Art.
2 — Se estar sentado à direita do Pai convém a Cristo enquanto Deus.
O
segundo discute-se assim. — Parece que estar sentado à direita do Pai não
convém a Cristo enquanto Deus.
1. — Pois Cristo, enquanto Deus é à
direita do Pai. Ora, ser a direita de alguém e estar sentado à sua direita não
é o mesmo. Logo, Cristo, enquanto Deus, não está sentado à direita do Pai.
2. Demais. — O Evangelho diz: O Senhor Jesus foi assunto ao céu onde está
sentado à mão direita de Deus. Ora, Cristo não foi assunto do céu enquanto
Deus. Logo, também não é como Deus que está sentado à direita de Deus.
3. Demais. — Cristo, enquanto Deus é
igual ao Pai e ao Espírito Santo. Logo, se Cristo, enquanto Deus, está sentado
à direita do Pai, pela mesma razão o Espírito Santo estará sentado à direita do
Pai e do Filho; e o próprio Pai, à direita do Filho. O que não se lê em nenhum
lugar da Escritura.
Mas, em contrário, diz Damasceno: Chamamos direita do Pai à glória e às honras
da divindade, onde o Filho de Deus tem o seu lugar antes de todos os séculos
como Deus e consubstancial com o Pai.
Como do sobredito se colige,
ao vocábulo — direita — podemos atribuir três sentidos: primeiro, conforme
Damasceno, a glória da divindade;
segundo, de acordo com Agostinho, a
beatitude do Pai; terceiro, ainda de acordo com o mesmo, o poder judiciário. Ora, o facto de
estar sentado, como se disse, designa uma habitação, ou uma dignidade régia ou
judiciária. Donde, estar sentado à direita do Pai não é outra causa senão
participar simultaneamente com ele da glória da divindade, da beatitude e do
poder judiciário, e isso de modo imutável e como rei. Ora, isso convém ao Filho
enquanto Deus. Donde, é manifesto que Cristo, enquanto Deus, está sentado à direita
do Pai: contanto que a preposição a, (ad) que é transitiva, signifique a ordem
da origem, e não o grau de natureza ou de dignidade, que não existe nenhum nas
Pessoas divinas, como estabelecemos na Primeira Parte.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
O Filho de Deus é chamado a direita do Pai em sentido próprio, do mesmo modo
por que também é chamado a virtude do Pai. Ora, a direita do Pai, nas três
significações supra-referidas, é algo de comum às três Pessoas.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo, enquanto
homem foi assunto à honra divina, que supõe o facto de estar sentado à direita
do Pai. Contudo, essa honra convém por disposição divina, a Cristo enquanto Deus,
não em virtude de qualquer assunção, mas pela origem eterna.
RESPOSTA À TERCEIRA. — De nenhum modo
podemos dizer que o Pai está sentado à direita do Filho ou do Espírito Santo;
porque o Filho e o Espírito Santo tiram a sua origem do Pai e não inversamente.
Mas o Espírito Santo podemos propriamente dizer, que está sentado à direita do
Pai ou do Filho, no sentido referido; embora por uma certa apropriação o estar
sentado seja atribuído ao Filho, de quem é próprio a igualdade; porque, como diz Agostinho, ao Pai é própria a unidade, ao Filho a
igualdade e ao Espírito Santo a conexão entre a unidade e a igualdade.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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