Pergunta a um oftalmologista!
Não!
Pergunta a um filho!
Se lembro bem os olhos do meu Pai eram
transparentes, quero dizer, lia-se neles como num livro aberto.
Percebia perfeitamente quando estava
contente comigo ou, se o que eu fizera ou tinha dito, não eram do seu agrado.
Não usava lentes que aumentassem ou diminuíssem
o seu afecto por mim, eram sempre o mesmo… quer dizer… comprazido ou algo
decepcionado.
Os olhos do meu Pai eram, por assim
dizer, o meu espelho onde podia ver com meridiana clareza “como andava a minha
vida”.
Lembro-me que – deveria ter os meus
catorze anos - 1954 - que é uma idade importante num rapaz – ter chegado a casa por
altura das férias de Natal e de lhe ter oferecido com grande orgulho e
satisfação pessoais, a minha “caderneta” com as “notas” do período escolar.
Eram óptimas notas, a média de dezoito
valores atribuíra-me o terceiro lugar na minha classe.
Mas quando vi os olhos do meu Pai tive
uma surpresa enorme: não mostravam nenhuma satisfação especial, talvez até, houvesse
neles algum laivo de decepção.
Fiquei, penso eu com toda a justiça,
alterado, e perguntei:
‘Mas… Pai… média de dezoito… o
terceiro da aula!!!’
A resposta foi “demolidora”:
‘Bom… está bem! Mas houve pelo menos dois
colegas teus que tiveram médias de dezanove e vinte, um terá ficado em segundo
lugar e o outro terá sido o primeiro da classe!’
Fiquei sem palavras, sem explicação
nenhuma que pudesse aduzir: o que o meu Pai acabara de dizer era absolutamente
verdade!
Olhei os seus olhos de novo e então vi
neles uma centelha de incentivo, de desafio.
A verdade é que, no período seguinte,
pela Páscoa pude entregar-lhe a “caderneta” com média de vinte e classificação
de primeiro da classe.
Os seus olhos então, disseram-me
claramente:
‘Vês como eu tinha razão e tu podias…’
Os olhos de um Pai vêm muito…
muitíssimo mais longe que os olhos de um filho!
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