01/06/2019

Leitura espiritual


CARTA ENCÍCLICA

HAURIETIS AQUAS

DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE O CULTO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


INTRODUÇÃO

ADMIRÁVEL DESENVOLVIMENTO DO CULTO DO CORAÇÃO SACRATÍSSIMO DE JESUS NOS TEMPOS MODERNOS

1.   "Haurireis águas com gáudio das fontes do Salvador"[i].

Essas palavras, com que o profeta Isaías prefigurava os múltiplos e abundantes bens que os tempos cristãos haveriam de trazer, acorrem-nos espontaneamente ao espírito ao completar-se a primeira centúria desde que o nosso predecessor de imperecível memória Pio IX, correspondendo aos desejos do orbe católico, ordenou que se celebrasse na Igreja universal a festa do Sacratíssimo Coração de Jesus.

2.   Inumeráveis são as riquezas celestiais que nas almas dos fiéis infunde o culto tributado ao Sagrado Coração, purificando-os, enchendo-os de consolações sobrenaturais, e excitando-os a alcançar toda sorte de virtudes.

Portanto, tendo presentes as palavras do apóstolo são Tiago. "Toda dádiva preciosa e todo dom perfeito vem do alto e desce do Pai das luzes"[ii], neste culto, que cada vez mais se incendeia e se estende por toda parte, com toda razão, podemos considerar o inapreciável dom que o Verbo encarnado e salvador nosso, como único mediador da graça e da verdade entre o Pai celestial e o género humano, concedeu à sua mística esposa nestes últimos séculos, em que ela teve de suportar tantos trabalhos e dificuldades.

Assim, pois, gozando deste inestimável dom, pode a Igreja manifestar mais amplamente o seu amor ao divino Fundador, e cumprir mais fielmente a exortação que o evangelista São João põe na boca do próprio Jesus Cristo:

"No último dia da festa, que é o mais solene, Jesus pôs-se em pé, e em voz alta dizia:
Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim. Do seu seio, como diz a Escritura, manarão rios de água viva. Isto o disse pelo Espírito que haveriam de receber os que nele cressem" [iii].

Ora, aos que escutavam essas palavras de Jesus, pelas quais ele prometia que do seu seio haveria de manar uma fonte "de água viva", certamente não lhes era difícil relacioná-las com os vaticínios com que Isaías, Ezequiel e Zacarias profetizavam o reino do Messias, e com a simbólica pedra que, golpeada por Moisés, de maneira milagrosa haveria de jorrar água [iv].

3. A caridade divina tem a sua primeira origem no Espírito Santo, que é o amor pessoal, assim do Pai como do Filho, no seio da Trindade augusta.
Com sobradíssima razão, pois, o apóstolo das gentes, como que fazendo-se eco das palavras de Jesus Cristo, atribui a esse Espírito de amor a efusão da caridade nas almas dos crentes:

"A caridade de Deus foi derramada nos nossos corações por meio do Espírito Santo, que nos foi dado"[v].

4. Este estreito vínculo que segundo a Sagrada Escritura, existe entre o Espírito Santo, que é amor por essência, e a caridade divina, que deve acender-se cada vez mais na alma dos fiéis, demonstra abundantemente a todos nós, veneráveis irmãos, a natureza íntima do culto que se deve tributar ao coração de Jesus Cristo.
Com efeito, se considerarmos a sua natureza particular, manifesto é que este culto é um acto de religião excelentíssimo, visto exigir de nós uma plena e inteira vontade de entrega e consagração ao amor do divino Redentor, do qual é sinal e símbolo vivo o seu coração trespassado.
Consta igualmente, e em sentido ainda mais profundo, que este culto aprofunda a correspondência do nosso amor ao amor divino.
Pois só em virtude da caridade se obtém que os homens se submetam mais perfeita e inteiramente ao domínio de Deus, já que o nosso amor de tal maneira se apega à divina vontade, que vem a fazer-se uma coisa só com ela, consoante aquelas palavras:

"Quem está unido ao Senhor é com ele um mesmo espírito"[vi].


PIO PP. XII.


(Revisão da versão portuguesa por AMA)

Notas:


[i] Is 12, 3
[ii] Tg 1, 17
[iii] Jo 7, 37-39
[iv] cf. Is 12, 3; Ez 47, 1-12; Zc 13, 1; Ex 17, 1-7; Nm 20, 7-13;1 Cor 10, 4; Ap 7, 17; 22,1
[v] Rm 5,5
[vi] 1 Cor 6, 17

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