Questão
63: Do efeito principal dos Sacramentos, que é a graça.
Art. 6 — Se todos os
sacramentos da lei nova imprimem carácter.
O
sexto discute-se assim. — Parece que todos os sacramentos da lei nova imprimem carácter.
1.
— Pois, todos os sacramentos da lei nova tornam participante do sacerdócio de
Cristo. Ora, o carácter sacramental outra causa não é senão a participação do
sacerdócio de Cristo, como se disse. Logo, parece que todos os sacramentos da
lei nova imprimem carácter.
2.
Demais. — O carácter está para a alma onde existe como a consagração para as
coisas consagradas. Ora, por qualquer sacramento da lei nova o homem recebe a
graça santificante como se disse. Logo, parece que qualquer sacramento da lei
nova imprime carácter.
3.
Demais. — O carácter em uma parte material é um sacramento. Ora, em qualquer
sacramento da lei nova há uma parte que é somente material e outra que somente
é sacramento, e ainda outra que é material e sacramento. Logo, qualquer
sacramento da lei nova imprime carácter.
Mas,
em contrário, os sacramentos que imprimem carácter não se reiteram, por ser o
carácter indelével, como se disse. Ora, alguns sacramentos se reiteram, como é
o caso da penitência e do matrimónio. Logo nem todos sacramentos imprimem carácter.
Como dissemos, os sacramentos da lei nova ordenam-se a dois fins, a saber, a
serem remédio do pecado e ao culto divino. Pois, é comum a todos os sacramentos
o serem remédios contra o pecado, porque conferem a graça. Mas, nem todos se
ordenam directamente ao culto divino, como claramente o mostra a penitência,
pela qual nos livramos do pecado; pois nada de novo nos confere pertinente ao
culto divino, mas nos restitui ao primeiro estado.
Pode,
porém um sacramento respeitar ao culto divino de três modos: actualmente e em
si mesmo, ou como de agente ou como recipiente - A modo de acção em si mesma
considerada concerne ao culto divino a Eucaristia, na qual principalmente esse
culto consiste, enquanto ela é um sacrifício da Igreja. E esse sacramento não
imprime carácter porque não ordena o homem à nada de ulterior, que deva ser
feito ou recebido, pois, antes é o fim e
a consumação de todos os sacramentos, como diz Dionísio. Porque em si mesmo
contém a Cristo, em quem não existe carácter, mas é a plenitude total do
sacerdócio. - Mas, aos que devem agir ministrando os sacramentos concerne o sacramento
da ordem; pois, por esse sacramento são destinados alguns a comunicar os
sacramentos aos outros. - Enfim, aos que recebem respeita o sacramento do baptismo,
porque confere ao homem o poder de receber os outros sacramentos da Igreja; por
isso se chama o baptismo a porta dos sacramentos. Ao mesmo fim também de certo
modo se ordena a confirmação, como em seu lugar se dirá. - E assim esses três
sacramentos imprimem carácter, a saber, o baptismo, a confirmação e a ordem.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Todos os sacramentos tornam o homem participante
do sacerdócio de Cristo, porque recebe assim um certo, efeito dele. Mas nem por
todos os sacramentos somos destinados a fazer alguma coisa ou a receber o que
pertença ao culto do sacerdócio de Cristo. O que é necessário para o sacramento
imprimir carácter.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Por todos os sacramentos se santifica o homem, porque a santidade
implica a purificação do pecado, resultante da graça. Mas especialmente por
certos sacramentos, que imprimem carácter, o homem se santifica por uma certa
consagração, como destinado ao culto divino. Assim também dizemos que as coisas
inanimadas santificam, enquanto destinadas ao culto divino.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Embora o carácter implique uma coisa material e seja um
sacramento, nem por isso tudo o que é coisa material e sacramento há-de ser carácter.
O que seja, porém a coisa material e o sacramento, diremos quando tratarmos dos
outros sacramentos (nos lugares próprios).
Nota: Revisão da versão portuguesa por
ama.
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