AS
FONTES DA BONDADE
BONDADE
E AMOR
ABRIR-SE
AOS OUTROS
Ninguém é bom, ninguém é
bondoso para si mesmo. A bondade dirige-se sempre aos outros: somos bons para
alguém. Homem bom é aquele que está, de modo habitual e permanente, amorosamente
aberto aos outros. Precisamente porque é bom – e, por isso, quer “fazer o bem”
–, vive voltado para o próximo, dá-lhe valor e concede-lhe prioridade nos seus
interesses.
A bondade é sempre calor
de coração, que envolve os seres humanos com uma doçura cheia de força. Vamos dedicar
as próximas páginas a considerar mais de perto a bondade no seu influxo
benfazejo.
Para o homem bom, os
outros não são nunca estranhos. Não os enxerga nunca como inimigos que ameaçam
o recinto fechado do seu egoísmo, provocando interferências e criando incómodos.
Nenhuma pessoa é alheia ao
mundo do seu “eu”. Os outros, sejam eles quem forem, tenham os defeitos que
tiverem, fazem parte do seu universo de afectos e interesses.
Por isso não o aborrecem
nem o surpreendem, pois tem o coração mais inclinado a amar do que a amar-se a
si mesmo.
É próprio do egoísmo ver o
próximo com uma ponta de reserva: o “outro” é, para o egoísta, um possível
“inimigo” de que tem que defender-se ou, pelo menos, precaver-se. O egoísta tem
o coração inteiramente ocupado pelo “eu”, denso e pesado como o chumbo.
Admitir “outros” dentro de
si significa ter de aceitar uma sobrecarga. Daí que esteja sempre com receio de
que lhe perturbem os esquemas, de que lhe roubem o tempo, de que lhe tirem a tranquilidade,
de que lhe exijam renúncias; e sofre por ter que aturar defeitos aborrecidos e
limitações cansativas.
O egoísta é mal-humorado e
impaciente.
Incapaz de dar, só sabe receber.
Bem expressiva é, a este
respeito, a alegoria do mata-borrão e da fonte.
Os egoístas assemelham-se
ao mata-borrão: só sabem absorver, dos outros, o que favorece os seus
interesses, o que lhes traz vantagens ou lhes causa agrado.
Acontece, porém, que essa
absorção egoísta, em vez de enriquecê-los, os destrói.
O mata-borrão ensopado
fica inservível, desmancha-se todo, e o seu destino final é a lata do lixo.
Outros homens, pelo
contrário, podem ser comparados a uma fonte. O manancial dá-se incansavelmente,
ignorando o que seja reter ou sugar.
O esbanjamento generoso
das suas águas não só não o empobrece, como o transforma num foco contínuo de
fecundidade.
À sua volta, a terra árida
transforma-se num jardim e as plantas ressequidas experimentam um estremecer de
vida.
Para a fonte, viver é
fazer viver.
Pois bem, o coração do
homem bom, tal como a fonte, vive a criar vida e frutos em todos os que o
cercam.
Não pensa que lhe tiram o
que é seu – a sua paz, a sua tranquilidade, o seu tempo, as suas energias –,
porque o seu amor só sabe dizer, como o pai do filho pródigo:
Tudo o que é meu é teu (Lc
15, 31).
Tudo o que é dele está
aberto aos outros, e é mais “dele” quanto mais é participado pelos outros.
Francisco
Faus [i]
[i]
Francisco Faus é licenciado em Direito pela
Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canónico pela Universidade de São
Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde
exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes
universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas
delas premiadas, já publicou na coleção Temas Cristãos, entre outros, os
títulos O valor das dificuldades, O homem bom, Lágrimas de Cristo, lágrimas dos
homens, Maria, a mãe de Jesus, A voz da consciência e A paz na família.
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