HAURIETIS AQUAS
DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE O CULTO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
INTRODUÇÃO
ADMIRÁVEL DESENVOLVIMENTO
DO CULTO DO CORAÇÃO SACRATÍSSIMO DE JESUS NOS TEMPOS MODERNOS
Essas
palavras, com que o profeta Isaías prefigurava os múltiplos e abundantes bens
que os tempos cristãos haveriam de trazer, acorrem-nos espontaneamente ao
espírito ao completar-se a primeira centúria desde que o nosso predecessor de
imperecível memória Pio IX, correspondendo aos desejos do orbe católico,
ordenou que se celebrasse na Igreja universal a festa do Sacratíssimo Coração
de Jesus.
2.
Inumeráveis são as riquezas celestiais que
nas almas dos fiéis infunde o culto tributado ao Sagrado Coração,
purificando-os, enchendo-os de consolações sobrenaturais, e excitando-os a alcançar
toda sorte de virtudes.
Portanto,
tendo presentes as palavras do apóstolo são Tiago. "Toda dádiva preciosa e
todo dom perfeito vem do alto e desce do Pai das luzes"[ii],
neste culto, que cada vez mais se incendeia e se estende por toda parte, com toda
razão, podemos considerar o inapreciável dom que o Verbo encarnado e salvador
nosso, como único mediador da graça e da verdade entre o Pai celestial e o género
humano, concedeu à sua mística esposa nestes últimos séculos, em que ela teve
de suportar tantos trabalhos e dificuldades.
Assim,
pois, gozando deste inestimável dom, pode a Igreja manifestar mais amplamente o
seu amor ao divino Fundador, e cumprir mais fielmente a exortação que o
evangelista São João põe na boca do próprio Jesus Cristo:
"No último dia da festa, que é o mais solene,
Jesus pôs-se em pé, e em voz alta dizia:
Se alguém tem sede, venha
a mim, e beba quem crê em mim. Do seu seio, como diz a Escritura, manarão rios
de água viva. Isto o disse pelo Espírito que haveriam de receber os que nele
cressem" [iii].
Ora,
aos que escutavam essas palavras de Jesus, pelas quais ele prometia que do seu
seio haveria de manar uma fonte "de água viva", certamente não lhes
era difícil relacioná-las com os vaticínios com que Isaías, Ezequiel e Zacarias
profetizavam o reino do Messias, e com a simbólica pedra que, golpeada por
Moisés, de maneira milagrosa haveria de jorrar água [iv].
3.
A caridade divina tem a sua primeira origem no Espírito Santo, que é o amor
pessoal, assim do Pai como do Filho, no seio da Trindade augusta.
Com
sobradíssima razão, pois, o apóstolo das gentes, como que fazendo-se eco das
palavras de Jesus Cristo, atribui a esse Espírito de amor a efusão da caridade
nas almas dos crentes:
"A caridade de Deus foi derramada nos nossos
corações por meio do Espírito Santo, que nos foi dado"[v].
4.
Este estreito vínculo que segundo a Sagrada Escritura, existe entre o Espírito
Santo, que é amor por essência, e a caridade divina, que deve acender-se cada
vez mais na alma dos fiéis, demonstra abundantemente a todos nós, veneráveis
irmãos, a natureza íntima do culto que se deve tributar ao coração de Jesus
Cristo.
Com
efeito, se considerarmos a sua natureza particular, manifesto é que este culto
é um acto de religião excelentíssimo, visto exigir de nós uma plena e inteira
vontade de entrega e consagração ao amor do divino Redentor, do qual é sinal e
símbolo vivo o seu coração trespassado.
Consta
igualmente, e em sentido ainda mais profundo, que este culto aprofunda a
correspondência do nosso amor ao amor divino.
Pois
só em virtude da caridade se obtém que os homens se submetam mais perfeita e
inteiramente ao domínio de Deus, já que o nosso amor de tal maneira se apega à
divina vontade, que vem a fazer-se uma coisa só com ela, consoante aquelas
palavras:
PIO PP. XII.
(Revisão
da versão portuguesa por AMA)
Notas:
[i] Is 12, 3
[ii] Tg 1, 17
[iii] Jo 7, 37-39
[iv] cf. Is 12, 3; Ez 47, 1-12; Zc 13, 1; Ex 17, 1-7; Nm 20, 7-13;1 Cor
10, 4; Ap 7, 17; 22,1
[v] Rm 5,5
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