Tempo de Natal
Evangelho:
LC 2, 36-40
36 Havia também uma profetisa, chamada
Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada. Tinha
vivido sete anos com o seu marido, após o seu tempo de donzela,37 e
tinha permanecido viúva até aos oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo,
servindo a Deus noite e dia com jejuns e orações. 38 Ela também,
vindo nesta mesma ocasião, louvava a Deus e falava de Jesus a todos os de
Jerusalém que esperavam a redenção.39 Depois que cumpriram tudo, segundo
o que mandava a Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de
Nazaré. 40 O Menino crescia e fortificava-Se, cheio de sabedoria, e
a graça de Deus estava com Ele.
Comentário:
Há uma evidente preocupação no Evangelista de registar com pormenor os
acontecimentos sucedidos nos primeiros dias de vida do Senhor.
Para que não restem dúvidas referem-se os nomes e juntam-se elementos
identificativos dos personagens envolvidos nesses acontecimentos.
Jesus existiu de facto não é uma invenção nem um mito mas alguém real e
concreto.
(ama, comentário sobre LC 2
36-40, 2014.12.30)
Leitura espiritual
CARTA
ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO
SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE
O CUIDADO DA CASA COMUM
CAPÍTULO I
O
QUE ESTÁ A ACONTECER À NOSSA CASA
1.
Poluição e mudanças climáticas
40. Os oceanos contêm não só a maior parte
da água do planeta, mas também a maior parte da vasta variedade dos seres
vivos, muitos deles ainda desconhecidos para nós e ameaçados por diversas
causas.
Além disso, a vida nos rios, lagos, mares
e oceanos, que nutre grande parte da população mundial, é afectada pela
extracção descontrolada dos recursos ictíicos, que provoca drásticas
diminuições dalgumas espécies.
E no entanto continuam a desenvolver-se
modalidades selectivas de pesca, que descartam grande parte das espécies
apanhadas. Particularmente ameaçados estão organismos marinhos que não temos em
consideração, como certas formas de plâncton que constituem um componente muito
importante da cadeia alimentar marinha e de que dependem, em última instância,
espécies que se utilizam para a alimentação humana.
41. Passando aos mares tropicais e
subtropicais, encontramos os recifes de coral, que equivalem às grandes florestas
da terra firme, porque abrigam cerca de um milhão de espécies, incluindo
peixes, caranguejos, moluscos, esponjas, algas e outras.
Hoje, muitos dos recifes de coral no mundo
já são estéreis ou encontram-se num estado contínuo de declínio:
«Quem transformou o maravilhoso mundo
marinho em cemitérios subaquáticos despojados de vida e de cor?»[i]
Este fenómeno deve-se, em grande parte, à
poluição que chega ao mar resultante do desflorestamento, das monoculturas
agrícolas, das descargas industriais e de métodos de pesca destrutivos, nomeadamente
os que utilizam cianeto e dinamite.
É agravado pelo aumento da temperatura dos
oceanos. Tudo isso nos ajuda a compreender como qualquer acção sobre a natureza
pode ter consequências que não advertimos à primeira vista e como certas formas
de exploração de recursos se obtêm à custa duma degradação que acaba por chegar
até ao fundo dos oceanos.
42. É preciso investir muito mais na
pesquisa para se entender melhor o comportamento dos ecossistemas e analisar
adequadamente as diferentes variáveis de impacto de qualquer modificação importante
do meio ambiente.
Visto que todas as criaturas estão
interligadas, deve ser reconhecido com carinho e admiração o valor de cada uma,
e todos nós, seres criados, precisamos uns dos outros.
Cada território detém uma parte de
responsabilidade no cuidado desta família, pelo que deve fazer um inventário
cuidadoso das espécies que alberga a fim de desenvolver programas e estratégias
de protecção, cuidando com particular solicitude das espécies em vias de
extinção.
4. Deterioração da qualidade de vida humana
e degradação social
43. Tendo em conta que o ser humano também
é uma criatura deste mundo, que tem direito a viver e ser feliz e, além disso,
possui uma dignidade especial, não podemos deixar de considerar os efeitos da
degradação ambiental, do modelo actual de desenvolvimento e da cultura do
descarte sobre a vida das pessoas.
44. Nota-se hoje, por exemplo, o
crescimento desmedido e descontrolado de muitas cidades que se tornaram pouco
saudáveis para viver, devido não só à poluição proveniente de emissões tóxicas
mas também ao caos urbano, aos problemas de transporte e à poluição visiva e
acústica.
Muitas cidades são grandes estruturas que
não funcionam, gastando energia e água em excesso.
Há bairros que, embora construídos
recentemente, apresentam-se congestionados e desordenados, sem espaços verdes
suficientes.
Não é conveniente para os habitantes deste
planeta viver cada vez mais submersos de cimento, asfalto, vidro e metais,
privados do contacto físico com a natureza.
45. Nalguns lugares, rurais e urbanos, a
privatização dos espaços tornou difícil o acesso dos cidadãos a áreas de
especial beleza; noutros, criaram-se áreas residenciais «ecológicas» postas à
disposição só de poucos, procurando-se evitar que outros entrem a perturbar uma
tranquilidade artificial.
Muitas vezes encontra-se uma cidade bela e
cheia de espaços verdes e bem cuidados nalgumas áreas «seguras», mas não em
áreas menos visíveis, onde vivem os descartados da sociedade.
46. Entre os componentes sociais da
mudança global, incluem-se os efeitos laborais dalgumas inovações tecnológicas,
a exclusão social, a desigualdade no fornecimento e consumo da energia e
doutros serviços, a fragmentação social, o aumento da violência e o
aparecimento de novas formas de agressividade social, o narcotráfico e o
consumo crescente de drogas entre os mais jovens, a perda de identidade.
São alguns sinais, entre outros, que
mostram como o crescimento nos últimos dois séculos não significou, em todos os
seus aspectos, um verdadeiro progresso integral e uma melhoria da qualidade de
vida.
Alguns destes sinais são ao mesmo tempo
sintomas duma verdadeira degradação social, duma silenciosa ruptura dos
vínculos de integração e comunhão social.
47. A isto vêm juntar-se as dinâmicas dos
mass-media e do mundo digital, que, quando se tornam omnipresentes, não
favorecem o desenvolvimento duma capacidade de viver com sabedoria, pensar em
profundidade, amar com generosidade.
Neste contexto, os grandes sábios do
passado correriam o risco de ver sufocada a sua sabedoria no meio do ruído
dispersivo da informação.
Isto exige de nós um esforço para que
esses meios se traduzam num novo desenvolvimento cultural da humanidade, e não
numa deterioração da sua riqueza mais profunda.
A verdadeira sabedoria, fruto da reflexão,
do diálogo e do encontro generoso entre as pessoas, não se adquire com uma mera
acumulação de dados, que, numa espécie de poluição mental, acabam por saturar e
confundir.
Ao mesmo tempo tendem a substituir as
relações reais com os outros, com todos os desafios que implicam, por um tipo
de comunicação mediada pela internet.
Isto permite seleccionar ou eliminar a
nosso arbítrio as relações e, deste modo, frequentemente gera-se um novo tipo
de emoções artificiais, que têm a ver mais com dispositivos e monitores do que
com as pessoas e a natureza.
Os meios actuais permitem-nos comunicar e
partilhar conhecimentos e afectos.
Mas, às vezes, também nos impedem de tomar
contacto directo com a angústia, a trepidação, a alegria do outro e com a complexidade
da sua experiência pessoal.
Por isso, não deveria surpreender-nos o
facto de, a par da oferta sufocante destes produtos, ir crescendo uma profunda
e melancólica insatisfação nas relações interpessoais ou um nocivo isolamento.
5. Desigualdade planetária
48. O ambiente humano e o ambiente natural
degradam-se em conjunto; e não podemos enfrentar adequadamente a degradação
ambiental, se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação
humana e social.
De facto, a deterioração do meio ambiente
e a da sociedade afectam de modo especial os mais frágeis do planeta:
«Tanto a experiência comum da vida
quotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves
de todas as agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres».[ii]
Por exemplo, o esgotamento das reservas
ictíicas prejudica especialmente as pessoas que vivem da pesca artesanal e não
possuem qualquer maneira de a substituir, a poluição da água afecta particularmente
os mais pobres que não têm possibilidades de comprar água engarrafada, e a
elevação do nível do mar afecta principalmente as populações costeiras mais
pobres que não têm para onde se transferir.
O impacto dos desequilíbrios actuais
manifesta-se também na morte prematura de muitos pobres, nos conflitos gerados
pela falta de recursos e em muitos outros problemas que não têm espaço suficiente
nas agendas mundiais.[iii]
49. Gostaria de assinalar que muitas vezes
falta uma consciência clara dos problemas que afectam particularmente os
excluídos. Estes são a maioria do planeta, milhares de milhões de pessoas. Hoje
são mencionados nos debates políticos e económicos internacionais, mas com
frequência parece que os seus problemas se coloquem como um apêndice, como uma
questão que se acrescenta quase por obrigação ou perifericamente, quando não
são considerados meros danos colaterais.
Com efeito, na hora da implementação
concreta, permanecem frequentemente no último lugar.
Isto deve-se, em parte, ao facto de que
muitos profissionais, formadores de opinião, meios de comunicação e centros de
poder estão localizados longe deles, em áreas urbanas isoladas, sem ter
contacto directo com os seus problemas.
Vivem e reflectem a partir da comodidade
dum desenvolvimento e duma qualidade de vida que não está ao alcance da maioria
da população mundial.
Esta falta de contacto físico e de
encontro, às vezes favorecida pela fragmentação das nossas cidades, ajuda a
cauterizar a consciência e a ignorar parte da realidade em análises tendenciosas.
Isto, às vezes, coexiste com um discurso
«verde».
Mas, hoje, não podemos deixar de
reconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem
social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para
ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres.
(cont)
[i]
Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas, Carta
pastoral What is Happening to our Beautiful Land? (29 de Janeiro de 1988).
[ii]
Conferência Episcopal da Bolívia, Carta pastoral El
universo, don de Dios para la vida (2012), 17.
[iii]
Cf. Conferência Episcopal Alemã – Comissão para a
pastoral social, Der Klimawandel: Brennpunkt globaler, intergenerationeller und
ökologischer Gerechtigkeit (Setembro de 2006), 28-30.
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