30/06/2018

Leitura espiritual




Amar a Igreja 
22
                  
Agora compreendem porque não se pode separar a Igreja visível da Igreja invisível.
A Igreja é, simultaneamente, corpo místico e corpo jurídico.
Pelo próprio facto de ser corpo, a Igreja distingue-se com os olhos, ensinou Leão XIII.
No corpo visível da Igreja - no comportamento dos homens que dela fazemos parte aqui na terra - aparecem misérias, vacilações, traições.
Mas a Igreja não se esgota aí, nem se confunde com essas condutas erradas: pelo contrário, não faltam, aqui e agora, generosidades, afirmações heróicas, vidas de santidade que não fazem barulho, que se consomem com alegria no serviço dos irmãos na fé e de todas as almas.

Considerem também que, se as claudicações superassem numericamente as atitudes corajosas ficaria ainda essa realidade mística - clara, inegável, embora a não percebamos com os sentidos - que é o Corpo de Cristo, o próprio Senhor Nosso, a acção do Espírito Santo, a presença amorosa do Pai.

A Igreja é, por conseguinte, inseparavelmente humana e divina. É sociedade divina pela sua origem, sobrenatural pelo seu fim e pelos meios que se ordenam proximamente a esse fim; mas, na medida em que se compõe de homens, é uma comunidade humana.
Vive e actua no mundo, mas o seu fim e a sua força não estão na terra, mas no Céu.

Enganar-se-iam gravemente aqueles que procurassem separar uma Igreja carismática - que seria a verdadeiramente fundada por Cristo-, doutra jurídica ou institucional, que seria obra dos homens e simples efeito de contingências históricas.
Só há uma Igreja.
Cristo fundou uma única Igreja: visível e invisível, com um corpo hierárquico e organizado, com uma estrutura fundamental de direito divino e uma íntima vida sobrenatural que a anima, sus - tenta e vivifica.

E não é possível deixar de recordar que Nosso Senhor, ao instituir a Sua Igreja, não a concebeu nem formou de modo a compreender uma pluralidade de comunidades semelhantes no seu género, embora diferentes, e não ligadas por aqueles vínculos que tornam a Igreja indivisível e única...
Por isso, quando Jesus fala deste místico edifício, refere-se apenas a uma Igreja a que chama Sua: edificarei a Minha Igreja (Mat. XVI, 18). Qualquer outra que se imagine fora desta, em virtude de não ter sido fundada por Ele, não pode ser a Sua verdadeira Igreja.

Fé, repito; aumentemos a nossa Fé; pedindo-a à Santíssima Trindade, cuja festa hoje celebramos.
Poderá acontecer tudo, excepto que o Deus três vezes Santo abandone a Sua Esposa.

23
                  
O fim da Igreja

São Paulo, no primeiro capítulo da Epístola aos Efésios, afirma que o mistério de Deus, anunciado por Cristo, se realiza na Igreja.

Deus Pai pôs debaixo dos pés de Cristo todas as coisas, e constituiu-O cabeça de toda a Igreja, que é o Seu corpo e o complemento d'Aquele que cumpre tudo em todos.

O mistério de Deus é, uma vez chegada a plenitude dos tempos, restaurar em Cristo todas as coisas, assim as que há no céu, como as que há na terra.

Um mistério insondável, de pura gratuitidade de amor: porque Ele mesmo nos escolheu antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados diante d'Ele.

O amor de Deus não tem limites: o próprio São Paulo anuncia que o Nosso Salvador quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.

Este, e não outro, é o fim da Igreja: a salvação das almas, uma a uma.

Para isso o Pai enviou o Filho, e Eu envio-vos também a vós.
Daí o mandato de dar a conhecer a doutrina e de baptizar, para que, pela graça, a Santíssima Trindade habite na alma: foi-Me dado todo o poder no Céu e na terra.
Ide, pois, ensinai todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei; e eis que Eu estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos.

São as palavras simples e sublimes do final do Evangelho de S. Mateus:

aí se assinala a obrigação de pregar as verdades de fé, a urgência da vida sacramental, a promessa da contínua assistência de Cristo à Sua Igreja.
Não se é fiel a Nosso Senhor se se passa por cima destas realidades sobrenaturais: a instrução na fé e na moral cristãs, a prática dos sacramentos.

Com este mandato Cristo funda a Sua Igreja.

Tudo o resto é secundário.

24
                  
Na Igreja está a nossa salvação

Não podemos esquecer que a Igreja é muito mais do que um caminho de salvação: é o único caminho.

Ora isto não foi inventado pelos homens, mas foi Cristo quem assim dispôs:

o que crer e for baptizado, será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.


Por isso se afirma que a Igreja é necessária, com necessidade de meio, para nos salvarmos.

Já no século II Orígenes escrevia:

se alguém quer salvar-se, venha a esta casa, para que possa consegui-lo... que ninguém se engane a si mesmo: fora desta casa, isto é, fora da Igreja, ninguém se salva.

E S. Cipriano:

se alguém tivesse escapado (do dilúvio) fora da arca de Noé, então poderíamos admitir que quem abandona a Igreja pode escapar da condenação.

Extra Ecclesiam, nulla salus.

É o aviso contínuo dos Padres: fora da Igreja católica pode encontrar-se tudo - admite Santo Agostinho - menos a salvação.
Pode ter-se honra, pode haver Sacramentos, pode cantar-se o "aleluia", pode responder-se "ámen", pode defender-se o Evangelho, pode ter-se fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo e, inclusivamente, até pregá-la.
Mas nunca, se não for na Igreja católica, pode encontrar-se a salvação.

No entanto, como se lamentava Pio XII há pouco mais de vinte anos, alguns reduzem a uma fórmula vã a necessidade de pertencer à Igreja verdadeira para alcançar a salvação eterna.

Este dogma de fé integra a base da actividade corredentora da Igreja, é o fundamento da grave responsabilidade apostólica dos cristãos. Entre os mandatos expressos de Cristo determina-se categoricamente o de nos incorporarmos no Seu Corpo Místico pelo Baptismo.

E o nosso Salvador não só promulgou o mandamento de que todos entrassem na Igreja, mas estabeleceu também que a Igreja fosse meio de salvação, sem a qual ninguém pode chegar ao reino da glória celestial.

É de fé que quem não pertence à Igreja não se salva; e que quem se não baptiza não ingressa na Igreja.

A justificação, depois da promulgação do Evangelho, não pode verificar-se sem o lavacro da regeneração ou o seu desejo, estabelece o Concilio de Trento.


SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ

(cont)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.