Tempo de Natal
Epifania
Evangelho:
Lc 4, 14-22
14 Voltou Jesus, sob
o impulso do Espírito, para a Galileia, e a Sua fama divulgou-se por toda a
região circunvizinha. 15 Ensinava nas suas sinagogas e era aclamado
por todos. 16 Foi a Nazaré, onde Se tinha criado, entrou na
sinagoga, segundo o Seu costume, em dia de sábado, e levantou-Se para fazer a
leitura. 17 Foi-Lhe dado o livro do profeta Isaías. Quando
desenrolou o livro, encontrou o lugar onde estava escrito: 18 “O
Espírito do Senhor repousou sobre Mim; pelo que Me ungiu para anunciar a boa
nova aos pobres; Me enviou para anunciar a redenção aos cativos, e a
recuperação da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, 19
a pregar um ano de graça da parte do Senhor”. 20 Tendo enrolado o
livro, deu-o ao encarregado, e sentou-Se. Os olhos de todos os que se
encontravam na sinagoga estavam fixos n'Ele. 21 Começou a
dizer-lhes: «Hoje cumpriu-se este passo da Escritura que acabais de ouvir». 22
E todos davam testemunho em Seu favor, e admiravam-se das palavras de graça que
saíam da Sua boca, e diziam: «Não é este o filho de José?».
Comentário:
Ninguém poderá acusar Jesus de ter
deliberadamente escondido a Sua identidade e ocultar a missão que vinha
cumprir.
Ele próprio o confessa dando como “garantia” das Suas palavras a própria Escritura.
(ama, comentário sobre LC 4 14-22,
2015.01.08)
Leitura espiritual
CARTA
ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO
SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE
O CUIDADO DA CASA COMUM
CAPÍTULO
III
A
RAIZ HUMANA DA CRISE ECOLÓGICA
3.
Crise do antropocentrismo moderno e suas consequências
A
inovação biológica a partir da pesquisa
130. Na visão filosófica e teológica do
ser humano e da criação que procurei propor, aparece claro que a pessoa humana,
com a peculiaridade da sua razão e da sua sabedoria, não é um factor externo
que deva ser totalmente excluído.
No entanto, embora o ser humano possa
intervir no mundo vegetal e animal e fazer uso dele quando é necessário para a
sua vida, o Catecismo ensina que as experimentações sobre os animais só são
legítimas «desde que não ultrapassem os limites do razoável e contribuam para
curar ou poupar vidas humanas».[i]
Recorda, com firmeza, que o poder humano
tem limites e que «é contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os
animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas».[ii]
Todo o uso e experimentação «exige um
respeito religioso pela integridade da criação».[iii]
131. Quero recolher aqui a posição
equilibrada de São João Paulo II, pondo em destaque os benefícios dos
progressos científicos e tecnológicos, que «manifestam quanto é nobre a vocação
do homem para participar de modo responsável na acção criadora de Deus», mas ao
mesmo tempo recordava que «toda e qualquer intervenção numa área determinada do
ecossistema não pode prescindir da consideração das suas consequências noutras
áreas».[iv]
Afirmava que a Igreja aprecia a
contribuição «do estudo e das aplicações da biologia molecular, completada por
outras disciplinas como a genética e a sua aplicação tecnológica na agricultura
e na indústria»,[v] embora dissesse também que
isto não deve levar a uma «indiscriminada manipulação genética»[vi]
que ignore os efeitos negativos destas intervenções.
Não é possível travar a criatividade
humana.
Se não se pode proibir a um artista que
exprima a sua capacidade criativa, também não se pode obstaculizar quem possui
dons especiais para o progresso científico e tecnológico, cujas capacidades
foram dadas por Deus para o serviço dos outros.
Ao mesmo tempo, não se pode deixar de considerar
os objectivos, os efeitos, o contexto e os limites éticos de tal actividade
humana que é uma forma de poder com grandes riscos.
132. Neste quadro, deveria situar-se toda
e qualquer reflexão acerca da intervenção humana sobre o mundo vegetal e animal
que implique hoje mutações genéticas geradas pela biotecnologia, a fim de aproveitar
as possibilidades presentes na realidade material.
O respeito da fé pela razão pede para se
prestar atenção àquilo que a própria ciência biológica, desenvolvida independentemente
dos interesses económicos, possa ensinar a propósito das estruturas biológicas
e das suas possibilidades e mutações.
Em todo o caso, é legítima uma intervenção
que actue sobre a natureza «para a ajudar a desenvolver-se na sua própria
linha, a da criação, querida por Deus».[vii]
133. É difícil emitir um juízo geral sobre
o desenvolvimento de organismos modificados geneticamente (OMG), vegetais ou
animais, para fins medicinais ou agro-pecuários, porque podem ser muito
diferentes entre si e requerer distintas considerações.
Além disso, os riscos nem sempre se devem
atribuir à própria técnica, mas à sua aplicação inadequada ou excessiva.
Na realidade, muitas vezes as mutações
genéticas foram e continuam a ser produzidas pela própria natureza.
E mesmo as provocadas pelo ser humano não
são um fenómeno moderno.
A domesticação de animais, o cruzamento de
espécies e outras práticas antigas e universalmente seguidas podem incluir-se
nestas considerações.
É oportuno recordar que o início dos
progressos científicos sobre cereais transgénicos foi a observação de bactérias
que, de forma natural e espontânea, produziam uma modificação no genoma dum
vegetal.
Mas, na natureza, estes processos têm um
ritmo lento, que não se compara com a velocidade imposta pelos avanços
tecnológicos actuais, mesmo quando estes avanços se baseiam num desenvolvimento
científico de vários séculos.
134. Embora não disponhamos de provas
definitivas acerca do dano que poderiam causar os cereais transgénicos aos
seres humanos e apesar de, nalgumas regiões, a sua utilização ter produzido um
crescimento económico que contribuiu para resolver determinados problemas, há
dificuldades importantes que não devem ser minimizadas. Em muitos lugares, na
sequência da introdução destas culturas, constata-se uma concentração de terras
produtivas nas mãos de poucos, devido ao «progressivo desaparecimento de
pequenos produtores, que, em consequência da perda das terras cultivadas, se
viram obrigados a retirar-se da produção directa».[viii]
Os mais frágeis deles tornam-se
trabalhadores precários, e muitos assalariados agrícolas acabam por emigrar
para miseráveis aglomerados das cidades.
A expansão destas culturas destrói a
complexa trama dos ecossistemas, diminui a diversidade na produção e afecta o
presente ou o futuro das economias regionais.
Em vários países, nota-se uma tendência
para o desenvolvimento de oligopólios na produção de sementes e outros produtos
necessários para o cultivo, e a dependência agrava-se quando se pensa na produção
de sementes estéreis que acabam por obrigar os agricultores a comprá-las às
empresas produtoras.
135. Sem dúvida, há necessidade duma
atenção constante, que tenha em consideração todos os aspectos éticos
implicados.
Para isso, é preciso assegurar um debate
científico e social que seja responsável e amplo, capaz de considerar toda a
informação disponível e chamar as coisas pelo seu nome.
Às vezes não se coloca sobre a mesa a
informação completa, mas é seleccionada de acordo com os próprios interesses,
sejam eles políticos, económicos ou ideológicos.
Isto torna difícil elaborar um juízo
equilibrado e prudente sobre as várias questões, tendo presente todas as
variáveis em jogo.
É necessário dispor de espaços de debate,
onde todos aqueles que poderiam de algum modo ver-se, directa ou
indirectamente, afectados (agricultores, consumidores, autoridades, cientistas,
produtores de sementes, populações vizinhas dos campos tratados e outros)
tenham possibilidade de expor as suas problemáticas ou ter acesso a uma
informação ampla e fidedigna para adoptar decisões tendentes ao bem comum
presente e futuro.
A questão das OMG é uma questão de
carácter complexo, que requer ser abordada com um olhar abrangente de todos os
aspectos; isto exigiria pelo menos um maior esforço para financiar distintas
linhas de pesquisa autónoma e interdisciplinar que possam trazer nova luz.
136. Além disso, é preocupante constatar
que alguns movimentos ecologistas defendem a integridade do meio ambiente e,
com razão, reclamam a imposição de determinados limites à pesquisa científica,
mas não aplicam estes mesmos princípios à vida humana.
Muitas vezes justifica-se que se
ultrapassem todos os limites, quando se faz experiências com embriões humanos
vivos.
Esquece-se que o valor inalienável do ser
humano é independente do seu grau de desenvolvimento.
Aliás, quando a técnica ignora os grandes
princípios éticos, acaba por considerar legítima qualquer prática.
Como vimos neste capítulo, a técnica
separada da ética dificilmente será capaz de auto-limitar o seu poder.
(cont)
[i] Catecismo da Igreja Católica, 2417.
[ii] Catecismo da Igreja Católica, 2418.
[iii] Catecismo da Igreja Católica, 2415.
[iv] Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990, 6: AAS 82
(1990), 150.
[v] Discurso à Pontifícia Academia das Ciências (3 de
Outubro de 1981), 3: Insegnamenti 4/2 (1981), 333; L’Osservatore Romano (ed.
portuguesa de 11/X/1981), 8.
[vi] Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990, 7: AAS 82
(1990), 151.
[vii] João Paulo II, Discurso à 35ª Assembleia Geral da
Associação Médica Mundial (29 de Outubro de 1983), 6: AAS 76 (1984), 394;
L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 13/XI/1983), 7.
[viii] Conferência Episcopal da Argentina – Comissão de
Pastoral Social, Una tierra para todos (Junho de 2005), 19.
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