Formação humana e cristã - 75
Então… talvez escreva para me comprazer a mim próprio, numa espécie de sublimação?
E se for?
Não ganho com isso? Ao
reler o que alguma vez escrevi não revejo as situações, não torno a viver as
sensações?
E, se acaso, alguém me
ler, não poderá encontrar motivos de ponderação, análise, exame?
Se Santa Teresa de Jesus
não tivesse deixado escritos os arroubos da sua alma o que teria a cristandade
perdido?
Claro, ela obedeceu a
ordens dos seus confessores para escrever, mas podia tê-las declinado e, não
obstante, não o fez foi – na minha opinião – ainda mais além naturalmente
levada pela torrente incoctível que arrastava o seu espírito.
Se assim não fora, como
explicar, por exemplo, isto:
Vivo
já fora de mim,
desde
que morro d’Amor,
porque
vivo no Senhor
que
me escolheu para Si.
Quando
o coração Lhe dei,
com
terno amor lhe gravei:
que
morro porque não morro.
Esta
divina prisão
do
grande amor em que vivo,
fez
a Deus ser meu cativo,
e
livre o meu coração;
e
causa em mim tal paixão
ser
eu de Deus a prisão,
que
morro porque não morro.
Do
Alto, aquela vida
que
é a vida prometida,
até
que seja perdida
não
se tem, estando viva;
morte,
não sejas esquiva;
vem
depressa em meu socorro,
que
morro porque não morro.
Que
triste é, sem Ti,
ó
meu Deus, viver!
Ansiosa
por ver-Te,
desejo
morrer.
Em
vão minha alma
Te
busca, Senhor;
Tu
sempre invisível
a
deixas na dor.
Ai!
Isto a inflama
até
prorromper:
Ansiosa
por ver-Te,
desejo
morrer.
Ai!
Quando Te dignas
em
meu peito entrar,
meu
Deus, que pensar?
-
Receio perder-Te:
ansiosa
por ver-Te:
Desejo
morrer.
Tais palavras não se
“inventam” por mais letrado que seja o espírito. São o reflexo visível de algo
tão íntimo e tão real de algo que não pode conter-se dentro de si mesmo mas que
se é, de alguma forma, obrigado a partilhar.
AMA,
reflexões.
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