TEMA 6 A Criação
2.
A realidade criada
2.3.
O homem
A pessoa humana goza de
peculiar posição na obra criadora de Deus, ao participar, ao mesmo tempo, da
realidade material e espiritual.
Foi posto por Deus à cabeça
da realidade visível e goza de uma dignidade especial, pois «de todas as
criaturas visíveis, só o homem é capaz de conhecer e amar o seu Criador; é a
única criatura sobre a terra que Deus quis por si mesma; só ele é chamado a
partilhar, pelo conhecimento e pelo amor, a vida de Deus.
Homem e mulher, na sua
diversidade e complementaridade, queridas por Deus, gozam da mesma dignidade de
pessoas [iii].
Em ambos, se dá a união
substancial de corpo e alma, sendo esta a forma do corpo. Por ser espiritual, a
alma humana é criada de modo imediato por Deus – e não “produzida” pelos pais,
nem sequer é preexistente – e é imortal [iv].
Os dois pontos,
espiritualidade e imortalidade, podem ser demonstrados filosoficamente.
Portanto, é um reducionismo
afirmar que o homem procede exclusivamente da evolução biológica (evolucionismo
absoluto).
Na realidade, há saltos
ontológicos que não podem explicar-se apenas com a evolução.
A consciência moral e a
liberdade do homem, por exemplo, manifestam a sua superioridade sobre o mundo
material e são a amostra da sua especial dignidade.
A verdade da criação ajuda a
superar quer a negação da liberdade – determinismo – quer o extremo contrário
de uma exaltação indevida da mesma: a liberdade humana é criada, não absoluta e
existe na mútua dependência com a verdade e o bem.
O sonho de uma liberdade
como puro poder e arbitrariedade corresponde a uma imagem deformada, não só do
homem, mas, também, de Deus.
Além disso, a sua
inteligência e vontade são uma participação, uma chispa, da sabedoria e amor
divinos.
Enquanto o resto do mundo
visível é um mero vestígio da Trindade, o ser humano constitui uma autêntica
imagem, imago Trinitatis.
3.
Algumas consequências práticas da verdade sobre a criação
A radicalidade da acção
criadora e salvadora de Deus exige do homem uma resposta que tenha esse mesmo
carácter de totalidade: “amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com
toda a tua alma, com todas as tuas forças” [vi].
É nesta correspondência que
se encontra a verdadeira felicidade, o único que preenche plenamente a sua
liberdade.
Ao mesmo tempo, a
universalidade da acção divina tem um sentido intensivo e extensivo: Deus cria
e salva todo o homem e todos os homens.
Corresponder à chamada de
Deus, a amá-Lo com todo o nosso ser está intrinsecamente unido a levar o Seu
amor a todo o mundo [vii].
O conhecimento e admiração
do poder, sabedoria e amor divinos conduz o homem a uma atitude de reverência,
adoração e humildade, a viver na presença de Deus sabendo-se filho seu.
Ao mesmo tempo, a fé na providência
leva o cristão a uma atitude de confiança filial em Deus em todas as
circunstâncias: com agradecimento diante dos bens recebidos e com simples
abandono frente ao que possa parecer mau, pois Deus retira dos males bens
maiores.
Consciente de que tudo foi
criado para a glória de Deus, o cristão procura conduzir-se em todas as suas
acções procurando o fim verdadeiro que enche a sua vida de felicidade: a glória
de Deus, não a própria vanglória.
Esforça-se por rectificar a
intenção nas suas acções, de modo que possa dizer-se que o único fim da sua
vida é este:
Deus quis pôr o homem à
frente da Sua criação outorgando-lhe o domínio sobre o mundo, de maneira que a
aperfeiçoe com o seu trabalho.
A actividade humana pode
ser, portanto, considerada como uma participação na obra criadora divina.
A grandeza e beleza das
criaturas suscita nas pessoas admiração e desperta nelas a questão sobre a
origem e o destino do mundo e do homem, fazendo-se entrever a realidade do seu
Criador.
O cristão, no seu diálogo
com os não crentes, pode suscitar estas questões para que as inteligências e os
corações se abram à luz do Criador.
Da mesma forma, no seu
diálogo com os crentes das diversas religiões, o cristão encontra na verdade da
criação um excelente ponto de partida, pois trata-se de uma verdade em parte
partilhada e que constitui a base para a afirmação de alguns valores morais
fundamentais da pessoa.
Santiago
Sanz
Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja
Católica, 279-374. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 51-72. DS, n.
125, 150, 800, 806, 1333, 3000-3007, 3021-3026, 4319, 4336, 4341. Concílio
Vaticano II, Gaudium et Spes, 10-18, 19-21, 36-39. João Paulo II, Creo en Dios
Padre. Catequesis sobre el Credo (I), Palabra, Madrid 1996, 181-218. Leituras
recomendadas Santo Agostinho, Confissões, livro XII. São Tomás de Aquino, Summa
Theologiae, I, qq. 44-46. São Josemaria, Homilia «Amar o mundo apaixonadamente»
em Temas Actuais do Cristianismo, 113-123. Joseph Ratzinger, Creación y pecado,
Eunsa, Pamplona 1992. João Paulo II, Memória e Identidade, Bertrand Editora,
Lisboa 2005.
Notas:
[vii] Que o apostolado é superabundância da
vida interior (cf. São Josemaria, Caminho, 961), manifesta-se como a correlação
da dinâmica ad intra – ad extra do actuar divino, quer dizer, da intensidade do
ser, da sabedoria e do amor trinitário que transborda para as suas criaturas.
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