não deve atribuir-se à sua constituição jurídica, mas antes à
deplorável inclinação dos indivíduos para o mal; inclinação que o seu Divino
Fundador permite mesmo nos mais altos membros do Corpo Místico, para que seja
provada a virtude das ovelhas e dos pastores, e para que em todos aumentem os
méritos da fé cristã.
Essa
é a realidade da Igreja, agora e aqui.
Por
isso, é compatível a santidade da Esposa de Cristo com a existência de pessoas
com defeitos no seu seio.
Cristo
não excluiu os pecadores da sociedade por Ele fundada.
Se,
portanto, alguns membros se encontram achacados com doenças espirituais, nem
por isso deve diminuir o nosso amor à Igreja.
Pelo
contrário, há-de até aumentar a nossa compaixão pelos seus membros.
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Demonstraria
pouca maturidade aquele que, na presença de defeitos e misérias que encontrasse
em alguma pessoa pertencente à Igreja - por mais alto que estivesse colocada em
virtude da sua função -, sentisse diminuir a sua fé na Igreja e em Cristo.
A
Igreja não é governada por Pedro, João ou Paulo; é governada pelo Espírito
Santo e o Senhor prometeu que permanecerá a seu lado todos os dias, até à
consumação dos séculos.
Escutai
o que diz São Tomás, que tanto se debruçou sobre este ponto, a respeito da recepção
dos Sacramentos, que são causa e sinal da graça santificante: o que se abeira
dos Sacramentos, recebe-os certamente do ministro da Igreja, não enquanto é tal
pessoa, mas enquanto ministro da Igreja.
Por
isso, enquanto a Igreja lhe permitir exercer o seu ministério, o que receber
das suas mãos o Sacramento, não participa do pecado do ministro indigno, mas
comunica com a Igreja, que o tem por ministro.
Quando
o Senhor permitir que a fraqueza humana apareça, a nossa reacção há-de ser a
mesma que teríamos se víssemos a nossa mãe doente ou tratada com frieza.
Amá-la
mais, ter para com ela mais manifestações externas e internas de carinho.
Se
amamos a Igreja, nunca aparecerá em nós o interesse mórbido de pôr à mostra,
como culpa da Mãe, as misérias de alguns dos seus filhos.
A
Igreja, Esposa de Cristo, não tem por que entoar nenhum mea culpa.
Nós
sim: mea culpa, mea culpa, mea maxima
culpa!
Este
é o verdadeiro meaculpismo, o pessoal, e não o que ataca a Igreja, apontando e
exagerando os defeitos humanos, que, na Mãe Santa, são uma consequência da
acção n'Ela exercida pelos homens.
Acção
que, aliás, só vai até onde os homens podem, porque nunca chegarão a destruir -
nem sequer a tocar - aquilo a que chamávamos a santidade original e
constitutiva da Igreja.
Por
isso, Deus Nosso Senhor comparou, com toda a propriedade, a Igreja à eira onde
se amontoa a palha e o trigo, de que sairá o pão para a mesa e para o altar;
comparou-a também a uma rede varredeira ex
omni genere piscium congreganti, capaz de apanhar peixes bons e maus que
depois serão separados.
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O
mistério da santidade da Igreja - essa luz original, que pode ficar oculta pela
sombra das baixezas humanas - exclui todo e qualquer pensamento de suspeita ou
de dúvida sobre a beleza da nossa Mãe. Nem se pode tolerar, sem protesto, que
outros a insultem.
Não
procuremos na Igreja os lados vulneráveis para a crítica, como alguns que não
demonstram ter fé nem ter amor.
Não
posso conceber como é possível ter um carinho verdadeiro pela nossa mãe e falar
dela com frieza.
A
nossa Mãe é Santa, porque nasceu pura e continuará sem mácula por toda a
eternidade.
Se,
por vezes, não soubermos descobrir o seu rosto formoso, limpemos nós os olhos;
se notamos que a sua voz não nos agrada, tiremos dos nossos ouvidos a dureza
que nos impede de ouvir, no seu tom, os assobios do Pastor amoroso.
A
nossa Mãe é Santa, com a santidade de Cristo, à qual está unida no corpo - que
somos todos nós - e no espírito, que é o Espírito Santo, assente também no
coração de cada um de nós, se nos conservamos na graça de Deus.
Santa,
Santa, Santa! ousamos cantar à Igreja, evocando o hino em honra da Santíssima
Trindade.
Tu
és Santa, Igreja, minha Mãe, porque foste fundada pelo Filho de Deus, Santo; és
Santa, porque assim o dispôs o Pai, fonte de toda a santidade; és Santa, porque
te assiste o Espírito Santo que mora na alma dos fiéis, a fim de reunir os
filhos do Pai, que hão-de habitar na Igreja do Céu, a Jerusalém eterna.
SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
(cont)
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