
Questão
63: Do efeito principal dos Sacramentos, que é a graça.
Art. 5 — Se o carácter
existe na alma indelevelmente.
O
quinto discute-se assim. — Parece que o carácter não existe na alma
indelevelmente.
1
. Pois, quanto mais perfeito é um acidente tanto mais firme é a sua inerência.
Ora, a graça é mais perfeita que o carácter, porque este se ordena àquela como
a um fim ulterior. Mas a graça perde-se pelo pecado. Logo, com muito maior
razão o carácter.
2.
Demais. — O carácter destina uma pessoa ao culto divino, como se disse. Ora, alguns
abandonam o culto divino e, apostatando da fé, passam a um culto contrário.
Logo, parece que esses tais perdem o carácter sacramental.
3.
Demais. — Desaparecido o fim, deve também desaparecer o meio que, aliás,
permaneceria em vão. Assim, depois da ressurreição não haverá matrimónio porque
terá cessado a geração, a que se o matrimónio ordena. Ora, o culto externo, a
que se ordena o carácter, não permaneceria na pátria, onde nada haverá de
figurado, sendo tudo a nua verdade. Logo, o carácter sacramental não permanece
perpetuamente na alma. E, portanto não existe nela de modo indelével.
Mas,
em contrário, diz Agostinho: Os
sacramentos cristãos não se imprimem menos que a nota material da milícia.
Ora, o carácter militar não é tirado, mas é reconhecido e aprovado naquele que
depois da culpa, merece o perdão do imperador. Logo, nem o carácter sacramental
pode ser delido.

DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — De um modo existe na alma a graça e de outro
o carácter. Assim, a graça está na alma como uma forma que tem nela o seu ser
completo; ao passo que o carácter nela está, como uma virtude instrumental,
segundo dissemos. Ora, uma forma completa está no sujeito segundo a condição
deste. E sendo a alma mutável pelo seu livre arbítrio, enquanto permanece nesta
vida, resulta por consequência que a graça está na alma de modo mutável. A
virtude instrumental, porém mais se funda na condição do agente principal. Donde,
o carácter está na alma de maneira indelével, não por perfeição sua, mas pela
perfeição do sacerdócio de Cristo, do qual deriva como uma virtude
instrumental.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Agostinho diz no mesmo
lugar: Sabemos que nem nos apóstatas fica delido o baptismo; pois, quando
voltam pela penitência, não se lhes renova e por isso julgamos que não o podem
perder. E a razão é que o carácter é uma virtude instrumental, como se
disse. Ora, a natureza do instrumento está em ser movido por outro agente, e
não em mover-se a si mesmo o que é próprio da vontade. Donde, embora a vontade
se mova para o contrário, o carácter não desaparece, por causa da imobilidade
do motor principal.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Embora depois desta vida desapareça o culto externo, permanece
contudo o fim desse culto. E portanto, após esta vida, permanece o carácter -
nos bons, para a glória deles; e para sua ignomínia, nos maus. Assim como
também o carácter militar permanece nos soldados depois de alcançada a vitória
- nos que venceram, para glória; e nos vencidos, para pena.
Nota: Revisão da versão portuguesa por
ama.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.