Tempo Comum
Semana I
Evangelho:
Mc 1, 21-28
21 Depois foram a
Cafarnaum; e Jesus, tendo entrado no sábado na sinagoga, ensinava. 22
Os ouvintes ficavam admirados com a Sua doutrina, porque os ensinava como quem
tem autoridade e não como os escribas. 23 Na sinagoga estava um
homem possesso dum espírito imundo, que começou a gritar: 24 «Que
tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei Quem és, o
Santo de Deus». 25 Mas Jesus o ameaçou dizendo: «Cala-te, e sai
desse homem!». 26 Então o espírito imundo, agitando-o violentamente
e dando um grande grito, saiu dele. 27 Ficaram todos tão admirados,
que se interrogavam uns aos outros: «Que é isto? Que nova doutrina é esta? Ele
manda com autoridade até nos espíritos imundos, e eles obedecem-Lhe». 28
E divulgou-se logo a Sua fama por toda a região da Galileia.
Comentário:
A autoridade
que reconhecem a Jesus é baseada na doutrina segura, simples, bem fundamentada
que Ele expõe.
Quem ensina não pode proceder de outro modo: conhecer e praticar o que transmite aos outros sem o que o seu crédito não colherá.
(ama, comentário sobre MC 1
21-28, 2015.01.13)
Leitura espiritual
CARTA
ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO
SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE
O CUIDADO DA CASA COMUM
CAPÍTULO V
ALGUMAS
LINHAS DE ORIENTAÇÃO E ACÇÃO
170. Algumas das estratégias para a baixa
emissão de gases poluentes apostam na internacionalização dos custos
ambientais, com o perigo de impor aos países de menores recursos pesados
compromissos de redução de emissões comparáveis aos dos países mais industrializados.
A imposição destas medidas penaliza os
países mais necessitados de desenvolvimento.
Assim, acrescenta-se uma nova injustiça
sob a capa do cuidado do meio ambiente.
Como sempre, a corda quebra pelo ponto
mais fraco.
Uma vez que os efeitos das mudanças
climáticas se farão sentir durante muito tempo, mesmo que agora sejam tomadas
medidas rigorosas, alguns países com escassos recursos precisarão de ajuda para
se adaptar a efeitos que já estão a produzir-se e afectam as suas economias.
É verdade que há responsabilidades comuns,
mas diferenciadas, pelo simples motivo – como disseram os bispos da Bolívia –
que «os países que foram beneficiados por um alto grau de industrialização, à
custa duma enorme emissão de gases com efeito de estufa, têm maior
responsabilidade em contribuir para a solução dos problemas que causaram».[i]
171. A estratégia de compra-venda de
«créditos de emissão» pode levar a uma nova forma de especulação, que não
ajudaria a reduzir a emissão global de gases poluentes.
Este sistema parece ser uma solução rápida
e fácil, com a aparência dum certo compromisso com o meio ambiente, mas que não
implica de forma alguma uma mudança radical à altura das circunstâncias. Pelo
contrário, pode tornar-se um diversivo que permite sustentar o consumo
excessivo de alguns países e sectores.
172. Para os países pobres, as prioridades
devem ser a erradicação da miséria e o desenvolvimento social dos seus
habitantes; ao mesmo tempo devem examinar o nível escandaloso de consumo de
alguns sectores privilegiados da sua população e contrastar melhor a corrupção.
Sem dúvida, devem também desenvolver
formas menos poluentes de produção de energia, mas para isso precisam de contar
com a ajuda dos países que cresceram muito à custa da actual poluição do planeta.
O aproveitamento directo da energia solar,
tão abundante, exige que se estabeleçam mecanismos e subsídios tais, que os
países em vias de desenvolvimento possam ter acesso à transferência de tecnologias,
assistência técnica e recursos financeiros, mas sempre prestando atenção às
condições concretas, pois «nem sempre se avalia adequadamente a compatibilidade
dos sistemas com o contexto para o qual são projectados».[ii]
Os custos seriam baixos se comparados com
os riscos das mudanças climáticas.
Em todo o caso, trata-se primariamente
duma decisão ética, fundada na solidariedade de todos os povos.
173. Urgem acordos internacionais que se
cumpram, dada a escassa capacidade das instâncias locais para intervirem de
maneira eficaz. As relações entre os Estados devem salvaguardar a soberania de
cada um, mas também estabelecer caminhos consensuais para evitar catástrofes
locais que acabariam por danificar a todos.
São necessários padrões reguladores
globais que imponham obrigações e impeçam acções inaceitáveis, como o facto de
empresas ou países poderosos descarregarem, sobre outros países, resíduos e
indústrias altamente poluentes.
174. Mencionemos também o sistema de
governar os oceanos. Com efeito, embora tenha havido várias convenções internacionais
e regionais, a fragmentação e a falta de severos mecanismos de regulamentação,
controle e sanção acabam por minar todos os esforços. O problema crescente dos
resíduos marinhos e da protecção das áreas marinhas para além das fronteiras
nacionais continua a representar um desafio especial.
Em definitivo, precisamos de um acordo
sobre os regimes de governança para toda a gama dos chamados bens comuns
globais.
175. A lógica que dificulta a tomada de
decisões drásticas para inverter a tendência ao aquecimento global é a mesma
que não permite cumprir o objectivo de erradicar a pobreza.
Precisamos duma reacção global mais
responsável, que implique enfrentar, contemporaneamente, a redução da poluição
e o desenvolvimento dos países e regiões pobres.
O século XXI, mantendo um sistema de
governança próprio de épocas passadas, assiste a uma perda de poder dos Estados
nacionais, sobretudo porque a dimensão económico-financeira, de carácter
transnacional, tende a prevalecer sobre a política.
Neste contexto, torna-se indispensável a
maturação de instituições internacionais mais fortes e eficazmente organizadas,
com autoridades designadas de maneira imparcial por meio de acordos entre os
governos nacionais e dotadas de poder de sancionar.
Com afirmou Bento XVI, na linha
desenvolvida até agora pela doutrina social da Igreja, «para o governo da
economia mundial, para sanar as economias atingidas pela crise de modo a
prevenir o agravamento da mesma e consequentes maiores desequilíbrios, para realizar
um oportuno e integral desarmamento, a segurança alimentar e a paz, para
garantir a salvaguarda do ambiente e para regulamentar os fluxos migratórios
urge a presença de uma verdadeira Autoridade política mundial, delineada já
pelo meu predecessor, São João XXIII».[iii]
Nesta perspectiva, a diplomacia adquire
uma importância inédita, chamada a promover estratégias internacionais para
prevenir os problemas mais graves que acabam por afectar a todos.
2.
O diálogo para novas políticas nacionais e locais
176. Há vencedores e vencidos não só entre
os países, mas também dentro dos países pobres, onde se devem identificar as
diferentes responsabilidades.
Por isso, as questões relacionadas com o
meio ambiente e com o desenvolvimento económico já não se podem olhar apenas a
partir das diferenças entre os países, mas exigem que se preste atenção às
políticas nacionais e locais.
177. Perante a possibilidade duma
utilização irresponsável das capacidades humanas, são funções inadiáveis de
cada Estado planificar, coordenar, vigiar e sancionar dentro do respectivo
território.
Como pode a sociedade organizar e
salvaguardar o seu futuro num contexto de constantes inovações tecnológicas?
Um factor que actua como moderador
efectivo é o direito, que estabelece as regras para as condutas permitidas à
luz do bem comum. Os limites que uma sociedade sã, madura e soberana deve impor
têm a ver com previsão e precaução, regulamentações adequadas, vigilância sobre
a aplicação das normas, contraste da corrupção, acções de controlo operacional
sobre o aparecimento de efeitos não desejados dos processos de produção, e
oportuna intervenção perante riscos incertos ou potenciais.
Existe uma crescente jurisprudência que
visa reduzir os efeitos poluentes dos empreendimentos.
Mas a estrutura política e institucional
não existe apenas para evitar malversações, mas para incentivar as boas
práticas, estimular a criatividade que busca novos caminhos, facilitar as
iniciativas pessoais e colectivas.
178. O drama duma política focalizada nos
resultados imediatos, apoiada também por populações consumistas, torna
necessário produzir crescimento a curto prazo.
Respondendo a interesses eleitorais, os
governos não se aventuram facilmente a irritar a população com medidas que
possam afectar o nível de consumo ou pôr em risco investimentos estrangeiros.
A construção míope do poder frena a
inserção duma agenda ambiental com visão ampla na agenda pública dos governos.
Esquece-se, assim, que «o tempo é superior
ao espaço»[iv]
e que sempre somos mais fecundos quando temos maior preocupação por gerar
processos do que por dominar espaços de poder.
A grandeza política mostra-se quando, em
momentos difíceis, se trabalha com base em grandes princípios e pensando no bem
comum a longo prazo.
O poder político tem muita dificuldade em
assumir este dever num projecto de nação.
179. Nalguns lugares, estão a
desenvolver-se cooperativas para a exploração de energias renováveis, que
consentem o auto-abastecimento local e até mesmo a venda da produção em
excesso. Este exemplo simples indica que, enquanto a ordem mundial existente se
revela impotente para assumir responsabilidades, a instância local pode fazer a
diferença.
Com efeito, aqui é possível gerar uma
maior responsabilidade, um forte sentido de comunidade, uma especial capacidade
de solicitude e uma criatividade mais generosa, um amor apaixonado pela própria
terra, tal como se pensa naquilo que se deixa aos filhos e netos. Estes valores
têm um enraizamento muito profundo nas populações aborígenes.
Dado que o direito por vezes se mostra
insuficiente devido à corrupção, requer-se uma decisão política sob pressão da
população. A sociedade, através de organismos não-governamentais e associações
intermédias, deve forçar os governos a desenvolver normativas, procedimentos e
controles mais rigorosos.
Se os cidadãos não controlam o poder
político – nacional, regional e municipal –, também não é possível combater os
danos ambientais. Além disso, as legislações municipais podem ser mais
eficazes, se houver acordos entre populações vizinhas para sustentarem as mesmas
políticas ambientais.
180. Não se pode pensar em receitas
uniformes, porque há problemas e limites específicos de cada país ou região.
Também é verdade que o realismo político
pode exigir medidas e tecnologias de transição, desde que estejam acompanhadas
pelo projecto e a aceitação de compromissos graduais vinculativos.
Ao mesmo tempo, porém, a nível nacional e
local, há sempre muito que fazer, como, por exemplo, promover formas de
poupança energética.
Isto implica favorecer modalidades de
produção industrial com a máxima eficiência energética e menor utilização de
matérias-primas, retirando do mercado os produtos pouco eficazes do ponto de
vista energético ou mais poluentes.
Podemos mencionar também uma boa gestão
dos transportes ou técnicas de construção e restruturação de edifícios que
reduzam o seu consumo energético e o seu nível de poluição.
Além disso, a acção política local pode
orientar-se para a alteração do consumo, o desenvolvimento duma economia de
resíduos e reciclagem, a protecção de determinadas espécies e a programação
duma agricultura diversificada com a rotação de culturas.
É possível favorecer a melhoria agrícola
de regiões pobres, através de investimentos em infra-estruturas rurais, na
organização do mercado local ou nacional, em sistemas de irrigação, no
desenvolvimento de técnicas agrícolas sustentáveis.
Podem facilitar-se formas de cooperação ou
de organização comunitária que defendam os interesses dos pequenos produtores e
salvaguardem da predação os ecossistemas locais.
É tanto o que se pode fazer!
181. Indispensável é a continuidade,
porque não se podem modificar as políticas relativas às alterações climáticas e
à protecção ambiental todas as vezes que muda um governo.
Os resultados requerem muito tempo e
comportam custos imediatos com efeitos que não poderão ser exibidos no período
de vida dum governo.
Por isso, sem a pressão da população e das
instituições, haverá sempre relutância a intervir, e mais ainda quando houver
urgências a resolver.
Para um político, assumir estas
responsabilidades com os custos que implicam não corresponde à lógica
eficientista e imediatista actual da economia e da política, mas, se ele tiver
a coragem de o fazer, poderá novamente reconhecer a dignidade que Deus lhe deu
como pessoa e deixará, depois da sua passagem por esta história, um testemunho
de generosa responsabilidade.
Importa dar um lugar preponderante a uma
política salutar, capaz de reformar as instituições, coordená-las e dotá-las de
bons procedimentos, que permitam superar pressões e inércias viciosas.
Todavia é preciso acrescentar que os
melhores dispositivos acabam por sucumbir, quando faltam as grandes metas, os
valores, uma compreensão humanista e rica de significado, capazes de conferir a
cada sociedade uma orientação nobre e generosa.
(cont)
[i] Conferência Episcopal da Bolívia, Carta pastoral El
universo, don de Dios para la vida (2012), 86.
[ii] Pontifício Conselho «Justiça e Paz», Doc. Energia,
Giustizia e Pace (Cidade do Vaticano 2013), 56.
[iii]
Carta enc. Caritas in veritate (29 de
Junho de 2009), 67: AAS 101 (2009), 700.
[iv] Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium (24 de
Novembro de 2013), 222: AAS 105 (2013), 1111.
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