17/06/2018

Tratado da vida de Cristo 207

Os sacramentos em geral 

Questão 63: Do efeito principal dos Sacramentos, que é a graça.


Art. 6 — Se todos os sacramentos da lei nova imprimem carácter.

O sexto discute-se assim. — Parece que todos os sacramentos da lei nova imprimem carácter.

1. — Pois, todos os sacramentos da lei nova tornam participante do sacerdócio de Cristo. Ora, o carácter sacramental outra causa não é senão a participação do sacerdócio de Cristo, como se disse. Logo, parece que todos os sacramentos da lei nova imprimem carácter.

2. Demais. — O carácter está para a alma onde existe como a consagração para as coisas consagradas. Ora, por qualquer sacramento da lei nova o homem recebe a graça santificante como se disse. Logo, parece que qualquer sacramento da lei nova imprime carácter.

3. Demais. — O carácter em uma parte material é um sacramento. Ora, em qualquer sacramento da lei nova há uma parte que é somente material e outra que somente é sacramento, e ainda outra que é material e sacramento. Logo, qualquer sacramento da lei nova imprime carácter.

Mas, em contrário, os sacramentos que imprimem carácter não se reiteram, por ser o carácter indelével, como se disse. Ora, alguns sacramentos se reiteram, como é o caso da penitência e do matrimónio. Logo nem todos sacramentos imprimem carácter.

Como dissemos, os sacramentos da lei nova ordenam-se a dois fins, a saber, a serem remédio do pecado e ao culto divino. Pois, é comum a todos os sacramentos o serem remédios contra o pecado, porque conferem a graça. Mas, nem todos se ordenam directamente ao culto divino, como claramente o mostra a penitência, pela qual nos livramos do pecado; pois nada de novo nos confere pertinente ao culto divino, mas nos restitui ao primeiro estado.

Pode, porém um sacramento respeitar ao culto divino de três modos: actualmente e em si mesmo, ou como de agente ou como recipiente - A modo de acção em si mesma considerada concerne ao culto divino a Eucaristia, na qual principalmente esse culto consiste, enquanto ela é um sacrifício da Igreja. E esse sacramento não imprime carácter porque não ordena o homem à nada de ulterior, que deva ser feito ou recebido, pois, antes é o fim e a consumação de todos os sacramentos, como diz Dionísio. Porque em si mesmo contém a Cristo, em quem não existe carácter, mas é a plenitude total do sacerdócio. - Mas, aos que devem agir ministrando os sacramentos concerne o sacramento da ordem; pois, por esse sacramento são destinados alguns a comunicar os sacramentos aos outros. - Enfim, aos que recebem respeita o sacramento do baptismo, porque confere ao homem o poder de receber os outros sacramentos da Igreja; por isso se chama o baptismo a porta dos sacramentos. Ao mesmo fim também de certo modo se ordena a confirmação, como em seu lugar se dirá. - E assim esses três sacramentos imprimem carácter, a saber, o baptismo, a confirmação e a ordem.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Todos os sacramentos tornam o homem participante do sacerdócio de Cristo, porque recebe assim um certo, efeito dele. Mas nem por todos os sacramentos somos destinados a fazer alguma coisa ou a receber o que pertença ao culto do sacerdócio de Cristo. O que é necessário para o sacramento imprimir carácter.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Por todos os sacramentos se santifica o homem, porque a santidade implica a purificação do pecado, resultante da graça. Mas especialmente por certos sacramentos, que imprimem carácter, o homem se santifica por uma certa consagração, como destinado ao culto divino. Assim também dizemos que as coisas inanimadas santificam, enquanto destinadas ao culto divino.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora o carácter implique uma coisa material e seja um sacramento, nem por isso tudo o que é coisa material e sacramento há-de ser carácter. O que seja, porém a coisa material e o sacramento, diremos quando tratarmos dos outros sacramentos (nos lugares próprios).


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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