HAURIETIS AQUAS
DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE O CULTO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
III
PARTICIPAÇÃO
ACTIVA E PROFUNDA QUE TEVE
O
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS NA MISSÃO SALVADORA
DO
REDENTOR
6) O culto ao coração
sacratíssimo de Jesus é o culto da pessoa do Verbo encarnado
42.
Nada, portanto, proíbe que adoremos o Coração Sacratíssimo de Jesus Cristo,
enquanto é participante, símbolo natural e sumamente expressivo daquele amor
inexaurível em que ainda hoje o divino Redentor arde para com os homens.
Mesmo
quando já não está submetido às perturbações desta vida mortal, ainda então ele
vive, palpita, e está unido de modo indissolúvel com a pessoa do Verbo divino,
e, nela e por ela, com a sua divina vontade.
Superabundando
o coração do Cristo de amor divino e humano, e sendo imensamente rico com os
tesouros de todas as graças que o nosso Redentor adquiriu com sua vida, seus
padecimentos e sua morte, ele é, sem dúvida, uma fonte perene daquela caridade
que o seu Espírito infunde em todos os membros do seu corpo místico.
43.
Assim, pois, o Coração do nosso Salvador reflecte de certo modo a imagem da
divina pessoa do Verbo, e, igualmente, das Suas duas naturezas: humana e
divina; e nele podemos considerar não só um símbolo, mas também como que um
compêndio de todo o mistério da nossa redenção.
Quando
adoramos o Coração de Jesus Cristo, nele e por ele adoramos tanto o amor
incriado do Verbo divino como Seu amor humano e os seus demais afectos e
virtudes, já que um e outro amor moveu o nosso Redentor a imolar-se por nós e
por toda a Igreja, sua esposa, segundo a sentença do Apóstolo:
"Cristo
amou a sua Igreja e sacrificou-se por ela para santificá-la, lavando-a no baptismo
de água com a palavra de vida, a fim de fazê-la comparecer perante si cheia de
glória, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e imaculada"
[1].
44.
Assim como amou a Igreja, Cristo continua amando-a intensamente, com aquele
tríplice amor de que falamos[2];
e esse amor é que o impele a fazer-se nosso advogado para nos obter do Pai
graça e misericórdia, "estando sempre vivo para interceder por nós"[3].
As
preces que brotam do seu inesgotável amor, dirigidas ao Pai, não sofrem
interrupção alguma.
Como
nos dias da sua carne"[4],
também agora, que está triunfante no céu, Ele suplica o Pai com não menor
eficácia; e aquele que "amou tanto o mundo que deu seu Filho unigénito,
afim de que todos os que nele crêem não pereçam, mas vivam vida eterna"[5].
Ele
mostra o Seu coração vivo e como ferido e inflamado de um amor mais ardente do
que quando, já exânime, o feriu a lança do soldado romano: "Por isto foi
ferido (o teu coração), para que pela ferida visível víssemos a ferida
invisível do amor".[6]
45.
Por conseguinte, não pode haver dúvida alguma de que, ante as súplicas de tão
grande advogado, e feitas com tão veemente amor, o Pai celestial, "que não
perdoou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós"[7],
por meio dele derramará incessantemente sobre todos os homens a abundância das
suas graças divinas.
PIO PP. XII.
(Revisão da versão
portuguesa por AMA)
Notas:
[1] Ef 5, 25-27
[2] cf. 1 Jo 2,1
[3] Hb 7, 25
[4] Hb 5,7
[5] Jo 3,16
[6] S. Boaventura,
Opusc. X: Vitis mystica, c. III, n. 5: Opera Omnia, Ad Claras Aquas (Quaracchi),
1898, t. VIII, p. 164; cf, s. Tomás, Summa theol., III, q. 54, a. 4; ed. Leon., t. XI,1903, p. 513.
[7] Rm 8, 32
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.