Art.
2 — Se foi imposto a Cristo o nome conveniente.
O segundo discute-se assim. — Parece que não
foi imposto a Cristo o nome conveniente.
1. — Pois, a verdade evangélica deve ser
a realização do que foi profetizado. Ora, os profetas prenunciaram outro nome,
de Cristo. Assim, Isaías diz: Eis que uma
virgem conceberá e parirá um filho e será chamado o seu nome Emanuel. E
noutro lugar: Põe-lhe por nome —
Apressa-te a tirar os despojos, faze velozmente a presa. Ainda noutro: O nome com que se apelide será — Admirável,
Conselheiro. Deus, Forte, Pai do futuro século, Príncipe da Paz. E Zacarias
diz: Eis aqui o homem que tem por nome o
Oriente. Logo. Cristo foi inconvenientemente chamado Jesus.
2. Demais. — A Escritura diz: Chamar-te-ão por um nome novo, que o Senhor
nomeará pela sua boca. Ora, o nome de Jesus não é um nome novo, mas foi
imposto a muitos na vigência do Velho Testamento, como se vê também na
genealogia de Cristo. Logo, parece que lhe foi inconvenientemente posto o nome
de Jesus.
3. Demais. — O nome de Jesus significa
salvação, como se lê no Evangelho: Ela
parirá um filho e lhe chamarás por nome Jesus, por que ele salvará o seu povo
dos pecados deles. Ora, a salvação por Cristo não se realizou só na
circuncisão, mas também no prepúcio, como está claro no Apóstolo. Logo, foi-lhe
imposto a Cristo, na sua circuncisão, um nome impróprio.
Mas, em contrário, a autoridade da
Escritura, que diz: Depois que foram
cumpridos os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de
Jesus.
Os nomes devem corresponder
às propriedades das causas. Assim o demonstram os nomes dos géneros e das
espécies; pois, como ensina Aristóteles, a
essência significada pelo nome é a definição que designa a natureza própria do
ser. Ora, a cada pessoa impomos o seu nome fundado em alguma propriedade
dela. Quer em virtude do tempo, como quando se dá a alguém o nome do santo do
dia em que nasceu. Ou em virtude do parentesco, como quando se impõe ao filho o
nome do pai ou de algum parente; assim, os parentes de João Baptista queriam
dar-lhe o nome do pai, Zacarias, e não o de João, porque não havia ninguém na
sua geração que tivesse esse nome. Ou ainda em virtude de um acontecimento; assim,
José chamou ao seu primogénito Manassés, dizendo: Deus me fez esquecer de todos os meus trabalhos. Ou também por
causa de alguma qualidade daquele a quem se impõe o nome; assim, como se lê na
Escritura, o que saiu primeiro do ventre
materno era vermelho e todo áspero a modo de uma pele; e foi-lhe imposto o nome
de Esaú, - que significa vermelho. — Quanto aos nomes impostos por
inspiração divina, sempre significam algum dom gratuito dado por Deus; assim,
foi dito a Abraão: Chamar-te-ás Abraão,
porque eu te tenho destinado para pai de muitas gentes. E o Evangelho diz,
de Pedro: Tu és Pedra e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja. — Ora, como a Cristo foi conferido o dom da
graça pelo qual foi constituído o Salvador de todos, foi convenientemente
chamado Jesus, isto é, Salvador; tendo o anjo anunciado esse nome, não só à
mãe, mas também a José, que havia de ser o seu pai putativo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Todos esses referidos nomes significam de certo modo o nome de Jesus, que implica
a ideia de salvação. Assim, o nome de Emanuel, que significa — Deus connosco,
designa a causa da salvação, que é a união da natureza divina com a humana na
pessoa do Filho de Deus, em virtude da qual Deus esteve connosco. — Quanto ao
lugar da Escritura — Põe-lhe por nome,
apressa-te a tirar os despojos, etc., designa de que nos salvou, a saber,
do diabo, cujos despojos arrebatou, segundo o Apóstolo: Despojando os principados e potestades, os trouxe confiadamente.
Quanto à outra — O nome com que se apelide
será admirável, etc., designa a via e o termo da nossa salvação, pois é
pela admirável sabedoria de Deus e pela sua força que alcançaremos a herança do
século futuro, em que gozaremos da paz perfeita dos filhos de Deus, sob a
chefia do próprio Deus. — Quanto enfim ao dito — Eis aqui o homem que tem por nome o Oriente — refere-se ao mesmo
que a primeira denominação - isto é ao mistério da Encarnação, pois, como diz a
Escritura, nas trevas nasceu a luz dos rectos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Aos que viveram
antes de Cristo podia convir-lhes o nome de Jesus por alguma outra razão; por
exemplo, por terem sido causa de alguma salvação particular e temporal. Mas,
por causa da salvação espiritual e universal, esse nome é próprio a Cristo. Por
isso é que se diz ser um nome novo.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como se lê na
Escritura, Abraão recebeu simultaneamente
de Deus a imposição do nome e a ordem da circuncisão. Por isso era costume
entre os Judeus impor um nome à criança no dia mesmo da circuncisão, como por
não ter ainda o seu ser perfeito, antes de circuncisa; assim como agora impomos
à criança o nome no baptismo. Donde, a Escritura — Eu também fui filho de meu pai, tenrinho e unigénito de minha mãe.
— diz a Glosa: Porque se chama Salomão
unigénito diante de sua mãe, quando a Escritura nos informa que foi precedido
de um irmão uterino, senão porque este, morto logo depois de nascido e sem
nome, era como se nunca tivesse existido? Por isso Cristo, simultaneamente
com a circuncisão, recebeu a imposição do nome.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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