02/02/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTÃ

TEMA 2. A revelação

1. Deus revela-se aos homens

«Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-Se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da Sua vontade, segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina.
Em virtude desta revelação, Deus invisível na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos e convive com eles para os convidar e admitir à comunhão com Ele» [i], [ii].

A criação é revelada como primeiro passo para esta Aliança de Deus, como primeiro e universal testemunho de si mesmo [iii], [iv].

Através das criaturas, Deus manifestou-Se e manifesta-Se aos homens de todos os tempos, fazendo-os conhecer a Sua bondade e as Suas perfeições.
Dentre estas, o ser humano, imagem e semelhança de Deus, é a criatura que em maior grau revela Deus.
No entanto, Deus quis revelar-Se como Ser pessoal, através de uma história de salvação, criando e educando um povo para que fosse guardião da Sua Palavra dirigida aos homens e para preparar nele a Encarnação do Seu Verbo, Jesus Cristo [v], [vi].

N’Ele, Deus revela o mistério da Sua vida trinitária: o projecto do Pai de reconciliar no Seu Filho todas as coisas e de eleger e adoptar todos os homens como filhos no Seu Filho [vii], reunindo-os para participar da Sua eterna vida divina por meio do Espírito Santo. Deus revela-Se e cumpre o Seu plano de salvação mediante as missões do Filho e do Espírito Santo na história [viii].

São conteúdo da Revelação quer as verdades naturais, que o ser humano poderia conhecer também apenas mediante a razão, quer as verdades que ultrapassam a razão humana e que podem ser conhecidas apenas pela livre e gratuita bondade com que Deus se revela.

O objecto principal da Revelação divina não são verdades abstractas sobre o mundo e o homem: o seu núcleo substancial é a oferta por parte de Deus do mistério da Sua vida pessoal e o convite para participar nela.

A Revelação divina realiza-se com palavras e obras; é de modo inseparável mistério e evento; manifesta, ao mesmo tempo, uma dimensão objectiva – palavra que revela verdade e ensinamentos – e subjectiva – palavra pessoal que oferece testemunho de si e convida ao diálogo.
 Esta Revelação, portanto, compreende-se e transmite-se como verdade e como vida [ix], [x].

Além das obras e dos sinais externos com que Se revela, Deus concede o impulso interior da Sua graça para que os homens possam aderir com o coração às verdades reveladas [xi].
Esta revelação íntima de Deus nos corações dos fiéis não deve confundir-se com as chamadas “revelações privadas”, as quais, embora sejam acolhidas pela tradição de santidade da Igreja, não transmitem nenhum conteúdo novo e original, mas, recordam antes aos homens a única Revelação de Deus realizada em Jesus Cristo e exortam a pô-la em prática [xii].

2. A Sagrada Escritura, testemunho da Revelação

O povo de Israel, sob inspiração e mandato de Deus, ao longo dos séculos registou por escrito o testemunho da Revelação de Deus na sua história, relacionando-a directamente com a revelação do único e verdadeiro Deus feita aos nossos Pais.
Através da Sagrada Escritura, as palavras de Deus manifestam-se com palavras humanas, até assumir, no Verbo Encarnado, a própria natureza humana.

Além das Escrituras de Israel, acolhidas pela Igreja e conhecidas como Antigo ou Primeiro Testamento, os apóstolos e os primeiros discípulos registaram também, por escrito, o testemunho da Revelação de Deus tal como se realizou plenamente no Seu Verbo, de cuja passagem pela Terra foram testemunhas, de modo particular, do mistério pascal da Sua morte e ressurreição, dando, assim, origem aos livros do Novo Testamento.

A verdade de que o Deus, de quem as Escrituras de Israel dão testemunho, é o único e verdadeiro Deus, criador do céu e da terra, põe-se em evidência, em particular, nos “livros sapienciais”.
O seu conteúdo supera os confins do povo de Israel para suscitar o interesse pela experiência comum do género humano diante dos grandes temas da existência, desde o sentido do cosmos ao sentido da vida do homem [xiii];
desde as interrogações sobre a morte e do que vem a seguir a ela, até ao significado da actividade humana sobre a terra [xiv];
desde as relações familiares e sociais à virtude que deve regulá-las para viver de acordo com os planos de Deus criador e alcançar, assim, a plenitude da própria humanidade [xv]
Deus é o autor da Sagrada Escritura, que os autores sagrados (hagiógrafos), também eles autores do texto, redigiram sob a inspiração do Espírito Santo.
Para a sua composição, Deus «escolheu e serviu-se de homens, na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria» [xvi], [xvii].

Tudo o que os escritores sagrados afirmam pode considerar-se «afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas Letras» [xviii].

Para compreender correctamente a Sagrada Escritura há que ter presente o sentido da Escritura – literal e espiritual; este último reconhecível também no alegórico, moral e analógico – e os diversos géneros literários em que foram redigidos os diferentes livros ou partes dos mesmos [xix].

Em particular, a Sagrada Escritura deve ser lida na Igreja, ou seja, à luz da sua tradição viva e da analogia da fé [xx]:
a Escritura deve ser lida e compreendida de acordo com o mesmo Espírito com que foi escrita.

Os diversos estudiosos que se esforçam por interpretar e aprofundar o conteúdo da Escritura propõem os seus resultados a partir da autoridade científica pessoal.

Ao Magistério da Igreja compete a função de formular uma interpretação autêntica, vinculativa para os fiéis, baseada na autoridade do Espírito que assiste ao ministério docente do Romano Pontífice e dos Bispos em comunhão com ele.
Graças a esta assistência divina, a Igreja, já desde os primeiros séculos, reconheceu os livros que continham o testemunho da Revelação, no Antigo e no Novo Testamento, formulando assim o “cânon” da Sagrada Escritura [xxi].
Uma recta interpretação da Sagrada Escritura, reconhecendo os diferentes sentidos e géneros literários nela presentes, é necessária quando os autores sagrados descrevem aspectos do mundo que pertencem também ao âmbito das ciências naturais: a formação dos elementos do cosmos, a aparição das diversas formas de vida sobre a terra, a origem do género humano e, em geral, os fenómenos naturais.
Deve evitar-se o erro do fundamentalismo, que não se separa do sentido literal e do género histórico, quando seria lícito fazê-lo.
Também deve evitar-se o erro de quem considera as narrações bíblicas como formas puramente mitológicas, sem nenhum conteúdo de verdade a transmitir sobre a história dos acontecimentos e a sua radical dependência da vontade de Deus [xxii].

José Manuel Martín (Ed), Gabinete de informação do Opus Dei, 2016





[i] Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum , 2.
[ii] cfr. Catecismo, 51
[iii] Concílio Vaticano II , Const. Dei Verbum , 3; João Paulo II, Enc. Fides et Ratio , 14-IX-1988, 19.
[iv] cf. Catecismo, 288
[v] Cf. Concílio Vaticano I, Const. Dei Filius , 24-IV-1870, DS 3004.
[vi] cf. Catecismo, 54-64
[vii] cf. Ef 1,3-10; Cl 1,13-20
[viii] Cf. Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 2-4; Decr. Ad gentes, 2-4.
[ix] Cf. Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 2.
[x] cf. Catecismo, 52-53
[xi] cf. Mt 16,17; Jn6,44
[xii] cf. Catecismo, 67
[xiii] Sabedoria
[xiv] Qoh
[xv] Provérbios, Ben Sirá , etc.
[xvi] Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 11.
[xvii] cf. Catecismo,106
[xviii] Ibidem.
[xix] cf. Catecismo, 110, 115-117
[xx] cf. Catecismo, 111114
[xxi] cf. Catecismo, 120-127
[xxii] Podem encontrar-se elementos interessantes para uma correcta interpretação da relação com as ciências em Leão XIII, Enc. Providentissimus Deus, 18-XI-1893; Bento XV, Enc. Spiritus Paraclitus, 15-IX-1920 e Pio XII, Enc. Humani Generis, 12-VII-1950.

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