Art.
6 — Se as provas aduzidas por Cristo manifestaram suficientemente a verdade da
sua ressurreição.
O sexto discute-se assim. — Parece que
as provas aduzidas por Cristo não manifestaram suficientemente a verdade da sua
ressurreição.
1. — Pois, Cristo não manifestou nada
aos discípulos depois da sua ressurreição, que também não pudessem os anjos
manifestar ou deixar de o fazer, quando aparecem aos homens. Assim, os anjos
frequentemente se mostravam aos homens em forma humana, com eles falavam
conviviam e comiam como se verdadeiramente fossem homens. Tal o lemos na
Escritura quando refere que Abraão deu hospitalidade a anjos; e que um anjo
levou e reconduziu a Tobias. E, contudo, não tem corpo real a que estejam
unidos naturalmente. o que é necessário para a ressurreição. Logo, os sinais
que Cristo mostrou aos discípulos não eram suficientes para manifestar-lhe a
ressurreição.
2. Demais. — Cristo ressurgiu glorioso,
isto é, tendo a natureza humana, mas simultaneamente gloriosa. Ora, Cristo fez
certas manifestações aos discípulos, contrárias à natureza humana; tal o se
lhes desvanecer aos olhos e o entrar a ter com eles através de portas fechadas.
E também eram contrárias à glória certas outras, como o comer e beber e o
conservar as cicatrizes das chagas. Logo, parece que as referidas provas não
eram suficientes nem convenientes a despertar a fé na ressurreição.
3. Demais. — O corpo de Cristo depois da
ressurreição não era tal que pudesse se tocado pelos mortais; por isso ele
próprio disse a Madalena: Não me toques
porque ainda não subi a meu Pai. Logo, não era conveniente que, para
manifestar a verdade da sua ressurreição, se deixasse tocar pelos discípulos.
4. Demais. — Dentre os dotes do corpo
glorioso o mais importante é a claridade. Ora, desse não tem Cristo, na
ressurreição, nenhuma prova. Logo, parece que insuficientes eram as referidas
provas para manifestar a qualidade da sua ressurreição.
5. Demais. — Os anjos apresentados como
testemunhas da ressurreição, a própria dissonância entre os Evangelistas,
mostra que eram insuficientes. Assim, Mateus nos mostra o anjo sobre a pedra
revolvida e Marcos, no interior do monumento, quando as mulheres nele entraram.
Além disso, esses dois evangelistas falam-nos de um só anjo; ao passo que João,
de dois, sentados; e Lucas, de dois também, mas de pé. Logo, parecem
inconvenientes os testemunhos da ressurreição.
Mas, em contrário, Cristo que é a Sabedoria de Deus, dispõe todas as coisas com suavidade
e conveniência, na frase da Escritura.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
Embora cada uma das provas, em particular, não bastasse a manifestar a
ressurreição de Cristo, contudo todas tomadas simultaneamente a manifestam de
modo perfeito, sobretudo pelo testemunho da Escritura, pelas palavras dos anjos
e também pela própria afirmação de Cristo confirmada por milagres. Quanto aos
anjos que apareceram, não afirmavam que fossem homens como Cristo se afirmou
verdadeiramente homem. — E, contudo, foi um o modo de comer de Cristo
e outro o do anjo. Pois, por não serem os corpos assumidos pelos anjos
vivos ou animados, não comeram eles verdadeiramente, embora na realidade
triturassem os alimentos que iam ter à parte interior do corpo assumido. Por
isso o anjo disse a Tobias: Quando eu
estava convosco, a vós parecia-vos que eu comia e bebia convosco, mas eu
sustento-me de um manjar invisível. Mas, como o corpo de Cristo era
verdadeiramente animado, comeu verdadeiramente. Pois, no dizer de Agostinho, o corpo ressuscitado fica isento não do
poder, mas da necessidade de comer. Donde o dizer Beda, Cristo comeu por poder e não por necessidade.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Como dissemos
Cristo serviu-se de várias provas para manifestar a sua verdadeira natureza
humana; e de algumas outras para mostrar a glória de ressuscitado. Ora, a
condição da natureza humana, considerada em si mesma, no estado da vida
presente, contraria à condição da glória, segundo o Apóstolo: Semeia-se em vileza, ressuscitará em glória.
Donde, as provas para manifestar o estado glorioso estão em oposição à
natureza, não considerada absolutamente, mas ao seu estado presente, e ao
inverso. Por isso diz Gregório, que duas
causas admiráveis o Senhor mostrou e muito contraditórias aos olhos da razão
humana: conservar, depois da ressurreição, o seu corpo simultaneamente
incorruptível e capaz de ser tocado.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como adverte
Agostinho, o Senhor disse: Não me toques
porque ainda não subi a meu Pai, para que essa mulher figurasse a Igreja
formada pelos gentios, que só acreditou em Cristo quando ele subiu ao Pai. Ou
quis Jesus que se acreditasse nele, isto é, que fosse tocado espiritualmente,
de modo a ser considerado na sua unidade com o Pai. Porque, no seu senso
íntimo, quem assim o considera, crê que de certo modo Cristo, subindo ao Pai,
subiu a quem o reconhece como seu igual. Ao passo que a mulher, chorando-o como
homem, só carnalmente cria nele. Quanto ao que se lê em outro lugar do
Evangelho, que Maria o tocou, quando se lhe achegou, junto com outras mulheres,
e lhes abraçou os pés, não encerra isso nenhuma dificuldade, diz Severiano.
Porque no primeiro caso trata-se de uma figura e no segundo, do sexo; naquele
da graça divina; neste, da natureza humana. — Ou como o explica
Crisóstomo, essa mulher queria tratar
ainda o Cristo como se fosse antes da Paixão. Invadida de atearia,
esquecia-se da grandeza do seu Salvador; pois, o corpo de Cristo tinha-se, com
efeito, revestido de uma glória incomparável, depois de ressuscitado. Por isso
lhe disse: Ainda não subi a meu Pai,
como se lhe dissesse: Não penses que
ainda vivo uma vida mortal. Se ainda
na terra me vês, é porque ainda não subi a meu Pai; mas dentro em pouco para
ele subirei. E por isso acrescenta: Subo
para meu Pai e vosso Pai.
RESPOSTA À QUARTA. — Como diz Agostinho,
o Senhor ressuscitou com seu corpo
glorificado; mas não quis aparecer assim glorioso aos discípulos, porque os
olhos deles não podiam suportar a grande glória. Pois, antes de ter morrido por
nós e ressuscitado, quando foi da transfiguração no monte, já os discípulos não
no puderam contemplar; com maior razão não poderiam fitar o corpo do Senhor
glorificado. - Devemos também considerar que depois da ressurreição o
Senhor queria sobretudo mostrar que era o mesmo que tinha morrido. O que
poderia ficar grandemente impedido se lhes manifestasse a glória do seu corpo.
Pois, as mudanças de figura são as que sobretudo revelam a diversidade do que
vemos; porque os sensíveis comuns, entre os quais se contam a unidade e a
multiplicidade, ou a identidade e a diversidade, a vista é a que sobretudo
julga deles. Mas antes da Paixão a fim de que os discípulos não o desprezassem
pelas humilhações dela, quis Cristo mostrar-lhes a glória da sua majestade,
revelada principalmente pela glória do corpo, Por isso, antes da Paixão,
manifestou aos discípulos a sua glória refulgente; mas, depois da ressurreição,
por outros indícios.
RESPOSTA À QUINTA. — Como diz Agostinho,
podemos, com Mateus e Marcos, entender
que as mulheres viram um anjo, supondo que o foi quando entraram no monumento,
isto é, num certo espaço cercado por um muro de pedras, e aí viram o anjo
sentado na pedra revolvida do sepulcro, como refere Mateus; isto é, sentado à
direita, como requer Marcos. Em seguida, enquanto examinavam o lugar, onde
tinha jazido o corpo do Senhor, viram os dois anjos, primeiro, sentados, no
dizer de João, e depois levantados, de modo que pareciam estar de pé, como
relata Lucas.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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