Amigos
de Deus
266
Os
discípulos, todavia - escreve S. João - não sabiam que era Jesus. Disse-lhes,
pois, Jesus: Moços, tendes alguma coisa de comer?
Esta
cena tão familiar de Cristo, a mim, enche-me de alegria.
Que
diga isto Jesus Cristo, Deus!
Ele,
que já tem corpo glorioso!
Lançai
a rede para o lado direito da barca e encontrareis.
Lançaram
a rede e já não a podiam tirar por causa da grande quantidade de peixes.
Agora
compreendem.
Recordam
o que tinham ouvido tantas vezes dos lábios do Mestre: pescadores de homens,
apóstolos!...
E
compreendem que tudo é possível, porque é Ele quem dirige a pesca.
Então
aquele discípulo que Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor!
O
amor vê.
E
de longe.
O
amor é o primeiro a captar aquela delicadeza.
O
Apóstolo adolescente, com o firme carinho que sentia por Jesus, pois amava
Cristo com toda a pureza e toda a ternura de um coração que nunca se
corrompera, exclamou: É o Senhor!
Simão
Pedro, mal ouviu dizer que era o Senhor, cingiu a túnica e lançou-se ao mar.
Pedro
é a fé.
E lança-se ao mar, com uma audácia
maravilhosa.
Com
o amor de João e a fé de Pedro, aonde podemos nós chegar!?
267
As almas são de Deus
Os
outros discípulos foram com a barca, porque não estavam distantes de terra,
senão duzentos côvados, tirando a rede cheia de peixes. Em seguida põem a pesca
aos pés do Senhor, porque é sua, para que aprendamos que as almas são de Deus,
que ninguém nesta terra pode atribuir a si mesmo essa propriedade, que o
apostolado da Igreja - a palavra e a realidade da salvação - não se baseia no
prestígio de algumas pessoas, mas na graça divina.
Jesus
Cristo interroga Pedro por três vezes, como se lhe quisesse dar a oportunidade
de reparar a sua tripla negação.
Pedro
já aprendeu, escarmentado com a sua própria miséria: está profundamente
convencido de que são inúteis aqueles seus alardes temerários; tem consciência
da sua debilidade.
Por
isso, põe tudo nas mãos de Cristo: Senhor, tu sabes que eu te amo... Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te
amo.
E
que responde Cristo?
Apascenta os meus
cordeiros; apascenta as minhas ovelhas.
Não
as tuas, não as vossas; as minhas!
Porque
foi Ele quem criou o homem, Ele quem o redimiu, Ele quem comprou cada alma, uma
a uma, repito, com o preço do seu Sangue.
Quando
os donatistas, no século V, lançavam os seus ataques contra os católicos,
diziam ser impossível que o bispo de Hipona, Agostinho, professasse a verdade,
porque tinha sido um grande pecador. E Santo Agostinho sugeria aos seus irmãos
na fé como haviam de replicar: Agostinho é bispo na Igreja Católica.
Ele
leva a carga, de que há-de dar contas a Deus.
Conheci-o
entre os bons.
Se
é mau, ele o sabe; se é bom, nem por isso deposito nele a minha esperança.
Porque
a primeira coisa que aprendi na Igreja Católica foi a não pôr a minha esperança
num homem.
Não
fazemos o nosso apostolado.
Então,
como havemos de dizer?
Fazemos
- porque Deus o quer, porque assim no-lo mandou: ide por todo o mundo e pregai
o Evangelho - o apostolado de Cristo.
Os
erros são nossos; os frutos, do Senhor.
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Audácia para falar de Deus
E
como realizaremos esse apostolado?
Antes
de mais, com o exemplo, vivendo de acordo com a Vontade do Pai, como Jesus
Cristo nos revelou com a sua vida e os seus ensinamentos.
Fé
verdadeira é aquela que não permite que as acções contradigam o que se afirma
com as palavras.
Devemos
medir a autenticidade da nossa fé examinando a nossa conduta pessoal. Se não
nos esforçamos por realizar com os nossos actos o que confessamos com os
lábios, não somos sinceramente crentes
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Vem
agora a propósito recordar um episódio que põe em evidência o esplêndido vigor
apostólico dos primeiros cristãos.
Não
tinha passado um quarto de século desde que Jesus subira aos céus e já em
muitas cidades e povoados se propagava a sua fama.
A
Éfeso chega um homem chamado Apolo, varão eloquente e versado nas Escrituras.
Estava
instruído no caminho do Senhor; pregava com fervor de espírito e ensinava com
exactidão o que dizia respeito a Jesus, embora só conhecesse o baptismo de
João.
Na
mente desse homem já se tinha insinuado a luz de Cristo.
Ouvira
falar d'Ele e anuncia-o aos outros.
Mas
ainda lhe faltava um pouco de caminho para se informar melhor, abraçar
totalmente a fé e amar deveras o Senhor.
Áquila
e Priscila, um casal em que ambos são cristãos, ouvem as suas palavras e não
ficam inactivos, indiferentes.
Não
pensam: este já sabe bastante; não temos por que lhe dar lições.
Como
eram almas com autêntica preocupação apostólica, foram ter com Apolo,
levaram-no consigo e instruíram-no mais a fundo na doutrina do Senhor.
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Admirai
também o comportamento de S. Paulo: prisioneiro, por divulgar os ensinamentos
de Cristo, não desaproveita ocasião alguma para difundir o Evangelho. Diante de
Festo e Agripa, não duvida em declarar: Graças
ao auxílio de Deus, perseverei até ao dia de hoje, dando testemunho da verdade
a pequenos e grandes, não pregando senão o que Moisés e os profetas disseram
que havia de suceder: que Cristo havia de padecer, e que seria o primeiro a
ressuscitar dos mortos, e que anunciaria a luz a este povo e aos gentios.
O
apóstolo não se cala, não oculta a sua fé nem a actividade apostólica que tinha
provocado o ódio dos seus perseguidores; continua a anunciar a salvação a toda
a gente.
E
com uma audácia maravilhosa enfrenta-se com Agripa: Crês, ó rei Agripa, nos profetas? Eu sei que crês.
Quando
Agripa comenta: Por pouco não me
persuades a fazer-me cristão, Paulo disse-lhe: Prouvera a Deus que, por pouco ou muito, não somente tu, mas também
quantos me ouvem se fizessem hoje tais como eu sou, menos estas cadeias.
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Donde
tirava S. Paulo esta força?
Omnia possum in eo qui me
confortat!
Tudo
posso, porque só Deus me dá esta fé, esta esperança, esta caridade.
Custa-me
muito acreditar na eficácia sobrenatural de um apostolado que não esteja
apoiado, solidamente centrado, numa vida de contínua intimidade com o Senhor.
E
isto no meio do trabalho, dentro de casa ou no meio da rua, com todos os
problemas mais ou menos importantes que surgem todos o dias.
Em
qualquer sítio onde se esteja, mas com o coração em Deus.
E
então as nossas palavras e as nossas acções - até as nossas misérias! -
exalarão o bonus odor Christi, o bom
odor de Cristo, que os outros forçosamente hão-de sentir: aí está um verdadeiro
cristão.
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Se
cedesses à tentação de perguntar a ti mesmo: quem me manda a mim meter-me
nisto? teria de responder-te: manda-to, pede-to o próprio Cristo.
A
messe é grande e os operários são poucos.
Rogai,
pois, ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe.
Não
digas, comodamente: eu para isto não sirvo; para isto já há outros; não estou
feito para isto...
Não.
Para
isto não há outros.
Se
tu pudesses falar assim, todos podiam dizer a mesma coisa.
O
pedido de Cristo dirige-se a todos e cada um dos cristãos. Ninguém está
dispensado: nem por razões de idade, nem de saúde, nem de ocupação.
Não
há desculpas de nenhum género.
Ou
produzimos frutos de apostolado ou a nossa fé será estéril.
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Além
disso, quem disse que para falar de Cristo, para difundir a sua doutrina, era
preciso fazer coisas especiais, fora do comum?
Faz
a tua vida normal; trabalha onde estás a trabalhar, procurando cumprir os
deveres do teu estado, acabar bem o que é próprio da tua profissão ou do teu
ofício, superando-te, melhorando-te dia-a-dia.
Sê
leal, compreensivo com os outros e exigente contigo mesmo.
Sê
mortificado e alegre.
Será
esse o teu apostolado.
E,
sem saberes porquê, tendo perfeita consciência das tuas misérias, os que te
rodeiam virão ter contigo e, numa conversa natural, simples - à saída do
trabalho, numa reunião familiar, no autocarro, ao dar um passeio, em qualquer
parte - falareis de inquietações que em todas as almas existem, embora às vezes
alguns não queiram dar por isso.
Mas
cada vez as perceberão melhor, desde que comecem a procurar Deus a sério.
Pede
a Maria, Regina apostolorum, que te
decidas a participar nas ânsias de sementeira e de pesca que estão no Coração
do seu Filho. Garanto-te que, se começares, terás a barca cheia, como os
pescadores da Galileia.
E
Cristo na margem, à tua espera. Porque a pesca é sua.
(cont)
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