5. O alcance
antropológico da ideologia do género
Importa aprofundar o alcance da ideologia do género, pois
ela representa uma autêntica revolução antropológica. Reflecte um subjectivismo
relativista levado ao extremo, negando o significado da realidade objectiva.
Nega a verdade como algo que não pode ser construído, mas nos é dado e por nós
descoberto e recebido. Recusa a moral como uma ordem objectiva de que não
podemos dispor. Rejeita o significado do corpo: a pessoa não seria uma unidade
incindível, espiritual e corpórea, mas um espírito que tem um corpo a ela
extrínseco, disponível e manipulável. Contradiz a natureza como dado a acolher
e respeitar. Contraria uma certa forma de ecologia humana, chocante numa época
em que tanto se exalta a necessidade de respeito pela harmonia pré-estabelecida
subjacente ao equilíbrio ecológico ambiental. Dissocia a procriação da união
entre um homem e uma mulher e, portanto, da relacionalidade pessoal, em que o
filho é acolhido como um dom, tornando-a objecto de um direito de afirmação
individual: o “direito” à parentalidade.
No plano estritamente científico, obviamente, é ilusória
a pretensão de prescindir dos dados biológicos na identificação das diferenças
entre homens e mulheres. Estas diferenças partem da estrutura genética das
células do corpo humano, pelo que nem sequer a intervenção cirúrgica nos órgãos
sexuais externos permitiria uma verdadeira mudança de sexo.
É certo que a pessoa humana não é só natureza, mas é
também cultura. E também é certo que a lei natural não se confunde com a lei
biológica. Mas os dados biológicos objectivos contêm um sentido e apontam para
um desígnio da criação que a inteligência pode descobrir como algo que a
antecede e se lhe impõe e não como algo que se pode manipular arbitrariamente.
A pessoa humana é um espírito encarnado numa unidade bio-psico-social. Não é só
corpo, mas é também corpo. As dimensões corporal e espiritual devem
harmonizar-se, sem oposição. Do mesmo modo, também as dimensões natural e
cultural. A cultura vai para além da natureza, mas não se lhe deve opor, como
se dela tivesse que se libertar.
(cont)
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