AMORIS LÆTITIA
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
AOS BISPOS AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS AOS ESPOSOS CRISTÃOS E A TODOS
OS FIÉIS LEIGOS SOBRE O AMOR NA FAMÍLIA
CAPÍTULO VII
REFORÇAR A EDUCAÇÃO DOS FILHOS.
É necessário maturar hábitos.
Os próprios hábitos
adquiridos em criança têm uma função positiva, ajudando a traduzir em
comportamentos externos sadios e estáveis os grandes valores interiorizados.
Uma pessoa pode possuir sentimentos sociáveis e uma boa disposição para com os
outros, mas se não foi habituada durante muito tempo, por insistência dos
adultos, a dizer «por favor», «com licença», «obrigado», a tal boa disposição
interior não se traduzirá facilmente nestas expressões. O fortalecimento da
vontade e a repetição de determinadas acções constroem a conduta moral; mas,
sem a repetição consciente, livre e elogiada de determinados comportamentos
bons, nunca se chega a educar tal conduta. As motivações ou a atracção que
sentimos por um determinado valor, não se tornam uma virtude sem estes actos
adequadamente motivados.
A liberdade é algo de
grandioso, mas podemos perdê-la. A educação moral é cultivar a liberdade
através de propostas, motivações, aplicações práticas, estímulos, prémios,
exemplos, modelos, símbolos, reflexões, exortações, revisões do modo de agir e
diálogos que ajudem as pessoas a desenvolver aqueles princípios interiores
estáveis que movem a praticar espontaneamente o bem. A virtude é uma convicção que
se transformou num princípio interior e estável do agir. Assim, a vida virtuosa
constrói a liberdade, fortifica-a e educa-a, evitando que a pessoa se torne
escrava de inclinações compulsivas desumanizadoras e anti-sociais. Com efeito,
a própria dignidade humana exige que cada um «proceda segundo a própria
consciência e por livre adesão, ou seja, movido e induzido pessoalmente desde
dentro».
O valor da sanção como estímulo.
De igual modo, é indispensável
sensibilizar a criança e o adolescente para se darem con- ta de que as más
acções têm consequências. É preciso despertar a capacidade de colocar-se no
lugar do outro e sentir pesar pelo seu sofrimento originado pelo mal que lhe
fez. [i]
Algumas sanções – aos
comportamentos anti-sociais agressivos – podem parcialmente cumprir esta
finalidade. É importante orientar a criança, com firmeza, para que peça perdão
e repare o mal causado aos outros. Quando o percurso educativo mostra os seus
frutos num amadurecimento da liberdade pessoal, a dado momento o próprio filho
começará a reconhecer, com gratidão, que foi bom para ele crescer numa família
e também suportar as exigências impostas por todo o processo formativo.
A correcção é um estímulo
quando, ao mesmo tempo, se apreciam e reconhecem os esforços e quando o filho
descobre que os seus pais conservam viva uma paciente confiança. Uma criança
corrigida com amor sente-se tida em consideração, percebe que é alguém, dá-se
conta de que seus pais reconhecem as suas potencialidades. Isto não exige que
os pais sejam irrepreensíveis, mas que saibam reconhecer, com humildade, os
seus limites e mostrem o seu esforço pessoal por ser melhores. Mas um testemunho
de que os filhos precisam da parte dos pais, é que estes não se deixem levar
pela ira. O filho, que comete uma má acção, deve ser corrigido, mas nunca como
um inimigo ou como alguém sobre quem se descarrega a própria agressividade.
Além disso, um adulto deve reconhecer que algumas más acções têm a ver com as
fragilidades e os limites próprios da idade. Por isso, seria nociva uma atitude
constantemente punitiva, porque não ajudaria a notar a diferente gravidade das
acções e provocaria desânimo e exasperação: «Vós, pais, não exaspereis os
vossos filhos»[ii]
Condição fundamental é que
a disciplina não se transforme numa mutilação do desejo, mas se torne um
estímulo para ir sempre mais além. Como integrar disciplina e dinamismo
interior? Como fazer para que a disciplina seja limite construtivo do caminho
que uma criança deve empreender e não um muro que a aniquile ou uma dimensão da
educação que a iniba? É preciso saber encontrar um equilíbrio entre dois
extremos igualmente nocivos: um seria pretender construir um mundo à medida dos
desejos do filho, que cresceria sentindo-se sujeito de direitos mas não de
responsabilidades; o outro extremo seria levá-lo a viver sem consciência da sua
dignidade, da sua identidade singular e dos seus direitos, torturado pelos
deveres e submetido à realização dos desejos alheios.
(cont)
(revisão da versão
portuguesa por AMA)
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