O medo à morte e aos tormentos nada tem de
culpa, mas antes de pena: é uma aflição das que Cristo veio para padecer e não
para escapar.
Nem se há-de chamar cobardia ao medo e à
tortura e horror diante dos suplícios.
Não obstante, fugir por medo à tortura ou
à própria morte numa situação em que é necessário lutar, ou também, abandonar
toda a esperança de vitória e entregar-se ao inimigo, isto, sem dúvida, é um
crime grave na disciplina militar.
Além disso, não importa quão perturbado e
assustado pelo medo esteja o ânimo de um soldado; se apesar de tudo avança
quando o manda o capitão, e marcha e luta e vence o inimigo, nenhum motivo tem
para temer que aquele seu primeiro medo possa diminuir o prémio.
De facto, deveria receber inclusivamente
maior louvor, visto que teve de superar não só o exército inimigo, mas também o
seu próprio temor; este último, com frequência, é mais difícil de vencer que o
próprio inimigo.
(são tomás moro, La agonia de Cristo, trad
AMA)
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