–
Estamos gostosamente, Senhor, na tua mão chagada. Aperta-nos com força!,
espreme-nos!, de modo que percamos toda a miséria terrena!, que nos
purifiquemos, que nos inflamemos, que nos sintamos empapados no teu Sangue! E
depois, lança-nos longe!, longe, com fome de messe, para uma sementeira cada
dia mais fecunda, por Amor de Ti. (Forja, 5)
Sem
grande dificuldade, poderíamos encontrar na nossa família, entre os nossos
amigos e companheiros – para não me referir já ao imenso panorama do mundo –
tantas pessoas mais dignas do que nós de receber o chamamento de Cristo. Mais
simples, mais sábias, mais influentes, mais importantes, mais gratas, mais
generosas...
Eu,
ao pensar nisto, fico envergonhado. Mas compreendo também que a nossa lógica
humana não serve para explicar as realidades da graça. Deus costuma procurar
instrumentos fracos para que se manifeste com evidente clareza que a obra é
sua. O próprio S. Paulo evoca com estremecimento a sua vocação; e por último,
depois de todos, foi também visto por mim, como por um aborto. Porque eu sou o
mínimo dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, porque
persegui a Igreja de Deus. Assim escreve Paulo de Tarso, homem de uma
personalidade e de um vigor que a história não fez mais do que engrandecer.
Fomos
chamados sem mérito algum da nossa parte, dizia-vos. Realmente, na base da
nossa vocação está o conhecimento da nossa miséria, a consciência de que as
luzes que iluminam a alma – a fé – o amor com que amamos – a caridade – e o
desejo que nos mantém – a esperança – são dons gratuitos de Deus. Por isso, não
crescer em humildade significa perder de vista o objectivo da escolha divina: ut essemus sancti, a santidade pessoal.
Agora,
tomando como ponto de partida essa humildade, podemos compreender toda a
maravilha da chamada divina. A mão de Cristo colheu-nos num trigal: o semeador
aperta na sua mão chagada o punhado de trigo; o sangue de Cristo banha a
semente, empapa-a. Depois, o Senhor lança ao ar esse trigo, para que, morrendo,
seja vida e, afundando-se na terra, seja capaz de multiplicar-se em espigas de
oiro. (Cristo
que passa, 3)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.