Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
31/08/2019
Evangelho e comentário
Evangelho: Mt 25, 14-30
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus
servos e confiou-lhes os seus bens. A um entregou cinco talentos, a outro dois
e a outro um, conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu. O que tinha
recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o
que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas, o que recebera um só
talento foi escavar a terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo
depois, chegou o senhor daqueles servos e foi ajustar contas com eles. O que
recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo:
‘Senhor, confiaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que eu ganhei’.
Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em
coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu
senhor’. Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: ‘Senhor,
confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois que eu ganhei’.
Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em
coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu
senhor’. Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse: ‘Senhor, eu
sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada
lançaste. Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que
te pertence’. O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo
onde não semeei e recolho onde nada lancei; devias, portanto, depositar no
banco o meu dinheiro e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu.
Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque, a todo aquele que
tem, dar-se-á mais e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco
que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores.
Aí haverá choro e ranger de dentes’».
Comentário:
Esta
parábola – conhecida como a dos “talentos”, tem merecido comentários e
meditações por grandes vultos da Igreja, Teólogos e Santos.
É
de tal forma “complicada) – à primeira leitura, claro – que podemos ter a visão
como que toldada para nos apercebermos da simplicidade e lógica de todo o
texto.
Eu
penso que a “chave” está aqui:
Distribuiu os talentos «a cada qual conforme a sua capacidade».
O Senhor, sabemo-lo muito
bem – não faz acepção de pessoas e, para Ele, todos os homens – absolutamente –
têm o mesmo valor, a mesma dignidade, independentemente das suas capacidades
pessoais.
Mas nunca pedirá contas
por igual, exigindo uniformemente e sem critério o mesmo retorno.
Não!
Pedirá contas – muito
certas – conforme o que cada um fez, como fez, ou, o que não fez e deveria ter
feito.
(AMA, comentário sobre Mt
25, 14-30, 29.07.2017)
Temas para reflectir e meditar
A mensagem de Fátima é, no seu núcleo fundamental, uma chamada à
conversão e à penitência, como no Evangelho (...).
A Senhora da mensagem parecia ler com uma
perspicácia especial os sinais dos tempos, os sinais do nosso tempo.
A chamada à penitência é uma chamada maternal; e, ao mesmo tempo,
é enérgica e feita com decisão.
(São João Paulo II, Homília em
Fátima, 1982.05.13)
Leitura espiritual
Amigos
de Deus
179
Alguns,
quando ouvem falar de castidade, sorriem.
É
um sorriso - um esgar - sem alegria, morto, de mentes retorcidas. A grande
maioria, repetem, não acredita nisso!
Eu
costumava dizer aos rapazes que me acompanhavam pelos hospitais e bairros da
periferia de Madrid, há muitos anos atrás: pensai que há um reino mineral;
outro, mais perfeito, o reino vegetal, no qual, à mera existência se acrescenta
a vida; e, depois outro, o reino animal, formado quase sempre por seres com
sensibilidade e movimento.
Explicava-lhes também, de um modo pouco
académico mas expressivo, que deveríamos instituir outro reino: o hominal, o
reino dos humanos.
Na
verdade, as criaturas racionais possuem uma inteligência admirável, reflexo da
Sabedoria divina, que lhes permite raciocinar por sua conta e exercer essa
liberdade maravilhosa, com que podem aceitar ou recusar uma coisa ou outra por
seu arbítrio.
Pois neste reino dos homens -
comentava-lhes eu, com a experiência do meu trabalho sacerdotal tão intenso -
para uma pessoa normal, o tema do sexo ocupa um quarto ou quinto lugar.
Primeiro,
estão as aspirações da vida espiritual, aquela que cada um tiver; a seguir, as
questões que interessam ao homem e à mulher corrente: o pai, a mãe, o seu lar;
depois a profissão e, muito além, em quarto ou quinto lugar aparece o impulso
sexual.
Por isso, sempre que conheci pessoas que
convertiam este assunto no tema central da sua conversa e dos seus interesses,
pensei que eram anormais, uns pobres desgraçados, talvez doentes.
E
acrescentava, provocando com isto um momento de riso e de piada entre os
rapazes, que esses infelizes me faziam tanto dó como um rapaz com a cabeça
grande, enorme, de um metro de perímetro!
São
gente infeliz e, da nossa parte, além das orações, nasce uma fraterna
compaixão, porque desejamos que se curem de tão triste doença.
O
que não são é nem mais homens nem mais mulheres que aqueles que como nós, não
estão obcecados pelo sexo.
180
A
castidade é possível
Todos nós temos paixões e todos
enfrentamos, em qualquer idade, as mesmas dificuldades.
Temos,
por isso, de lutar.
Lembrai-vos
do que escrevia S. Paulo: datus est mihi
stimulus carnis meæ, angelus Satanæ, qui me colaphizet, rebela-se o
estímulo da carne, que é como um anjo de Satanás, que me esbofeteia para que eu
não seja soberbo.
Não se pode viver uma vida limpa sem
assistência divina.
Deus
quer que sejamos humildes e peçamos o seu auxílio.
Deves
pedir com confiança a Nossa Senhora, agora mesmo, na solidão acompanhada do teu
coração, silenciosamente:
Minha
Mãe, este meu pobre coração rebela-se tolamente... se tu não me proteges...
E
amparar-te-á para que o guardes puro e percorras o caminho a que Deus te
chamou.
Filhos: humildade, humildade!
Aprendamos
a ser humildes.
Para
guardar o Amor é preciso prudência, é preciso vigiar com cuidado e não se
deixar dominar pelo medo.
Entre
os clássicos de espiritualidade, muitos comparam o demónio a um cão raivoso,
preso a uma corrente: se não nos aproximarmos, não morde, ainda que ladre
continuamente.
Se
fomentardes a humildade nas vossas almas, de certeza que evitareis as
tentações, reagireis com a valentia de fugir e socorrer-vos-eis diariamente do
auxílio do Céu para avançar com garbo por este caminho de apaixonados.
181
Reparai que aquele que está apodrecido pela
concupiscência da carne não consegue andar espiritualmente e é incapaz de
qualquer obra boa.
É
um aleijado que permanece estirado no chão como um trapo.
Nunca
vistes os doentes com paralisias progressivas, que não conseguem ter força nem
pôr-se de pé?
Às
vezes nem sequer mexem a cabeça!
Pois
isso acontece, na vida sobrenatural, aos que não são humildes e aos que se
entregaram cobardemente à luxúria.
Não
vêem, não ouvem, nem percebem nada.
Estão
paralíticos e parecem loucos.
Cada
um de nós deve invocar o Senhor e a Mãe de Deus e pedir-lhes a humildade e a
decisão de aproveitar piedosamente o divino remédio da confissão.
Não
permitais que se instale na vossa alma um foco de podridão, ainda que seja
muito pequeno.
Falai!
Quando
a água corre, é límpida; quando estagna, forma um charco, enche-se de porcaria
repugnante e em vez de água potável passa a ser um caldo de bichos.
Que a castidade é possível e constitui uma
fonte de alegria, sabei-lo tão bem como eu, muito embora tenhais consciência de
que exige, de quando em quando, alguma luta.
Ouçamos
de novo S. Paulo: Comprazo-me na lei de
Deus, segundo o homem interior, mas, ao mesmo tempo, encontro nos meus membros
outra lei, a qual resiste à lei do meu espírito e me subjuga à lei do pecado,
que está nos membros do meu corpo. Oh, que homem tão infeliz eu sou! Quem me
livrará deste corpo de morte?
Grita
mais ainda, se precisas, mas não exageremos: sufficit tibi gratia mea, basta-te a minha graça, responde-nos o
Senhor.
182
Tive oportunidade de observar, em algumas
ocasiões, como reluziam os olhos de um desportista, perante os obstáculos que
tinha de saltar.
Que
vitória!
Observai
como domina as dificuldades!
Assim
nos contempla Deus, que ama a nossa luta: seremos sempre vencedores, porque
nunca nos nega a omnipotência da sua graça.
E
não importa então que haja luta, porque Ele não nos abandona.
A castidade é combate e não renúncia, já
que respondemos com uma afirmação gozosa, com uma entrega livre e alegre.
Não
deves limitar-te a fugir da queda ou da ocasião, nem o teu comportamento deve
reduzir-se, de maneira alguma, a uma negação fria e matemática.
Já
te convenceste de que a castidade é uma virtude e, como tal, deve
desenvolver-se e aperfeiçoar-se?
Não
basta ser continente, cada um segundo o seu estado.
Insisto:
temos de viver castamente, com virtude heróica.
Este
comportamento é um acto positivo, com o qual aceitamos de boa vontade o pedido
de Deus: Præbe, fili mi, cor tuum mihi et
oculi tui vias meas custodiant, entrega-me, meu filho, o teu coração e
espraia os teus olhos pelos meus campos de paz.
Pergunto-te eu, agora: como encaras tu esta
batalha?
Bem
sabes que a luta já está vencida, se a mantivermos desde o princípio. Afasta-te
imediatamente do perigo, mal percebas as primeiras chispas de paixão, e até
antes.
Fala,
além disso, com quem dirige a tua alma; se possível antes, porque abrindo o coração
de par em par não serás derrotado.
Um
acto repetido várias vezes cria um hábito, uma inclinação, uma facilidade.
É
preciso, pois, batalhar para alcançar o hábito da virtude, o hábito da
mortificação, para não recusar o Amor dos Amores.
Meditai no conselho de S. Paulo a Timóteo: Te ipsum castum custodi, conserva-te a
ti mesmo puro, para estarmos, também, sempre vigilantes, decididos a defender o
tesouro que Deus nos entregou.
Ao
longo da minha vida, quantas e quantas pessoas não ouvi queixarem-se: Ah! Se eu
tivesse cortado ao princípio!
E
diziam-no cheias de aflição e de vergonha.
183
Com
o coração todo entregue
Devo recordar-vos que não encontrareis a
felicidade fora das vossas obrigações cristãs.
Se
as abandonardes, ficar-vos-á um enorme remorso e sereis uns pobres infelizes.
Então
até mesmo as coisas mais correntes, que são lícitas e trazem um bocadinho de
felicidade, se podem tornar amargas como fel, azedas como o vinagre,
repugnantes como o rosalgar.
Peçamos a Jesus, cada um de vós e eu
também: Senhor! Eu proponho-me lutar e sei que Tu não perdes batalhas.
E compreendo que, se alguma vez as perco, é
porque me afastei de Ti!
Leva-me
pela tua mão e não Te fies de mim!
Não
me soltes!
Pensareis: mas eu sou tão feliz, Padre!
Eu
amo Jesus Cristo e, ainda que seja de barro, desejo chegar à santidade com a
ajuda de Deus e da sua Mãe Santíssima!
Não
o duvido.
Apenas
te previno com estas exortações para o caso de se te apresentar alguma
dificuldade.
Tenho também de te repetir que a existência
do cristão - a tua e a minha - é de Amor.
Este
nosso coração nasceu para amar e, quando não se lhe dá um afecto puro, limpo e
nobre, vinga-se e enche-se de miséria.
O
verdadeiro amor de Deus, que pode traduzir-se por viver uma vida bem limpa,
está tão longe da sensualidade como da insensibilidade e tão longe de qualquer
sentimentalismo como da ausência de coração ou da sua dureza.
É uma pena não ter coração.
Os
que nunca aprenderam a amar com ternura são uns infelizes.
Nós,
os cristãos, estamos apaixonados pelo amor: o Senhor não nos quer secos,
insensíveis, como matéria inerte.
Quer-nos
impregnados do seu carinho!
Aquele
que, por Deus, renunciou a um amor humano, não é um solteirão, como aquela
pessoa triste, infeliz, que anda sempre de asa murcha, por ter desprezado a
generosidade de amar limpamente.
(cont)
Diante de Deus tu és uma criança
Diante
de Deus, que é Eterno, tu és uma criança mais pequena do que, diante de ti, um
miúdo de dois anos. E, além de criança, és filho de Deus. – Não o esqueças. (Caminho,
860)
Se
reparardes bem, é muito diferente a queda de uma criança e a queda de uma
pessoa crescida. Para as crianças, uma queda, em geral, não tem importância;
tropeçam com tanta frequência! E se começam a chorar, o pai lembra-lhes: os
homens não choram. Assim se encerra o incidente com o empenho do miúdo por
contentar o seu pai.
(…)
Se procurarmos portar-nos como eles, os tropeções e os fracassos – aliás
inevitáveis – na vida interior, nunca se transformarão em amargura. Reagiremos
com dor, mas sem desânimo, e com um sorriso que brota, como a água límpida, da
alegria da nossa condição de filhos desse Amor, dessa grandeza, dessa sabedoria
infinita, dessa misericórdia, que é o nosso Pai. Aprendi durante os meus anos
de serviço ao Senhor a ser filho pequeno de Deus. E isto vos peço: que sejais quasi modo geniti infantes, meninos que
desejam a palavra de Deus, o pão de Deus, o alimento de Deus, a fortaleza de
Deus para se comportarem de agora em diante, como homens cristãos. (Amigos
de Deus, 146)
Doutrina – 499
Compêndio
SEGUNDA SECÇÃO
OS SETE SACRAMENTOS DA
IGREJA
CAPÍTULO PRIMEIRO
OS SACRAMENTOS DA
INICIAÇÃO CRISTÃ
O SACRAMENTO DA EUCARISTIA
282. Como é que Jesus está
presente na Eucaristia?
Jesus
Cristo está presente na Eucaristia dum modo único e incomparável.
De
facto, está presente de modo verdadeiro, real, substancial: com o seu Corpo e o
seu Sangue, com a sua Alma e a sua Divindade.
Nela
está presente em modo sacramental, isto é, sob as espécies eucarísticas do pão
e do vinho, Cristo completo: Deus e homem.
30/08/2019
Evangelho e comentário
Evangelho: Mt 25, 1-13
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a dez
virgens, que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo. Cinco eram
insensatas e cinco eram prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas,
não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes, com as lâmpadas, levaram
azeite nas almotolias. Como o esposo se demorava, começaram todas a dormitar e
adormeceram. No meio da noite ouviu-se um brado: ‘Aí vem o esposo; ide ao seu
encontro’. Então, as virgens levantaram-se todas e começaram a preparar as
lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, que as
nossas lâmpadas estão a apagar-se’. Mas as prudentes responderam: ‘Talvez não
chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores’. Mas, enquanto
foram comprá-lo, chegou o esposo: as que estavam preparadas entraram com ele
para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. Mais tarde, chegaram também as outras
virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. Mas ele respondeu: ‘Em
verdade vos digo: Não vos conheço’. Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia
nem a hora».
Comentário:
Porque é que o Senhor não me conhece?
Só por ter chegado um pouco tarde ao encontro!
Bom, mas, eu, estive de facto à espera, bastante tempo,
tanto que se me acabou o azeite e tive de ir comprá-lo!
O Senhor não tem isto em conta?
Não se trata de o Senhor querer ou não querer
conhecer-me.
Eu é que me exclui do Seu convívio porque abandonei a
“espera” e, quando Ele entrou, não estava ali para entrar com Ele.
Tive um motivo para o fazer, de facto… mas, O Senhor
não tem nada a ver com isso, ou tem?
Ele chega, abre-se a porta
e, quem está à espera, preparado, entra no gozo do seu Senhor.
Que não sei nem o dia nem a hora!
Pois não, por isso tenho de estar preparado SEMPRE!
(AMA,
comentário sobre Mt 25, 1-13, 2010.08.09)
Temas para reflectir e meditar
Pois apesar de ter merecido dar à luz o Filho do Altíssimo, era
Ela humilíssima, e ao nomear-se não se antepõe ao seu esposo, dizendo: Eu e o
teu pai, mas: Teu pai e eu.
Não teve em conta a dignidade do seu seio, mas a hierarquia conjugal.
A humildade de Cristo, com efeito, não tinha de ser para a sua mãe
uma escola de soberba.
(Stº. agostinho, Sermão 51,
18.)
Leitura espiritual
Amigos
de Deus
175
Sabeis muito bem, por o terdes ouvido e
meditado frequentemente, que para todos nós, cristãos, Jesus Cristo é o modelo.
Tê-lo-eis
ensinado a muitas almas, através desse apostolado - convívio humano com sentido
divino - que faz já parte do vosso eu.
Tê-lo-eis
recordado oportunamente, ao empregar esse meio maravilhoso da correcção
fraterna, possibilitando a quem vos escutava comparar o seu procedimento com o
do nosso Irmão primogénito, o Filho de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.
Jesus é o modelo.
Ele
mesmo o disse: Discite a me, aprendei
de mim!
Quero
hoje falar-vos de uma virtude que, sem ser a única nem a primeira, actua na
vida cristã como o sal que preserva da corrupção e constitui a pedra de toque
da alma apostólica: a virtude da santa pureza.
É verdade que a caridade teologal é a
virtude mais alta, mas a castidade é a exigência sine qua non, condição
imprescindível para chegar ao diálogo íntimo com Deus.
Quem
não a guarda, se não luta, acaba por ficar cego.
Não
vê nada, porque o homem animal não pode perceber as coisas que são do Espírito
de Deus .
Animados pela pregação do Mestre, nós
queremos ver com olhos limpos: bem-aventurados os puros de coração, porque
verão a Deus.
A Igreja sempre apresentou estas palavras
como um convite à castidade.
Guardam
um coração sadio, escreve S. João Crisóstomo, os que possuem uma consciência
completamente limpa ou os que amam a castidade.
Nenhuma
virtude é tão necessária como esta para ver a Deus.
176
O
exemplo de Cristo
Jesus Cristo, Nosso Senhor, foi, ao longo
da sua vida sobre a terra, coberto de impropérios e maltratado de todas as
maneiras possíveis.
Lembrais-vos?
Diziam
que se comportava como um revoltoso e afirmaram que estava endemoninhado.
Noutra
altura, interpretaram mal as manifestações do seu Amor infinito e
classificaram--no como amigo de pecadores.
Mais tarde, a Ele, que é a própria penitência
e a própria temperança, lançam-lhe à cara que frequentava a mesa dos ricos.
Também
lhe chamam depreciativamente fabri filius,
filho do trabalhador, do carpinteiro, como se isso fosse uma injúria.
Permite
que o rotulem de bebedor e comilão...
Deixa
que o acusem de tudo, excepto de que não é casto.
Não
os deixou dizer isso, porque quer que nós conservemos com toda a nitidez esse
exemplo: um modelo maravilhoso de pureza, de limpeza, de luz, de amor que sabe
queimar todo o mundo para o purificar.
Gosto de me referir à santa pureza,
contemplando sempre a conduta de Nosso Senhor, porque Ele a viveu com grande
delicadeza.
Reparai
no que relata S. João quando, Jesus, fatigatus
ex itinere, sedebat sic supra fontem, cansado no caminho se sentou à borda
do poço.
Procurai recolher-vos e reviver devagar a
cena: Jesus Cristo, perfectus Deus,
perfectus homo, está fatigado do caminho e do trabalho apostólico, tal como
algumas vezes deve ter sucedido convosco, que vos sentis arrasados por já não
poderdes mais.
É
comovedor observar o Mestre esgotado.
Além
disso, tem fome: os discípulos tinham ido ao povoado vizinho para buscar
alimentos.
E
tem sede.
Mas, mais do que a fadiga do corpo,
consome-o a sede de almas.
Por
isso, ao chegar a samaritana, aquela mulher pecadora, o coração sacerdotal de
Cristo derrama-se, diligente, para recuperar a ovelha perdida, esquecendo o
cansaço, a fome e a sede.
Ocupava-se o Senhor com aquela grande obra
de caridade, quando os apóstolos voltaram da cidade e mirabantur quia cum muliere loquebatur, ficaram surpreendidos por
estar a falar a sós com uma mulher.
Como
era cuidadoso!
Que
amor à virtude encantadora da santa pureza, que nos ajuda a ser mais fortes,
mais rijos, mais fecundos, mais capazes de trabalhar por Deus, mais capazes de
tudo o que é grande!
177
Esta é a vontade de Deus, a vossa
santificação... que cada um saiba usar o seu corpo santa e honestamente, não se
abandonando às paixões, como fazem os pagãos que não conhecem a Deus.
Pertencemos
totalmente a Deus, com a alma e com o corpo, com a carne e com os ossos, com os
sentidos e com as potências.
Pedi-lhe
com confiança: Jesus, guarda o nosso coração! Faz com que o meu coração seja
grande, forte e terno, afectuoso e delicado, transbordante de caridade para Ti,
para servir todas as almas.
O
nosso corpo é santo, templo de Deus, precisa S. Paulo.
Esta
exclamação do Apóstolo recorda-me o chamamento à santidade, que o Mestre dirige
a todos os homens: Estote perfecti sicut
et Pater vester caelestis perfectus est.
O
Senhor pede a todos, sem discriminação alguma, correspondência à graça.
O
Senhor exige a cada um, de acordo com a sua situação pessoal, a prática das
virtudes próprias dos filhos de Deus.
Por isso, ao recordar-vos que o cristão tem
de guardar uma castidade perfeita, estou a referir-me a todos: aos solteiros,
que devem cingir-se a uma completa continência, e aos casados, que vivem
castamente, cumprindo as obrigações próprias do seu estado.
Com o espírito de Deus, a castidade, longe
de ser um peso incómodo e humilhante, torna-se uma afirmação gozosa, porque o
querer, o domínio e a vitória não são dados pela carne nem vêm do instinto, mas
procedem da vontade, sobretudo se está unida à do Senhor.
Para
ser castos e não simplesmente continentes ou honestos, temos de submeter as
paixões à razão, por uma causa elevada, por um impulso de Amor.
Comparo esta virtude a umas asas que nos
permitem levar os mandamentos, a doutrina de Deus por todos os ambientes da
terra, sem receio de ficar enlameados.
Essas
asas, tal como as da aves majestosas que sobem mais alto que as nuvens, pesam e
pesam muito, mas, se faltassem, não seria possível voar.
Gravai
isto na vossa mente, decididos a não ceder quando sentirdes a garra da
tentação, que se insinua apresentando a pureza como uma carga insuportável.
Ânimo!
Subi
até ao sol, em busca do Amor!
178
Com
Deus nos nossos corpos
Causou-me sempre muita pena o costume de
algumas pessoas - tantas! - que escolhem como nota constante dos seus
ensinamentos a impureza.
Com
isso, conseguem - comprovei-o em bastantes almas - exactamente o contrário do
que pretendem, porque a impureza é matéria mais pegajosa que o pez e deforma as
consciências com complexos ou medos, como se a pureza da alma fosse um
obstáculo quase insuperável.
Nós
não faremos assim!
Temos
de tratar da santa pureza com pensamentos positivos e limpos, com palavras
modestas e claras.
Discorrer sobre este tema, significa
dialogar sobre o Amor.
Tenho
de vos dizer que para esse efeito me ajuda considerar a Humanidade Santíssima
de Nosso Senhor, a maravilha inefável de Deus que se humilha, até fazer-se
homem.
E
que não se sente aviltado por ter tomado carne igual à nossa, com todas as suas
limitações e fraquezas, menos o pecado, porque nos ama com loucura!
Ele
não se rebaixa com o seu aniquilamento e, em troca, levanta-nos, deificando-nos
o corpo e a alma.
Responder
afirmativamente ao seu Amor com um carinho claro, ardente e ordenado, isso é a
virtude da castidade.
Temos de gritar a todo o mundo com a
palavra e com o testemunho da nossa conduta: não empeçonhemos o coração, como
se fôssemos pobres animais dominados pelos instintos mais baixos.
Um
escritor cristão exprime-o assim:
Reparai
que o 0coração do homem não é pequeno, pois abraça muitas coisas.
Medi
essa grandeza, não pelas suas dimensões físicas, mas pelo poder do seu
pensamento, capaz de alcançar o conhecimento de tantas verdades.
É
possível preparar o caminho do Senhor no coração, traçar uma vereda direita,
para que passem por ali o Verbo e a Sabedoria de Deus.
Preparai
com uma conduta honesta e com obras irrepreensíveis o caminho do Senhor,
aplanai a estrada para que o Verbo de Deus caminhe por vós sem tropeçar e vos
dê o conhecimento dos seus mistérios e da sua vinda.
Revela-nos a Escritura Santa que a
grandiosa obra da santificação, tarefa oculta e magnífica do Paráclito, se
verifica na alma e no corpo.
Não sabeis que os vossos
corpos são membros de Cristo? - clama o Apóstolo.
Tomarei eu, pois, os
membros de Cristo e fá-los-ei membros de uma prostituta? (...)
Não sabeis, porventura,
que os vossos corpos são templos do Espírito Santo, que habita em vós, o qual
vos foi dado por Deus e que não pertenceis a vós mesmos, porque fostes
comprados por um grande preço? Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.
(cont)
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