Art.
2 — Se ascender ao céu convinha a Cristo enquanto de natureza divina.
O segundo discute-se assim. — Parece que
ascender ao céu convinha a Cristo enquanto de natureza divina.
1. — Pois, diz a Escritura: Subiu Deus com júbilo. E noutro lugar: O teu protetor é aquele que sobe ao mais
alto dos céus. Ora, isso foi dito de Deus mesmo antes da Encarnação de
Cristo. Logo, convinha a Cristo, como Deus, subir ao céu.
2. Demais. — Sobe ao céu quem dele
desceu, segundo o Evangelho: Ninguém
subiu ao céu senão aquele que desceu do céu. E o Apóstolo: Aquele que desceu esse mesmo é também o que
subiu. Ora, Cristo desceu do céu, não como homem, mas como Deus, pois, não
era a sua natureza humana, mas a divina, que já antes existia no céu. Logo,
parece que Cristo subiu ao céu como Deus.
3. Demais. — Cristo, na sua ascensão,
subiu ao Pai. Ora, não tinha nenhuma igualdade com o Pai enquanto homem; pois,
diz, nesse sentido: O Pai é maior que eu,
como lemos no Evangelho. Logo, parece que Cristo subiu ao céu como Deus.
Mas, em contrário, segundo o Apóstolo - Aquele que subiu não foi também o que
desceu? - diz a Glosa: Foi na sua
humanidade que Cristo desceu e subiu.
A expressão — enquanto que no
caso vertente, pode designar duas coisas: a condição de quem sobe e a causa da
ascenção. — Se designa a condição de quem subiu, então ascender não podia
convir a Cristo segundo a condição da sua natureza divina. Quer por não haver
nada mais alto que a divindade, para onde pudesse subir. Quer também por
implicar a ascensão o movimento local, de que não é susceptível a natureza
divina, que é imóvel e não ocupa nenhum lugar. Mas, Cristo podia subir desse
modo na sua natureza humana que ocupava lugar no espaço e era susceptível de
movimento. Donde, neste sentido, poderemos dizer que Cristo subiu ao céu,
enquanto homem e não enquanto Deus. - Mas se - enquanto que - designa a causa
da ascençâo, como Cristo subiu ao céu pelo seu poder divino e não em virtude da
natureza humana, devemos concluir que subiu ao céu não enquanto homem, mas
enquanto Deus. Donde o dizer Agostinho: Enquanto
dotado de natureza humana é que Cristo foi crucificado; mas como Deus é que
subiu ao céu.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Os lugares citados são profecias
referentes a Deus, enquanto encarnado. – Podemos, porém, dizer, que subir ao
céu, embora não conviesse à natureza divina, pode, contudo, ser-lhe atribuído
metaforicamente; no mesmo sentido em que dizemos que Deus sobe ao coração do
homem, quando este se lhe sujeita e humilha. E, do mesmo modo, dizemos
metaforicamente que sobe, em relação a qualquer criatura quando a sujeita à sua
lei.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O que subiu foi o
mesmo que desceu. Assim, diz Agostinho: Quem
foi o que desceu? Deus homem. Quem foi o que subiu? O mesmo Deus homem. A
descida, porém, se atribui a Cristo em dois sentidos. Num, dizemos que desceu
do céu. E isto o atribuímos a Deus homem enquanto Deus. Mas essa descida não a
devemos entender como implicando um movimento local; mas pela sua aniquilação,
tendo a natureza de Deus, tomou a natureza de servo. Pois como dissemos que se
aniquilou, não por ter perdido a sua plenitude, mas por ter se revestido das
nossas misérias, assim também, que desceu do céu, não pelo ter abandonado, mas
por ter assumido a natureza terrena, na unidade da pessoa. – Outra, porém foi à
descida pela qual descem às partes ínfimas da terra, no dizer do Apóstolo. E
essa foi a um local determinado, e Cristo pôde fazê-la, segundo a condição da
natureza humana.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Diz-se que Cristo
subiu ao céu, por ter subido a sentar-se à dextra paterna. O que convinha, de
certo modo, à natureza divina de Cristo; mas, de certo outro, à natureza
humana, como a seguir se dirá.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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