TEMA 9 A Encarnação
2. A
Virgem Maria, Mãe de Deus
Maria é
a Mãe do Redentor.
Por isso a sua maternidade divina comporta
também a sua cooperação na salvação dos homens: «Maria, filha de Adão,
aceitando a palavra divina, foi feita Mãe de Jesus, e abraçando a vontade
salvífica de Deus com generoso coração e sem o impedimento de qualquer pecado,
consagrou-se totalmente a si mesma, qual escrava do Senhor, à pessoa e à obra
do seu Filho, servindo o mistério da Redenção com Ele e sob Ele, por graça de
Deus omnipotente.
Com razão, pois, os Santos Padres estimam
Maria, não como um mero instrumento passivo, mas como uma cooperadora na
salvação humana pela fé livre e obediência» [i].
Esta cooperação manifesta-se também na sua
maternidade espiritual.
Maria, nova Eva, é verdadeira mãe dos homens
na ordem da graça, pois coopera no nascimento para a vida da graça e para o
desenvolvimento espiritual dos fiéis: Maria «cooperou de modo inteiramente
singular, com a sua fé, a sua esperança e ardente caridade, na obra do
Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural.
Maria é também mediadora e a sua mediação
materna, subordinada sempre à única mediação de Cristo, começou com o fiat da
Anunciação e perdura no céu, já que «depois de elevada ao céu, não abandonou
esta missão salvadora, mas com a sua multiforme intercessão, continua a
alcançar-nos os dons da salvação eterna…
Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com
os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, mediadora» [iv], [v].
Maria é exemplo e modelo da Igreja: «A Virgem
Maria é para a Igreja o modelo da fé e da caridade.
Por isso é “membro eminente e inteiramente
singular da Igreja” [vi], e constitui mesmo
“a realização exemplar” (…) da Igreja [vii]» [viii].
Paulo VI, em 21-XI-1964, nomeou solenemente
Maria Mãe da Igreja, para sublinhar, de modo explícito, a função maternal que a
Virgem exerce no povo cristão [ix].
Compreende-se, face ao que acabámos de expor,
que a piedade da Igreja para com Nossa Senhora pertença à própria natureza do
culto cristão [x].
A Santíssima Virgem Maria «é com razão
venerada pela Igreja com um culto especial.
E, na verdade, a Santíssima Virgem é, desde
os tempos mais antigos, honrada com o título de “Mãe de Deus”, e sob cuja
protecção se acolhem os fiéis implorando-a em todos os perigos e necessidades…
Este
culto… embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração
que se presta por igual ao Verbo Encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e
favorece-o poderosamente» [xi].
O culto a Santa Maria «encontra a sua
expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus [xii], na oração mariana,
como o Santo Rosário» [xiii].
3.
Figuras e profecias da Encarnação
Vimos no tema anterior como, depois do pecado
de Adão e Eva, nossos primeiros pais, Deus não abandonou o homem, antes lhe
prometeu um Salvador [xiv].
Depois do pecado original e da promessa do
Redentor, o próprio Deus volta a tomar a iniciativa e estabeleceu uma Aliança
com os homens: com Noé depois do dilúvio [xv] e depois, sobretudo
com Abraão [xvi], a quem prometeu uma
grande descendência e fazer dela um grande povo, dando-lhe uma nova terra na
qual um dia seriam abençoadas todas as nações.
Momento importante na história das relações
entre Deus e Israel foi a profecia de Natan [xx], que anuncia que o
Messias será da descendência de David e que reinará sobre todos os povos, não
só sobre Israel.
Do Messias dir-se-á noutros textos proféticos
que o seu nascimento teria lugar em Belém [xxi], que pertenceria à
linhagem de David [xxii], que se lhe poria o
nome de «Emanuel», isto é, Deus connosco [xxiii]; que se lhe chamará
«Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz» [xxiv], etc.
Para além destes textos que descrevem o
Messias como rei e descendente de David, há outros que relatam, também de modo
profético, a missão redentora do Messias, chamando-lhe Servo de Yahvé, servo de
dores, que assumirá no seu corpo a reconciliação e a paz [xxv].
Neste contexto é importante o texto de Dn 7,
13-14 sobre o Filho do homem que, misteriosamente, através da humildade e do
aniquilamento, supera a condição humana e restaura o reino messiânico na sua
fase definitiva [xxvi].
As principais figuras do Redentor no Antigo
Testamento são o inocente Abel, o sumo sacerdote Melquisedec, o sacrifício de
Isaac, José vendido pelos seus irmãos, o cordeiro pascal, a serpente de bronze
levantada por Moisés no deserto e o profeta Jonas.
4. Os
nomes de Cristo
São muitos os nomes e títulos atribuídos a
Cristo por teólogos e autores espirituais ao longo dos séculos.
Uns foram tomados do Antigo Testamento;
outros, do Novo.
Alguns são utilizados ou aceites pelo próprio
Jesus; outros foram-lhe aplicados pela Igreja ao longo dos séculos.
Veremos, a seguir, os nomes mais importantes
e habituais.
«quando na anunciação, o anjo Gabriel dá-Lhe
como nome próprio o nome de Jesus, o qual exprime, ao mesmo tempo, a sua
identidade e a sua missão» [xxviii], quer dizer, Ele é o
Filho de Deus feito homem para salvar «o
Seu povo dos seus pecados» [xxix].
O nome de Jesus «significa que o próprio Nome
de Deus está presente na pessoa do seu Filho [xxx] feito homem para a
redenção universal e definitiva dos pecados.
Ele é o único nome divino que traz a salvação
[xxxi] e pode, desde agora,
ser invocado por todos, pois a todos os homens Se uniu pela Encarnação» [xxxii].
Só se torna nome próprio de Jesus «porque Ele
cumpre perfeitamente a missão divina que tal nome significa.
Com efeito, em Israel eram ungidos, em nome
de Deus, aqueles que lhe eram consagrados para uma missão d’Ele dimanada» [xxxv].
Era o caso dos sacerdotes, dos reis e, em
raros casos, dos profetas.
Este devia ser, por excelência, o caso do
Messias que Deus enviaria para instaurar definitivamente o seu Reino.
Jesus realizou a expectativa messiânica de
Israel na sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei [xxxvi].
Jesus «aceitou o título de Messias a que
tinha direito [xxxvii], mas não sem
reservas, uma vez que esse título era compreendido, por numerosos dos seus
contemporâneos, segundo um conceito demasiado humano [xxxviii], essencialmente
político [xxxix]» [xl].
A filiação de Jesus em relação ao Pai não é
uma filiação adoptiva como a nossa, mas a filiação divina natural, quer dizer,
«a relação única e eterna de Jesus Cristo
com Deus, seu Pai: Ele é o Filho único do Pai [xlii] e Ele próprio é Deus [xliii].
Os evangelhos «narram em dois momentos
solenes, o baptismo e a transfiguração de Cristo, que a voz do Pai o designa
como seu “Filho amado” [xlvi].
Jesus designa-Se a Si próprio como “o Filho único de Deus” [xlvii] afirmando, por este
título, a sua preexistência eterna» [xlviii].
Senhor [xlix]: «na tradução grega
dos livros do Antigo Testamento, o nome inefável com o qual Deus se revelou a
Moisés [l], YHWH, é traduzido
por “Kyrios” [“Senhor”].
Senhor desde então, o nome mais habitual para
designar a própria divindade do Deus de Israel.
É neste sentido forte que o Novo Testamento
utiliza o título “Senhor” tanto para o Pai, como também – e aí está a novidade
– para Jesus, assim reconhecido como Deus [li]» [lii].
Ao atribuir a Jesus o título divino de
Senhor, «as primeiras confissões de fé da Igreja afirmam, desde o princípio [liii], que o poder, a
honra e a glória devidos a Deus Pai, também são devidos a Jesus [liv] porque Ele é “de
condição divina” [lv] e o Pai manifestou
esta soberania de Jesus ressuscitando-O de entre os mortos e exaltando-O na sua
glória [lvi]» [lvii]. A oração cristã,
litúrgica ou pessoal, é marcada pelo título de «Senhor» [lviii].
(cont)
José Antonio Riestra
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