Tempo Comum
Semana I
Santo Hilário Doutor da Igreja
Evangelho:
Mc 1, 29-39
29 Logo que saíram
da sinagoga, foram a casa de Simão e de André, com Tiago e João.30 A
sogra de Simão estava de cama com febre. Falaram-Lhe logo dela. 31
Jesus, aproximando-Se e tomando-a pela mão, levantou-a. Imediatamente a deixou
a febre, e ela pôs-se a servi-los. 32 Ao anoitecer, depois do
sol-posto, traziam-Lhe todos os enfermos e possessos, 33 e toda a
cidade se tinha juntado diante da porta. 34 Curou muitos que se
achavam atacados com várias doenças, expulsou muitos demónios, e não permitia
que os demónios dissessem quem Ele era. 35 Levantando-Se muito antes
de amanhecer, saiu e foi a um lugar solitário e lá fazia oração. 36
Simão e os seus companheiros foram procurá-l'O. 37 Tendo-O
encontrado, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». 38 Ele respondeu:
«Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de que Eu também lá
pregue, pois para isso é que Eu vim». 39 E andava pregando nas
sinagogas, por toda a Galileia, e expulsava os demónios.
Comentário:
Nenhuma doença
ou debilidade humana é desprezível para o Senhor.
Não Se ocupa
apenas dos grandes milagres e aparatosas demonstrações do Seu poder.
Se umas são
convenientes para confirmar na fé os Seus discípulos, outras demonstram a Sua
atenção e cuidado pelas necessidades mais comezinhas dos homens.
(ama, comentário sobre MC 1
29-39, Milão, 2015.01.14)
Leitura espiritual
CARTA
ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO
SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE
O CUIDADO DA CASA COMUM
CAPÍTULO V
ALGUMAS
LINHAS DE ORIENTAÇÃO E ACÇÃO
3.
Diálogo e transparência nos processos decisórios
182. A previsão do impacto ambiental dos
empreendimentos e projectos requer processos políticos transparentes e sujeitos
a diálogo, enquanto a corrupção, que esconde o verdadeiro impacto ambiental dum
projecto em troca de favores, frequentemente leva a acordos ambíguos que fogem
ao dever de informar e a um debate profundo.
183. Um estudo de impacto ambiental não
deveria ser posterior à elaboração dum projecto produtivo ou de qualquer
política, plano ou programa.
Há-de inserir-se desde o princípio e
elaborar-se de forma interdisciplinar, transparente e independente de qualquer
pressão económica ou política.
Deve aparecer unido à análise das condições
de trabalho e dos possíveis efeitos na saúde física e mental das pessoas, na
economia local, na segurança.
Assim os resultados económicos poder-se-ão
prever de forma mais realista, tendo em conta os cenários possíveis e,
eventualmente, antecipando a necessidade dum investimento maior para resolver
efeitos indesejáveis que possam ser corrigidos.
É sempre necessário alcançar consenso
entre os vários actores sociais, que podem trazer diferentes perspectivas,
soluções e alternativas.
Mas, no debate, devem ter um lugar
privilegiado os moradores locais, aqueles mesmos que se interrogam sobre o que
desejam para si e para os seus filhos e podem ter em consideração as
finalidades que transcendem o interesse económico imediato.
É preciso abandonar a ideia de
«intervenções» sobre o meio ambiente, para dar lugar a políticas pensadas e
debatidas por todas as partes interessadas.
A participação requer que todos sejam
adequadamente informados sobre os vários aspectos e os diferentes riscos e possibilidades,
e não se reduza à decisão inicial sobre um projecto, mas implique também acções
de controlo ou monitoramento constante. É necessário haver sinceridade e
verdade nas discussões científicas e políticas, sem se limitar a considerar o
que é permitido ou não pela legislação.
184. Quando surgem eventuais riscos para o
meio ambiente que afectam o bem comum presente e futuro, esta situação exige
«que as decisões sejam baseadas num confronto entre riscos e benefícios
previsíveis para cada opção alternativa possível».[i]
Isto vale sobretudo quando um projecto
pode causar um incremento na exploração dos recursos naturais, nas emissões ou
descargas, na produção de resíduos, ou então uma mudança significativa na paisagem,
no habitat de espécies protegidas ou num espaço público. Alguns projectos, não
apoiados por uma análise bem cuidada, podem afectar profundamente a qualidade
de vida dum lugar, devido a questões muito diferentes entre si, como, por
exemplo, uma poluição acústica não prevista, a redução do horizonte visual, a
perda de valores culturais, os efeitos do uso da energia nuclear.
A cultura consumista, que dá prioridade ao
curto prazo e aos interesses privados, pode favorecer análises demasiado
rápidas ou consentir a ocultação de informação.
185. Em qualquer discussão sobre um
empreendimento, dever-se-ia pôr uma série de perguntas, para poder discernir se
o mesmo levará a um desenvolvimento verdadeiramente integral:
Para que fim?
Por qual motivo?
Onde?
Quando?
De que maneira?
A quem ajuda?
Quais são os riscos?
A que preço?
Quem paga as despesas e como o fará?
Neste exame, há questões que devem ter
prioridade.
Por exemplo, sabemos que a água é um
recurso escasso e indispensável, sendo um direito fundamental que condiciona o
exercício doutros direitos humanos. Isto está, sem dúvida, acima de toda a
análise de impacto ambiental duma região.
186. Na Declaração do Rio, de 1992,
afirma-se que, «quando existem ameaças de danos graves ou irreversíveis, a
falta de certezas científicas absolutas não poderá constituir um motivo para
adiar a adopção de medidas eficazes»[ii]
que impeçam a degradação do meio ambiente.
Este princípio de precaução permite a
protecção dos mais fracos, que dispõem de poucos meios para se defender e
fornecer provas irrefutáveis.
Se a informação objectiva leva a prever um
dano grave e irreversível, mesmo que não haja uma comprovação indiscutível,
seja o projecto que for deverá suspender-se ou modificar-se.
Assim, inverte-se o ónus da prova, já que,
nestes casos, é preciso fornecer uma demonstração objectiva e contundente de
que a actividade proposta não vai gerar danos graves ao meio ambiente ou às
pessoas que nele habitam.
187. Isto não implica opor-se a toda e
qualquer inovação tecnológica que permita melhorar a qualidade de vida duma
população.
Mas, em todo o caso, deve permanecer de pé
que a rentabilidade não pode ser o único critério a ter em conta e, na hora em
que aparecessem novos elementos de juízo a partir de ulteriores dados informativos,
deveria haver uma nova avaliação com a participação de todas as partes
interessadas.
O resultado do debate pode ser a decisão
de não avançar num projecto, mas poderia ser também a sua modificação ou a
elaboração de propostas alternativas.
188. Há discussões sobre problemas
relativos ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso.
Repito uma vez mais que a Igreja não
pretende definir as questões científicas nem substituir-se à política, mas
convido a um debate honesto e transparente, para que as necessidades
particulares ou as ideologias não lesem o bem comum.
4.
Política e economia em diálogo para a plenitude humana
189. A política não deve submeter-se à
economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista
da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a
política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da
vida, especialmente da vida humana.
A salvação dos bancos a todo o custo,
fazendo pagar o preço à população, sem a firme decisão de rever e reformar o
sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que não tem futuro e
só poderá gerar novas crises depois duma longa, custosa e aparente cura.
A crise financeira dos anos 2007 e 2008
era a ocasião para o desenvolvimento duma nova economia mais atenta aos
princípios éticos e para uma nova regulamentação da actividade financeira
especulativa e da riqueza virtual.
Mas não houve uma reacção que fizesse
repensar os critérios obsoletos que continuam a governar o mundo.
A produção não é sempre racional, e muitas
vezes está ligada a variáveis económicas que atribuem aos produtos um valor que
não corresponde ao seu valor real.
Isto leva frequentemente a uma
superprodução dalgumas mercadorias, com um impacto ambiental desnecessário, que
simultaneamente danifica muitas economias regionais.[iii]
Habitualmente, a bolha financeira é também
uma bolha produtiva. Em suma, o que não se enfrenta com energia é o problema da
economia real, aquela que torna possível, por exemplo, que se diversifique e
melhore a produção, que as empresas funcionem adequadamente, que as pequenas e
médias empresas se desenvolvam e criem postos de trabalho.
190. Neste contexto, sempre se deve
recordar que «a protecção ambiental não pode ser assegurada somente com base no
cálculo financeiro de custos e benefícios.
O ambiente é um dos bens que os mecanismos
de mercado não estão aptos a defender ou a promover adequadamente».[iv]
Mais uma vez repito que convém evitar uma
concepção mágica do mercado, que tende a pensar que os problemas se resolvem
apenas com o crescimento dos lucros das empresas ou dos indivíduos.
Será realista esperar que quem está
obcecado com a maximização dos lucros se detenha a considerar os efeitos
ambientais que deixará às próximas gerações?
Dentro do esquema do ganho não há lugar
para pensar nos ritmos da natureza, nos seus tempos de degradação e
regeneração, e na complexidade dos ecossistemas que podem ser gravemente
alterados pela intervenção humana.
Além disso, quando se fala de biodiversidade,
no máximo pensa-se nela como um reservatório de recursos económicos que poderia
ser explorado, mas não se considera seriamente o valor real das coisas, o seu
significado para as pessoas e as culturas, os interesses e as necessidades dos
pobres.
191. Quando se colocam estas questões,
alguns reagem acusando os outros de pretender parar, irracionalmente, o
progresso e o desenvolvimento humano.
Mas temos de nos convencer que, reduzir um
determinado ritmo de produção e consumo, pode dar lugar a outra modalidade de
progresso e desenvolvimento.
Os esforços para um uso sustentável dos
recursos naturais não são gasto inútil, mas um investimento que poderá
proporcionar outros benefícios económicos a médio prazo.
Se não temos vista curta, podemos descobrir
que pode ser muito rentável a diversificação duma produção mais inovadora e com
menor impacto ambiental.
Trata-se de abrir caminho a oportunidades
diferentes, que não implicam frenar a criatividade humana nem o seu sonho de
progresso, mas orientar esta energia por novos canais.
192. Por exemplo, um percurso de
desenvolvimento produtivo mais criativo e melhor orientado poderia corrigir a
disparidade entre o excessivo investimento tecnológico no consumo e o escasso
investimento para resolver os problemas urgentes da humanidade; poderia gerar
formas inteligentes e rentáveis de reutilização, recuperação funcional e
reciclagem; poderia melhorar a eficiência energética das cidades...
A diversificação produtiva oferece à
inteligência humana possibilidades muito amplas de criar e inovar, ao mesmo
tempo que protege o meio ambiente e cria mais oportunidades de trabalho.
Esta seria uma criatividade capaz de fazer
reflorescer a nobreza do ser humano, porque é mais dignificante usar a
inteligência, com audácia e responsabilidade, para encontrar formas de
desenvolvimento sustentável e equitativo, no quadro duma concepção mais ampla
da qualidade de vida.
Ao contrário, é menos dignificante e
criativo e mais superficial insistir na criação de formas de espoliação da
natureza só para oferecer novas possibilidades de consumo e de ganho imediato.
(cont)
[i] Pontifício Conselho «Justiça e Paz», Compêndio da
Doutrina Social da Igreja, 469.
[ii] Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (14 de Junho de 1992), princípio 15.
[iii] Cf. Conferência Episcopal do México – Comissão de
Pastoral Social, Jesucristo, vida y esperanza de los indígenas y campesinos (14
de Janeiro de 2008).
[iv] Pontifício Conselho «Justiça e Paz»,Compêndio da
Doutrina Social da Igreja, 470.
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