Questão
61: Da necessidade dos Sacramentos.
Em seguida devemos tratar da necessidade
dos sacramentos.
E nesta questão discutem-se quatro
artigos:
Art. 1 — Se os sacramentos eram necessários
à salvação humana.
Art. 2 — Se antes do pecado os
sacramentos eram necessários ao homem.
Art. 3 — Se depois do pecado, antes de
Cristo, deviam existir sacramentos.
Art. 4 — Se, depois de Cristo, deviam
existir certos sacramentos.
Art.
1 — Se os sacramentos eram necessários à salvação humana.
O primeiro discute-se assim. — Parece
que os sacramentos não são necessários à salvação humana.
1. — Pois, diz o Apóstolo: O exercício corporal para pouco é proveitoso.
O uso dos sacramentos é uma espécie de exercício corporal, porque os sacramentos
se perfazem pela significação das coisas sensíveis e das palavras, como se
disse. Logo, os sacramentos não são necessários à salvação humana.
2. Demais. — Ao Apóstolo foi dito: Basta-te a minha graça. Ora, não
bastaria se os sacramentos fossem necessários à salvação humana. Logo, os
sacramentos não são necessários à salvação humana.
3. Demais. — Posta a causa suficiente
nada mais é necessário para o efeito. Ora, a Paixão de Cristo é a causa
suficiente da nossa salvação. Assim, diz o Apóstolo: Se sendo nós inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu
Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
Logo, os sacramentos não são necessários à salvação humana.
Mas, em contrário, Agostinho diz: Em nome de nenhuma religião, verdadeira ou
falsa, podem os homens adunar-se, se não se associarem num consórcio sob a
égide de sinais ou sacramentos visíveis. Ora, é-lhes necessário à salvação
os homens se adunarem num nome de verdadeira religião. Logo, os sacramentos são
necessários à salvação humana.
Os sacramentos são
necessários à salvação humana por três razões. - Das quais a primeira deve ser
tirada da condição da natureza humana, a que é próprio partir do corpóreo e do
sensível para chegar ao espiritual e ao Inteligível. Ora, concerne à divina
Providência prover a cada ser conforme ao modo da sua condição. E por isso
convenientemente a divina sabedoria confere ao homem os auxílios à salvação sob
certos sinais corpóreos e sensíveis, chamados sacramentos. - A segunda razão
deve ser tirada do estado do homem, que pelo pecado sujeitou o afecto às coisas
corpóreas. Ora, onde padece uma doença aí se deve aplicar ao homem um remédio
medicinal. Por isso era conveniente que Deus mediante certos sinais corpóreos,
aplicar ao homem uma medicina espiritual; pois, se lhe fossem dados remédios
puramente espirituais, a sua alma, presa ao material, não poderia servir-se
deles. - A terceira razão enfim deve ser haurida no exercício da acção humana,
que versa principalmente sobre a matéria. Afim, pois, de não ser duro ao homem
o separar-se totalmente dos actos corpóreos, foram-lhe propostas práticas
sensíveis, nos sacramentos, com os quais salutarmente se exerce a evitar as
práticas supersticiosas, consistentes no culto dos demónios, ou outros maus actos
que são as práticas pecaminosas. - Assim, pois, pela instituição dos
sacramentos o homem e ensinado por meio do sensível de conformidade com a sua
natureza; humilha-se, reconhecendo-se sujeito às coisas materiais, pois acha
nelas um auxílio; e também fica preservado de más ações pela prática salutar
dos sacramentos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
O exercício corporal, como tal, é de pouco proveito. Mas o exercício pelo uso
dos sacramentos não é puramente corporal senão, de certo modo, espiritual, isto
é, pela significação e pela causalidade.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A graça de Deus é
causa suficiente da salvação humana. Mas Deus dá a graça aos homens segundo o
modo que lhes é peculiar. Por isso os sacramentos são necessários aos homens
para conseguirem a graça.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A Paixão de
Cristo é causa suficiente da salvação humana. Mas nem por isso daí se segue que
os sacramentos não sejam necessários à salvação humana, pois, obram em virtude
da Paixão de Cristo. E a Paixão de Cristo de certo modo aplica-se aos homens
pelos sacramentos, segundo o Apóstolo: Todos
os que fomos baptizados em Jesus Cristo tomos baptizados na sua morte.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.