Cumpres
um plano de vida exigente: madrugas, fazes oração, frequentas os Sacramentos,
trabalhas ou estudas muito, és sóbrio, mortificas-te..., mas notas que te falta
alguma coisa! Leva ao teu diálogo com Deus esta consideração: como a santidade
(a luta por atingi-la) é a plenitude da caridade, tens de rever o teu amor a
Deus e, por Ele, aos outros. Talvez descubras então, escondidos na tua alma,
grandes defeitos contra os quais nem sequer lutavas: não és bom filho, bom irmão,
bom companheiro, bom amigo, bom colega; e, como amas desordenadamente "a
tua santidade", és invejoso. "Sacrificas-te" em muitos
pormenores "pessoais"; e por isso estás apegado ao teu eu, à tua
pessoa e, no fundo, não vives para Deus nem para os outros; só para ti. (Sulco, 739)
A
todos os que estamos dispostos a abrir-lhe os ouvidos da alma, Jesus Cristo
ensina no Sermão da Montanha o mandato divino da caridade. E, ao terminar, como
resumo, explica: amai os vossos inimigos, fazei bem e emprestai sem esperardes
nada em troca, e será grande a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo,
porque Ele é bom, mesmo com os ingratos e os maus. Sede, pois, misericordiosos
como também o vosso Pai é misericordioso.
A
misericórdia não se limita a uma simples atitude de compaixão; a misericórdia
identifica-se com a superabundância da caridade que, ao mesmo tempo, traz
consigo a superabundância da justiça. Misericórdia significa manter o coração
em carne viva, humana e divinamente repassado por um amor rijo, sacrificado e
generoso. Assim glosa S. Paulo a caridade no seu canto a esta virtude: A
caridade é paciente, é benéfica; a caridade não é invejosa, não actua
precipitadamente; não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus
próprios interesses, não se irrita, não pensa mal dos outros, não folga com a
injustiça, mas compraz-se na verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera,
tudo sofre. (Amigos de Deus, 232)