Art.
2 — Se a ressurreição de Cristo é a causa da ressurreição das almas.
O
segundo discute-se assim. — Parece que a ressurreição de Cristo não é a causa
da ressurreição das almas.
1. — Pois, diz Agostinho, que os corpos
ressuscitam por uma excepção à lei da vida humana, mas as almas ressuscitam pela
substância de Deus, Ora, a ressurreição de Cristo não concerne à substância de
Deus, mas a uma excepção à lei da vida humana. Logo, a ressurreição de Cristo,
embora causa da ressurreição dos corpos, não pode, contudo, ser considerada
causa da ressurreição das almas.
2. Demais. — O corpo não age sobre o
espírito. Ora, a ressurreição de Cristo foi a do seu corpo, ferido pela morte.
Logo, a ressurreição de Cristo não é a causa da ressurreição das almas.
3. Demais. — Sendo a ressurreição de
Cristo a causa da ressurreição dos corpos, todos os corpos ressuscitarão,
segundo o Apóstolo. Todos certamente
ressuscitaremos. Ora, nem todas as almas ressuscitarão, porque algumas irão
para o suplício eterno, como diz o Evangelho. Logo, a ressurreição de Cristo
não é a causa da ressurreição das almas.
4. Demais. — A ressurreição das almas opera-se
pela remissão dos pecados. Ora, isto deu-se pela Paixão de Cristo, segundo a
Escritura: Lavou-nos dos nossos pecados
no seu sangue. Logo, da ressurreição das almas foi antes a causa a Paixão
de Cristo que a sua ressurreição.
Mas, em contrário, o Apóstolo diz: Ressuscitou para nossa justificação, que
outra coisa não é senão a ressurreição das almas. E segundo a Escritura —
De tarde estaremos em lágrimas — diz a Glosa: A ressurreição de Cristo é a causa da nossa — da alma, presentemente, e do corpo, no futuro.
Como dissemos, a ressurreição
de Cristo age em virtude da divindade. — E essa estende-se não só à ressurreição
dos corpos, mas também à das almas; pois Deus é quem dá à alma a vida da graça
e faz o corpo viver mediante a alma. Donde, a ressurreição de Cristo tem uma
virtude instrumentalmente eficiente, não só em relação à ressurreição dos
corpos, mas também à das almas. — Semelhantemente, age também como causa
exemplar no atinente à ressurreição das almas. Pois, devemos conformar-nos com
Cristo ressuscitado, quanto à nossa alma; para que, no dizer do Apóstolo, assim como Cristo ressuscitou dos mortos
pela glória do Pai, assim também nós andemos em novidade de vida; e assim como
ele ressuscitado dos mortos já não morre, assim também nós nos consideremos
mortos ao pecado, para que de novo vivamos com ele.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
Quando Agostinho diz que a ressurreição
das almas opera-se pela substância de Deus, entende-o quanto à participação:
pois, participando da divina bondade é que as almas se tornam justas e boas,
não, porém, participando de qualquer criatura. Por isso, depois de ter dito — as almas ressuscitam pela substância de Deus,
acrescenta: Pois, pela participação de
Deus a alma se faz bem-aventurada, e não pela participação de qualquer alma
santa. Ora, participando da glória do corpo de Cristo, os nossos corpos
tornar-se-ão gloriosos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A eficiência da
ressurreição de Cristo faz-se sentir nas almas, não pela virtude própria do
corpo de Cristo ressuscitado, mas por virtude da divindade, a que está unido.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A ressurreição
das almas respeita ao mérito efeito da justificação; ao passo que a
ressurreição dos corpos ordena-se à pena ou ao prémio, efeitos da judicação.
Ora, não é o papel de Cristo justificar a todos, mas sim julgá-las. Por isso
ressuscita o corpo de todos, mas não a alma.
RESPOSTA À QUARTA. — Dois elementos
concorreram para a justificação das almas: a remissão da culpa e a novidade da
vida da graça. — Ora, quanto à eficiência fundada na virtude divina, tanto a
Paixão de Cristo como a sua ressurreição é a causa da justificação,
relativamente aos dois elementos supra referidos. — Mas, quanto à exemplaridade,
propriamente a Paixão e a morte de Cristo é a causa da remissão da culpa, pela
qual morremos ao pecado; ao passo que a sua ressurreição é a causa da novidade
da vida, causada pela graça ou pela justiça. Donde o dizer o Apóstolo, que Cristo foi entregue, isto é, à
morte, por nossos pecados, isto é,
para tirá-los, e ressuscitou para nossa
justificação. Mas a Paixão de Cristo também é meritória, como dissemos.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.