Cristo que passa
12
Lux
fulgebit hodie super nos, quia natus est nobis Dominus -
Hoje brilhará sobre nós a luz, porque nos nasceu o Senhor!
Eis a grande novidade que
comove os cristãos e que, através deles, se dirige à Humanidade inteira.
Deus está aqui!
Esta verdade deve encher
as nossas vidas.
Cada Natal deve ser para
nós um novo encontro especial com Deus, deixando que a sua luz e a sua graça
entrem até ao fundo da nossa alma.
Detemo-nos diante do
Menino, de Maria e de José; estamos contemplando o Filho de Deus revestido da
nossa carne...
Vem-me à lembrança a
viagem que fiz a Loreto, em 15 de Agosto de 1951, para visitar a Santa Casa por
motivo muito íntimo.
Celebrei lá a Santa Missa.
Queria dizê-la com
recolhimento mas não tinha contado com o fervor da multidão.
Não tinha calculado que
nesse grande dia de festa muitas pessoas dos arredores viriam a Loreto - com a
bendita fé dessa terra e com o amor que têm à Madona.
E a sua piedade,
considerando as coisas - como diria? - só do ponto de vista das leis rituais da
Igreja, levava-as a manifestações não muito correctas.
E assim, enquanto eu
beijava o altar, nos momentos prescritos pelas rubricas da Missa, três ou
quatro camponeses beijavam-no ao mesmo tempo.
Distraía-me mas estava
emocionado.
E também me atraía a
atenção a lembrança de que naquela Santa Casa - que a tradição assegura ser o
lugar onde viveram Jesus, Maria e José - na mesa do altar tinham gravado estas
palavras: Hic Verbum caro factum est.
Aqui, numa casa construída
pelas mãos dos homens, num pedaço de terra em que vivemos, habitou Deus!
13
Jesus
Cristo, perfeito Deus e perfeito homem
O Filho de Deus fez-se
carne e é perfectus Deus, perfectus homo,
perfeito Deus e perfeito homem!
Neste mistério há qualquer
coisa que deveria emocionar os cristãos. Estava e estou comovido; gostava de
voltar a Loreto...
Vou lá em desejo para
reviver os anos da infância de Jesus, repetindo e considerando: Hic Verbum caro factum est!
Jesus
Christus, Deus Homo, Jesus Cristo, Deus-Homem!
Eis uma magnalia Dei, uma das maravilhas de Deus
em que temos de meditar e que temos de agradecer a este Senhor que veio trazer
a paz na terra aos homens de boa vontade, a todos os homens que querem unir a
sua vontade à Vontade boa de Deus.
Não só aos ricos, nem só
aos pobres!
A todos os homens, a todos
os irmãos!
Pois irmãos somos todos em
Jesus; filhos de Deus, irmãos de Cristo. Sua Mãe é nossa Mãe.
Na terra há apenas uma
raça: a raça dos filhos de Deus.
Todos devemos falar a
mesma língua: a que o nosso Pai que está nos Céus nos ensina; a língua dos
diálogos de Jesus com seu Pai; a língua que se fala com o coração e com a
cabeça; a que estais a usar agora na vossa oração.
É a língua das almas
contemplativas, dos homens espirituais por se terem dado conta da sua filiação
divina; uma língua que se manifesta em mil moções da vontade, em luzes vivas do
entendimento, em afectos do coração, em decisões de rectidão de vida, de
bem-fazer, de alegria, de paz.
É preciso ver o Menino,
nosso Amor, no seu berço.
Olhar para Ele, sabendo
que estamos perante um mistério. Precisamos de aceitar o mistério pela fé,
aprofundar o seu conteúdo. Para isso necessitamos das disposições humildes da
alma cristã: não pretender reduzir a grandeza de Deus aos nossos pobres
conceitos, às nossas explicações humanas, mas compreender que esse mistério, na
sua obscuridade, é uma luz que guia a vida dos homens.
Vemos - diz S. João
Crisóstomo - que Jesus saiu de nós, da nossa substância humana, e que nasceu de
Mãe virgem; mas não entendemos como pode ter-se realizado esse prodígio.
Não nos cansemos, tentando
descobri-lo; aceitemos antes com humildade o que Deus nos revelou sem
esquadrinharmos com curiosidade o que Deus nos escondeu.
Assim, com este
acatamento, saberemos compreender e amar; e o mistério será para nós um
esplêndido ensinamento, mais convincente do que qualquer outro raciocínio
humano.
14
Sentido
divino do caminhar terreno de Jesus
Ao falar diante do
presépio sempre procurei ver Cristo Nosso Senhor desta maneira, envolto em
paninhos sobre a palha da manjedoura, e, enquanto ainda menino e não diz nada,
vê-Lo já como doutor, como mestre.
Preciso de considerá-Lo
assim, porque tenho de aprender d'Ele.
E para aprender d'Ele é
necessário conhecer a sua vida: ler o Santo Evangelho, meditar no sentido
divino do caminho terreno de Jesus.
Na verdade, temos de
reproduzir na nossa, a vida de Cristo, conhecendo Cristo à força de ler a
Sagrada Escritura e de a meditar, à força de fazer oração, como agora estamos fazendo
diante do presépio.
É preciso entender as
lições que nos dá Jesus já desde menino, desde recém-nascido, desde que os seus
olhos se abriram para esta bendita terra dos homens.
Jesus, crescendo e vivendo
como um de nós, revela-nos que a existência humana, a vida corrente e
ordinária, tem um sentido divino.
Por muito que tenhamos
pensado nestas verdades, devemos encher-nos sempre de admiração ao pensar nos
trinta anos de obscuridade que constituem a maior parte da passagem de Jesus
entre os seus irmãos, os homens.
Anos de sombra, mas, para
nós, claros como a luz do Sol.
Mais: resplendor que
ilumina os nossos dias e lhes dá uma autêntica projecção, pois somos cristãos
correntes, com uma vida vulgar, igual à de tantos milhões de pessoas nos mais
diversos lugares do Mundo.
Assim viveu Jesus seis
lustros: era filius fabris, o filho
do carpinteiro. Virão depois os três anos de vida pública, com o clamor das
multidões.
E as pessoas
surpreendem-se: Quem é este?
Onde aprendeu tantas
coisas?
Pois a sua vida tinha sido
a vida comum do povo da sua terra.
Era o faber, filius Mariae, o carpinteiro, filho de Maria.
E era Deus; e estava a
realizar a redenção do género humano; e estava a atrair a si todas as coisas.
(cont)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.