Art.
5 — Se a natividade de Cristo devia manifestar-se pelos anjos e pela estrela.
O quinto discute-se assim. — Parece
que a natividade de Cristo não devia manifestar-se pelos anjos nem pela
estrela
1. — Pois, os anjos são substâncias
espirituais, segundo a Escritura: Que faz
os seus anjos espíritos. Ora, a natividade de Cristo era segundo a carne, e
não segundo a sua substância espiritual. Logo, não devia ser manifestada pelos
anjos.
2. Demais. — Maior é a afinidade dos
justos com os anjos do que com quaisquer outros, segundo a Escritura: O anjo do Senhor andará à roda dos que o temem
e os livrará. Ora aos justos Simeão e Ana a natividade de Cristo não se
manifestou pelos anjos. Logo, nem aos pastores devia ter-se manifestado pelos
anjos. Item. - Parece que também aos Magos não devia ter-se manifestado pela
estrela.
3. — Pois, o facto de o ter seria
ocasião de engano para os que pensam que os astros influem no nascimento dos
homens. Ora, aos homens devem poupar-se-lhes as ocasiões de pecar. Logo, não
era conveniente que a natividade de Cristo fosse manifestada por uma estrela.
4. Demais. — Um sinal há-de ser segura
manifestação de uma realidade determinada. Ora, unia estrela não é sinal certo
da natividade. Logo, a natividade de Cristo manifestar-se por uma estrela era
inconveniente.
Mas, em contrário, a Escritura: As obras de Deus são perfeitas. Ora, a
referida manifestação foi obra divina. Logo, realizou-se pelos sinais
convenientes.
Assim como a demonstração
silogística nós a fazemos partindo do que nos é mais conhecido, assim o que se
nos manifesta por sinais deve apoiar-se em sinais, que nos sejam mais
familiares. Ora, é claro que aos varões justos é familiar e habitual serem
ensinados pela inspiração interna do Espírito Santo, sem manifestação de sinais
sensíveis, ou seja, pelo espírito de profecia. Ao contrário, os dados às causas
corpóreas são conduzidos ao inteligível pelo sensível. Ora, os Judeus estavam
habituados a receber as determinações divinas por ministério dos anjos,
mediante os quais também receberam a lei, segundo a Escritura: Recebestes a lei por ministério dos anjos.
Ao passo que os gentios, e sobretudo os astrólogos, estavam habituados a
observar o curso dos astros. Por isso aos justos Simeão e Ana, manifestou-se a
natividade de Cristo por inspiração interior do Espírito Santo, segundo o
Evangelho: Havia recebido resposta do
Espírito santo, que ele não veria a morte sem ver primeiro ao Cristo do Senhor.
Mas aos pastores e aos Magos, como dados as causas materiais, a natividade de
Cristo manifestou-se por aparições visíveis. E como a sua um sinal. E assim
como o Senhor, quando lá falava, o anunciaram, aos gentios, pregadores, por
meio da palavra, assim, enquanto ainda não falava foi anunciado pelos elementos
mudos. Mas Agostinho dá ainda a razão seguinte: A Abraão foi-lhe prometida uma sucessão inumerável, que devia ser
gerada, não por via seminal, mas pela fecundidade da fé. Por isso foi comparada
à multidão das estrelas, para que fosse esperada uma progénie celeste. E eis
porque os gentios designados pelas estrelas, são advertidos, pelo nascimento de
um novo astro, a se darem a Cristo, que os tornará filhos de Abraão.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Precisa de manifestação o que em si mesmo é oculto, mas não o que já por si é
manifesto. Ora, ao passo que o corpo de Cristo se tornou manifesto pela sua
natividade, a sua divindade permanecia oculta. Por isso foi convenientemente
manifestada a sua natividade pelos anjos, que são os ministros de Deus. Donde o
anjo ter aparecido resplendente de luz, para mostrar que quem tinha nascido era
o esplendor da glória paterna, no dizer do Apóstolo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Os justos não
precisavam de nenhuma aparição visível dos anjos, mas bastava-lhes a inspiração
interior do Espírito Santo, para a sua perfeição.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A estrela, que
manifestou a natividade de Cristo, não deu lugar a nenhuma ocasião de erro.
Pois, como diz Agostinho, nenhum
astrólogo jamais ensinou que o destino dos homens, ao nascerem, estivesse de
tal modo dependente das estrelas, que por ocasião do nascimento de um deles,
ela abandonasse o seu curso normal, para projectar-se sobre o recém-nascido,
como se deu com a estrela que manifestou o nascimento de Cristo. O que,
pois, não vinha confirmar o erro daqueles que pensam depender a sorte dos que
nascem ao curso dos astros, mas não creem que podem mudar o seu curso, para
anunciar a natividade de um homem. – E semelhantemente como diz Crisóstomo, não é a função da Astronomia saber, por meio
das estrelas, quais os recém-nascidos, mas, predizer o futuro desde, hora da
natividade. Ora, os Magos não conheceram o tempo da natividade para,
partindo daí, desvendarem o futuro pelo movimento das estrelas; mas antes, ao
contrário.
RESPOSTA À QUARTA. — Como refere
Crisóstomo, em algumas escrituras apócrifas lê-se que um certo povo do extremo
Oriente, nas margens do Oceano, possuía um escrito, com a assinatura de Set,
referindo-se à estrela, de que tratamos, e aos dons que deviam ser oferecidos
ao recém-nascido. E esse povo, esperando atentamente o momento do nascer a estrela,
tendo destacado, para o saber, doze observadores, que, em tempos determinados,
subiam indefectivelmente a um monte, do Alto do qual enfim a descobriram,
deixando de aparecer como a figura de um menino e, acima, a semelhança de uma
cruz. Ou devemos dizer com um autor: Os referidos Magos seguiam a tradição de
Balaão, que disse - A estrela nascerá de
Jacob. Por isso vendo eles uma estrela extraordinária entenderam ser essa a
que Balaão profetizou que haveria de anunciar a vinda do Rei dos Judeus. Ou
podemos dizer, com S. Agostinho, por alguma advertência dos anjos, concernente
à revelação, os Magos souberam que uma estrela: havia de manifestar o
nascimento de Cristo. E provavelmente, dos bons anjos, pois, o adorarem a
Cristo já lhes redundava em benefício sua da salvação. Ou, como ensina Leão
Papa, além daquela aparição que lhes feria a visão corpórea, o raio mais
refulgente da verdade enriqueceu-lhes os corações com a iluminação da fé.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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