09/03/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTÃ

TEMA 9 A Encarnação

2. A Virgem Maria, Mãe de Deus

Maria é a Mãe do Redentor.

Por isso a sua maternidade divina comporta também a sua cooperação na salvação dos homens: «Maria, filha de Adão, aceitando a palavra divina, foi feita Mãe de Jesus, e abraçando a vontade salvífica de Deus com generoso coração e sem o impedimento de qualquer pecado, consagrou-se totalmente a si mesma, qual escrava do Senhor, à pessoa e à obra do seu Filho, servindo o mistério da Redenção com Ele e sob Ele, por graça de Deus omnipotente.
Com razão, pois, os Santos Padres estimam Maria, não como um mero instrumento passivo, mas como uma cooperadora na salvação humana pela fé livre e obediência» [i].

Esta cooperação manifesta-se também na sua maternidade espiritual.

Maria, nova Eva, é verdadeira mãe dos homens na ordem da graça, pois coopera no nascimento para a vida da graça e para o desenvolvimento espiritual dos fiéis: Maria «cooperou de modo inteiramente singular, com a sua fé, a sua esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural.
É, por essa razão, nossa Mãe, na ordem da graça» [ii], [iii].

Maria é também mediadora e a sua mediação materna, subordinada sempre à única mediação de Cristo, começou com o fiat da Anunciação e perdura no céu, já que «depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna…

Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, mediadora» [iv], [v].
Maria é exemplo e modelo da Igreja: «A Virgem Maria é para a Igreja o modelo da fé e da caridade.
Por isso é “membro eminente e inteiramente singular da Igreja” [vi], e constitui mesmo “a realização exemplar” (…) da Igreja [vii]» [viii].

Paulo VI, em 21-XI-1964, nomeou solenemente Maria Mãe da Igreja, para sublinhar, de modo explícito, a função maternal que a Virgem exerce no povo cristão [ix].

Compreende-se, face ao que acabámos de expor, que a piedade da Igreja para com Nossa Senhora pertença à própria natureza do culto cristão [x].

A Santíssima Virgem Maria «é com razão venerada pela Igreja com um culto especial.
E, na verdade, a Santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de “Mãe de Deus”, e sob cuja protecção se acolhem os fiéis implorando-a em todos os perigos e necessidades…
 Este culto… embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração que se presta por igual ao Verbo Encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente» [xi].

O culto a Santa Maria «encontra a sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus [xii], na oração mariana, como o Santo Rosário» [xiii].

3. Figuras e profecias da Encarnação

Vimos no tema anterior como, depois do pecado de Adão e Eva, nossos primeiros pais, Deus não abandonou o homem, antes lhe prometeu um Salvador [xiv].

Depois do pecado original e da promessa do Redentor, o próprio Deus volta a tomar a iniciativa e estabeleceu uma Aliança com os homens: com Noé depois do dilúvio [xv] e depois, sobretudo com Abraão [xvi], a quem prometeu uma grande descendência e fazer dela um grande povo, dando-lhe uma nova terra na qual um dia seriam abençoadas todas as nações.
A Aliança renovou-se depois com Isaac [xvii] e com Jacob [xviii].
No Antigo Testamento, a Aliança alcança a sua expressão mais completa com Moisés [xix].

Momento importante na história das relações entre Deus e Israel foi a profecia de Natan [xx], que anuncia que o Messias será da descendência de David e que reinará sobre todos os povos, não só sobre Israel.
Do Messias dir-se-á noutros textos proféticos que o seu nascimento teria lugar em Belém [xxi], que pertenceria à linhagem de David [xxii], que se lhe poria o nome de «Emanuel», isto é, Deus connosco [xxiii]; que se lhe chamará «Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz» [xxiv], etc.

Para além destes textos que descrevem o Messias como rei e descendente de David, há outros que relatam, também de modo profético, a missão redentora do Messias, chamando-lhe Servo de Yahvé, servo de dores, que assumirá no seu corpo a reconciliação e a paz [xxv].

Neste contexto é importante o texto de Dn 7, 13-14 sobre o Filho do homem que, misteriosamente, através da humildade e do aniquilamento, supera a condição humana e restaura o reino messiânico na sua fase definitiva [xxvi].

As principais figuras do Redentor no Antigo Testamento são o inocente Abel, o sumo sacerdote Melquisedec, o sacrifício de Isaac, José vendido pelos seus irmãos, o cordeiro pascal, a serpente de bronze levantada por Moisés no deserto e o profeta Jonas.

4. Os nomes de Cristo

São muitos os nomes e títulos atribuídos a Cristo por teólogos e autores espirituais ao longo dos séculos.
Uns foram tomados do Antigo Testamento; outros, do Novo.
Alguns são utilizados ou aceites pelo próprio Jesus; outros foram-lhe aplicados pela Igreja ao longo dos séculos.
Veremos, a seguir, os nomes mais importantes e habituais.

Jesus [xxvii], que em hebreu significa «Deus salva»:
«quando na anunciação, o anjo Gabriel dá-Lhe como nome próprio o nome de Jesus, o qual exprime, ao mesmo tempo, a sua identidade e a sua missão» [xxviii], quer dizer, Ele é o Filho de Deus feito homem para salvar «o Seu povo dos seus pecados» [xxix].

O nome de Jesus «significa que o próprio Nome de Deus está presente na pessoa do seu Filho [xxx] feito homem para a redenção universal e definitiva dos pecados.
Ele é o único nome divino que traz a salvação [xxxi] e pode, desde agora, ser invocado por todos, pois a todos os homens Se uniu pela Encarnação» [xxxii].

O nome de Jesus está no centro da oração cristã [xxxiii].

Cristo [xxxiv], que vem da tradução grega do termo hebraico «Messias» e que quer dizer «ungido».
Só se torna nome próprio de Jesus «porque Ele cumpre perfeitamente a missão divina que tal nome significa.

Com efeito, em Israel eram ungidos, em nome de Deus, aqueles que lhe eram consagrados para uma missão d’Ele dimanada» [xxxv].
Era o caso dos sacerdotes, dos reis e, em raros casos, dos profetas.
Este devia ser, por excelência, o caso do Messias que Deus enviaria para instaurar definitivamente o seu Reino.

Jesus realizou a expectativa messiânica de Israel na sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei [xxxvi].

Jesus «aceitou o título de Messias a que tinha direito [xxxvii], mas não sem reservas, uma vez que esse título era compreendido, por numerosos dos seus contemporâneos, segundo um conceito demasiado humano [xxxviii], essencialmente político [xxxix]» [xl].

Jesus Cristo é o Unigénito de Deus, o Filho único de Deus [xli].

A filiação de Jesus em relação ao Pai não é uma filiação adoptiva como a nossa, mas a filiação divina natural, quer dizer, «a relação única e eterna de Jesus Cristo com Deus, seu Pai: Ele é o Filho único do Pai [xlii] e Ele próprio é Deus [xliii].

Para ser cristão é condição necessária crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus [xliv]» [xlv].

Os evangelhos «narram em dois momentos solenes, o baptismo e a transfiguração de Cristo, que a voz do Pai o designa como seu “Filho amado” [xlvi].

Jesus designa-Se a Si próprio como “o Filho único de Deus[xlvii] afirmando, por este título, a sua preexistência eterna» [xlviii].
Senhor [xlix]: «na tradução grega dos livros do Antigo Testamento, o nome inefável com o qual Deus se revelou a Moisés [l], YHWH, é traduzido por “Kyrios” [“Senhor”].
Senhor desde então, o nome mais habitual para designar a própria divindade do Deus de Israel.

É neste sentido forte que o Novo Testamento utiliza o título “Senhor” tanto para o Pai, como também – e aí está a novidade – para Jesus, assim reconhecido como Deus [li]» [lii].

Ao atribuir a Jesus o título divino de Senhor, «as primeiras confissões de fé da Igreja afirmam, desde o princípio [liii], que o poder, a honra e a glória devidos a Deus Pai, também são devidos a Jesus [liv] porque Ele é “de condição divina” [lv] e o Pai manifestou esta soberania de Jesus ressuscitando-O de entre os mortos e exaltando-O na sua glória [lvi]» [lvii]. A oração cristã, litúrgica ou pessoal, é marcada pelo título de «Senhor» [lviii].

(cont)

José Antonio Riestra





[i] Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 56.
[ii] Ibidem, 61.
[iii] cf. Catecismo, 968
[iv] Ibidem, 62.
[v] cf. Catecismo, 969
[vi] LG 53
[vii] LG 63
[viii] Catecismo, 967
[ix] Cf. AAS 56 (1964) 1015-1016.
[x] Cf. Paulo VI, Exh. Marialis Cultus, 56.
[xi] Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 66.
[xii] cf. SC 103
[xiii] Catecismo, 971
[xiv] cf. Gn 3, 15; Catecismo, 410
[xv] cf. Gn 910
[xvi] cf. Gn 15-17
[xvii] cf. Gn 26, 2-5
[xviii] cf. Gn 28, 12-15; 35, 9-12
[xix] cf. Ex 6, 2-8; Ex 19-34
[xx] cf. 2 Sm 7, 7-15
[xxi] cf. Mq 5, 1
[xxii] cf. Is 11, 1; Jr 23, 5
[xxiii] cf. Is 7, 14
[xxiv] Is 9, 5
[xxv] cf. Ef 2,14-18): Is 42, 1-7; 49, 1-9; 50, 4-9; 52, 13-53, 12
[xxvi] cf. Catecismo, 440
[xxvii] cf. Catecismo, 430-435
[xxviii] Catecismo, 430
[xxix] Mt 1, 21
[xxx] cf. Act 5, 41; 3 Jo 7
[xxxi] cf. Jo 3, 18; Act 2, 21
[xxxii] Catecismo, 432
[xxxiii] cf. Catecismo, 435
[xxxiv] cf. Catecismo, 436-440
[xxxv] Catecismo, 436
[xxxvi] cf. ibid em
[xxxvii] cf. Jo 4, 25-26; 11, 27
[xxxviii] cf. Mt 22, 41-46
[xxxix] cf. Jo 6, 15; Lc 24, 21
[xl] Catecismo, 439
[xli] cf. Catecismo, 441-445
[xlii] cf. Jo 1, 14.18; 3, 16.18
[xliii] cf. Jo 1, 1
[xliv] cf. Act 8, 37; 1 Jo 2, 23
[xlv] Catecismo, 454
[xlvi] Mt 3, 17; 17, 5
[xlvii] Jo 3, 16
[xlviii] Catecismo, 444
[xlix] cf. Catecismo, 446-451
[l] cf. Ex 3, 14
[li] cf. 1 Cor 2, 8
[lii] Catecismo, 446
[liii] cf. Act 2, 3436
[liv] cf. Rm 9, 5; Tt 2, 13; Ap 5, 13
[lv] Fl 2, 6
[lvi] cf. Rm 10, 9; 1 Cor 12, 3; Fl 2, 11
[lvii] Catecismo, 449
[lviii] cf. Catecismo, 451

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