02/01/2016

Tratado da vida de Cristo 64

Questão 39: Do baptizado de Cristo

Art. 2 — Se Cristo devia receber o baptismo de João.

 O segundo discute-se assim. — Parece que Cristo não devia receber o baptismo de João.


1. — Pois, o baptismo de João foi um baptismo de penitência. Ora, a penitência não convinha a Cristo, isento de todo pecado. Logo, parece que não devia receber o baptismo de João.

2. Demais. — O baptismo de João, como diz Crisóstomo, foi um meio-termo entre o baptismo dos Judeus e o de Cristo. Ora, o termo médio participa da natureza dos extremos, como diz Aristóteles. Ora, como Cristo não recebeu o baptismo da lei nem o seu próprio, parece que, pela mesma razão não devia receber o de João.

3. Demais. — Tudo o que é óptimo, na ordem humana deve ser atribuído a Cristo. Ora, o baptismo de João não é o supremo dos baptismos. Logo, Cristo não devia receber o baptismo de João.

Mas, em contrário, o Evangelho: Veio Jesus ao Jordão para ser baptizado por João.

Como diz Agostinho, o Senhor baptizava, depois de baptizado, mas não pelo baptismo com que o foi. Donde, como administrava um baptismo que lhe era próprio, não recebeu o seu próprio baptismo, mas o de João. E assim devia ser. - Primeiro, pela condição do baptismo de João, que não baptizava no Espírito, mas só em água. Ora, Cristo não precisava de nenhum baptismo espiritual, porque desde o princípio da sua concepção teve a plenitude da graça do Espírito Santo, como do sobredito resulta. E essa é a razão dada por Crisóstomo. Segundo, como diz Beda, recebeu o baptismo de João, para comprová-lo com o seu baptismo. – Terceiro, como diz Gregório Nazianzeno, Cristo recebeu o baptismo de João para santificar o baptismo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como dissemos, Cristo quis ser baptizado a fim de, com o seu exemplo, nos induzir a receber o baptismo. E para ser mais eficaz a sua indução, quis receber um baptismo de que manifestamente não precisava, para que os homens recebam o de que precisam. Donde o dizer Ambrósio: Ninguém recuse o lavacro da graça, pois Cristo não recusou o lavacro da penitência.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O baptismo dos judeus, preceituado pela lei, era somente figurado: ao passo que o de João de certo modo era oral, por induzir os homens a absterem-se do pecado: mas o baptismo de Cristo tinha a eficácia de purificar do pecado e conferir a graça. Quanto a Cristo, nem precisava de receber a remissão dos pecados, dos quais estava isento, nem de receber a graça, da qual tinha a plenitude. Semelhantemente, sendo ele a Verdade, não lhe podia convir o que se realizava só figuradamente. Por isso, mais conforme lhe era receber um baptismo médio, do que um dos extremos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O baptismo é um certo remédio espiritual. Ora, mais um ser é perfeito e menos necessidade tem de remédio. Donde, sendo Cristo perfeito por excelência, não devia receber o perfeitíssimo dos baptismos, assim como quem é são, não precisa da eficácia de nenhum remédio.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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