Art.
4 — Se Cristo foi à causa da sua ressurreição.
O quarto discute-se assim. — Parece que
Cristo não foi a causa da sua ressurreição.
1. — Pois, quem é ressuscitado por outro
não é a causa da sua ressurreição. Ora, Cristo foi ressuscitado por outro,
segundo o Evangelho: Ao qual Deus
ressuscitou, soltas as dores do inferno. E o Apóstolo: Aquele que ressuscitou dos mortos a Jesus Cristo também dará vida aos
vossos corpos mortais, etc. Logo, Cristo não é a causa da sua ressurreição.
2. Demais. — Quem pede uma causa a outro
não dizemos que a merece nem que dela é causa. Ora, Cristo com a sua Paixão
mereceu a ressurreição; assim, como diz Agostinho, as humilhações da Paixão mereceram a glória da ressurreição. E
também ele pediu ao Pai que lhe concedesse a ressurreição, segundo a Escritura:
Tu, pois, Senhor, tem compaixão de mim e
ressuscita-me. Logo, Cristo não foi a causa da sua ressurreição.
3. Demais. — Como prova Damasceno, quem ressuscita
não é a alma, mas o corpo ferido pela morte. Ora, o corpo não pode unir a si a
alma, mais nobre que ele. Logo, o que em Cristo ressuscitou não podia ser a
causa da sua ressurreição.
Mas, em contrário, o Senhor diz: Ninguém tira de mim a minha alma, mas eu de
mim mesmo a ponho e tenho o poder de a reassumir. Ora, ressuscitar não é
senão assumir de novo a alma. Logo, parece que Cristo ressuscitou por virtude
própria.
Como dissemos, pela morte não
ficou separada a divindade nem da alma nem do corpo de Cristo. Ora, tanto a
alma de Cristo morto, como o seu corpo podem ser considerados a dupla luz: em
razão da divindade e em razão da própria natureza criada. - Segundo, pois, a
virtude da divindade que lhe estava unida tanto o corpo reassumiu a alma, que depusera,
como a culpa reassumiu o corpo, que demitira. E tal o diz o Apóstolo, de
Cristo: Ainda que foi crucificado por
enfermidade, vive, todavia, pelo poder de Deus. - Se, porém, considerarmos
o corpo e a alma de Cristo morto, quanto à virtude da natureza criada, então
não podiam ser reunidos um à outra, mas era mister que fosse Cristo
ressuscitado por Deus.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
O mesmo é a virtude divina que a obra do Pai e do Filho. Donde, Cristo
ressuscitou tanto pela virtude divina do Pai, como pela sua própria.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo, orando,
pediu e mereceu a sua ressurreição, enquanto homem, mas não como Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O corpo, pela sua
natureza criada, não tem maior poder que a alma de Cristo; mais poderoso é que ela,
porém, por virtude divina. Mas a alma, por sua vez, pela divindade que lhe
estava unida, tem maior poder que o corpo na sua natureza criada. E assim,
segundo a virtude divina, o corpo e a alma se reassumiram mutuamente, mas não
segundo a virtude da natureza criada.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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