Tempo de Natal
Baptismo do Senhor
Evangelho:
Lc 3, 15-16. 21-22
15 Estando o povo na expectativa e
pensando todos nos seus corações que talvez João fosse o Cristo, 16
João respondeu, dizendo a todos: «Eu, na verdade, baptizo-vos em água, mas virá
um mais forte do que eu, a Quem não sou digno de desatar as correias das
sandálias; Ele vos baptizará no Espírito Santo e no fogo;
21 Ora aconteceu que, recebendo o
baptismo todo o povo, foi baptizado também Jesus, e estando em oração, abriu-se
o céu 22 e desceu sobre Ele o Espírito Santo em forma corpórea como
uma pomba. E ouviu-se do céu esta voz: «Tu és o Meu Filho muito amado; em Ti
pus as Minhas complacências».
Comentário:
O
Baptismo é o Sacramento da iniciação cristã.
Abre
a porta para o Reino de Deus e transforma-nos de simples criaturas em Filhos de
Deus.
Torna-se
assim clara a obrigação grave dos responsáveis pela criança de a baptizar o
mais cedo possível para não correr o risco de perder tão grande bem.
(ama, comentário sobre Lc 3, 15-16.21-22, 2013.01.13)
Leitura espiritual
CARTA
ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO
SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE
O CUIDADO DA CASA COMUM
CAPÍTULO IV
UMA
ECOLOGIA INTEGRAL
4.
O princípio do bem comum
156. A ecologia integral é inseparável da
noção de bem comum, princípio este que desempenha um papel central e unificador
na ética social.
É «o conjunto das condições da vida social
que permitem, tanto aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente
a própria perfeição».[i]
157. O bem comum pressupõe o respeito pela
pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados
para o seu desenvolvimento integral.
Exige também os dispositivos de bem-estar
e segurança social e o desenvolvimento dos vários grupos intermédios, aplicando
o princípio da subsidiariedade.
Entre tais grupos, destaca-se de forma
especial a família enquanto célula basilar da sociedade.
Por fim, o bem comum requer a paz social,
isto é, a estabilidade e a segurança de uma certa ordem, que não se realiza sem
uma atenção particular à justiça distributiva, cuja violação gera sempre
violência. Toda a sociedade – e, nela, especialmente o Estado – tem obrigação
de defender e promover o bem comum.
158. Nas condições actuais da sociedade
mundial, onde há tantas desigualdades e são cada vez mais numerosas as pessoas
descartadas, privadas dos direitos humanos fundamentais, o princípio do bem
comum torna-se imediatamente, como consequência lógica e inevitável, um apelo à
solidariedade e uma opção preferencial pelos mais pobres.
Esta opção implica tirar as consequências
do destino comum dos bens da terra, mas – como procurei mostrar na exortação
apostólica Evangelii gaudium [ii]
– exige acima de tudo contemplar a imensa dignidade do pobre à luz das mais
profundas convicções de fé. Basta observar a realidade para compreender que,
hoje, esta opção é uma exigência ética fundamental para a efectiva realização
do bem comum.
5.
A justiça inter-generacional
159. A noção de bem comum engloba também
as gerações futuras. As crises económicas internacionais mostraram, de forma
atroz, os efeitos nocivos que traz consigo o desconhecimento de um destino
comum, do qual não podem ser excluídos aqueles que virão depois de nós. Já não
se pode falar de desenvolvimento sustentável sem uma solidariedade inter-generacional.
Quando pensamos na situação em que se
deixa o planeta às gerações futuras, entramos noutra lógica: a do dom gratuito,
que recebemos e comunicamos.
Se a terra nos é dada, não podemos pensar
apenas a partir dum critério utilitarista de eficiência e produtividade para
lucro individual. Não estamos a falar duma atitude opcional, mas duma questão
essencial de justiça, pois a terra que recebemos pertence também àqueles que
hão-de vir.
Os bispos de Portugal exortaram a assumir
este dever de justiça:
«O ambiente situa-se na lógica da
recepção. É um empréstimo que cada geração recebe e deve transmitir à geração
seguinte».[iii]
Uma ecologia integral possui esta
perspectiva ampla.
160. Que tipo de mundo queremos deixar a
quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?
Esta pergunta não toca apenas o meio
ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma
fragmentária.
Quando nos interrogamos acerca do mundo
que queremos deixar, referimo-nos sobretudo à sua orientação geral, ao seu
sentido, aos seus valores.
Se não pulsa nelas esta pergunta de fundo,
não creio que as nossas preocupações ecológicas possam alcançar efeitos
importantes.
Mas, se esta pergunta é posta com coragem,
leva-nos inexoravelmente a outras questões muito directas:
Com que finalidade passamos por este
mundo?
Para que viemos a esta vida?
Para que trabalhamos e lutamos?
Que necessidade tem de nós esta terra?
Por isso, já não basta dizer que devemos
preocupar-nos com as gerações futuras; exige-se ter consciência de que é a
nossa própria dignidade que está em jogo.
Somos nós os primeiros interessados em
deixar um planeta habitável para a humanidade que nos vai suceder.
Trata-se de um drama para nós mesmos,
porque isto chama em causa o significado da nossa passagem por esta terra.
161. As previsões catastróficas já não se
podem olhar com desprezo e ironia.
Às próximas gerações, poderíamos deixar
demasiadas ruínas, desertos e lixo.
O ritmo de consumo, desperdício e
alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta,
que o estilo de vida actual – por ser insustentável – só pode desembocar em
catástrofes, como aliás já está a acontecer periodicamente em várias regiões.
A atenuação dos efeitos do desequilíbrio
actual depende do que fizermos agora, sobretudo se pensarmos na
responsabilidade que nos atribuirão aqueles que deverão suportar as piores
consequências.
162. A dificuldade em levar a sério este
desafio tem a ver com uma deterioração ética e cultural, que acompanha a
deterioração ecológica.
O homem e a mulher deste mundo pós-moderno
correm o risco permanente de se tornar profundamente individualistas, e muitos
problemas sociais de hoje estão relacionados com a busca egoísta duma
satisfação imediata, com as crises dos laços familiares e sociais, com as
dificuldades em reconhecer o outro.
Muitas vezes há um consumo excessivo e
míope dos pais que prejudica os próprios filhos, que sentem cada vez mais
dificuldade em comprar casa própria e fundar uma família.
Além disso esta falta de capacidade para
pensar seriamente nas futuras gerações está ligada com a nossa incapacidade de
alargar o horizonte das nossas preocupações e pensar naqueles que permanecem
excluídos do desenvolvimento.
Não percamos tempo a imaginar os pobres do
futuro, é suficiente que recordemos os pobres de hoje, que poucos anos têm para
viver nesta terra e não podem continuar a esperar.
Por isso, «para além de uma leal
solidariedade entre as gerações, há que reafirmar a urgente necessidade moral
de uma renovada solidariedade entre os indivíduos da mesma geração».[iv]
(cont)
[i] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no
mundo contemporâneo Gaudium et spes, 26.
[ii] Cf. nn. 186-201:AAS 105 (2013), 1098-1105.
[iii] Conferência Episcopal Portuguesa, Carta pastoral
Responsabilidade solidária pelo bem comum (15 de Setembro de 2003), 20.
[iv] Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2010,
8: AAS 102 (2010), 45.
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